Reduzindo a Ação das Causas da Morte
Kali Prasanna Mukerji
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Nota Editorial:
Há alguns eixos centrais em torno dos quais giram os ensinamentos
da teosofia original – aquela filosofia esotérica que permanece livre de
contrabandos e imitações. Um desses eixos centrais é a noção de que
o ser humano, assim como o planeta Terra e o Universo, é setenário,
isto é, possui sete níveis ou princípios de consciência. O ser humano
é um resumo do universo, e há uma correspondência direta (embora
complexa e não mecânica) entre os sete princípios da sua consciência
individual e os sete princípios da consciência universal. Os princípios da
consciência humana individual são: 1) Sthula-sharira, o corpo físico.
2) Prana, a vitalidade. 3) Linga-sharira, os arquétipos sutis que captam
e conduzem a vitalidade para a construção e preservação do corpo
físico segundo um padrão coerente e carmicamente adequado; isso
inclui o patrimônio genético, mas o transcende, incluindo outros
registros cármicos. 4) Kama, o centro dos sentimentos animais e das
emoções de apego e rejeição. 5) Manas, o princípio mental, dual,
ora voltado para o plano superior, ora voltado para o plano inferior
da existência. 6) Buddhi, a alma espiritual, a inteligência universal,
o princípio crístico e búdico, a compaixão impessoal, a sede da
intuição superior. E, 7) Atma, o princípio supremo e universal, uma
centelha impessoal da luz espiritual do cosmo. O artigo a seguir
foi publicado pela primeira vez na edição de março de 1891
(pp. 50-51) da revista “Lucifer”, editada por H. P. Blavatsky em
Londres. A palavra “Lúcifer” significa “portador da luz” e é um antigo
nome pré-cristão do planeta Vênus, a estrela sagrada do amanhecer
e do anoitecer. O termo tem sido distorcido por uma teologia
autoritária que é responsável pela tortura e pelo assassinato – ritualizados
e feitos em nome de Deus – de centenas de milhares de pessoas, desde
a Idade Média até a primeira parte da idade moderna. Titulo original
do artigo: “Kama and Yoga”. Embora as práticas citadas no texto não
devam ser seguidas todas num sentido literal nos países ocidentais, o conteúdo
do artigo aborda de modo correto temas de importância essencial em teosofia.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Qualquer pessoa que quiser progredir em assuntos espirituais deve voltar sua atenção para Kama, o princípio do desejo no ser humano.
No Bhagavad Gita, nós vemos este “princípio” ou “aspecto” ser mencionado repetidamente. Ele é o “grande inimigo”, “a estrada para Naraka”, “o grande obstáculo para Gnanam”[1], e assim por diante.
Parece haver dois modos de vencer o Kama inferior. O primeiro é enfraquecê-lo, e o segundo é colocá-lo a serviço dos princípios superiores.
O primeiro modo, em seu aspecto superior, é chamado de Nivritti Marga (literalmente, “o Caminho da Renúncia”). Ele inclui vários processos, parte dos quais é chamada de Pranayama (literalmente, “dominar, ou vencer, Prana”). Prana, neste contexto, é a vida cármica ou inferior no homem. A verdade é que nós só podemos transferir nossas energias de um princípio para outro quando temos perfeito controle sobre eles.
A diferença entre o prayanama dos praticantes de Hatha Ioga e o pranayama dos Raja-Iogues é muito grande. Os Raja-Iogues não praticam a “supressão da respiração externa”. O que eles buscam é a união de Prana com o Apana, isto é, a união da vida ou alento inferior com a vida e o alento superiores, como é mencionado no Gita.
Em todas as práticas de Ioga, duas coisas devem ser observadas:
1) O Iogue deve obedecer a certas regras no exercício diário dos seus deveres; e
2) Ele deve realizar certas práticas ocultas [2] em horários estabelecidos, assim como um homem doente precisa obedecer a certas regras higiênicas e tomar determinados remédios em intervalos regulares, se quiser recuperar-se da sua doença.
Os melhores horários para estas preparações ocultas, meditações, etc., são o amanhecer, o meio-dia, o entardecer e a meia-noite, e a postura usual (Ásana) para o iniciante é a encontrada frequentemente nas estátuas do Senhor Buddha, cujo nome é Padmásana.
Bhakti Ioga é o processo pelo qual Kama é colocado a serviço dos nossos princípios superiores. Neste tipo de Ioga, também é necessário observar certas regras de vida, que inicialmente não são tão severas como as do verdadeiro Raja-Iogue, e que seguem certas práticas ocultas a certas horas. Na mais comum delas, o praticante coloca em sua tela mental a imagem do seu GURU, Prapti.
O primeiro preceito do Bhakti Iogue pode ser encontrado num belo verso sânscrito que diz o seguinte:
“Deves ser mais humilde que a grama, mais paciente que as árvores; não deves exigir respeito para ti; mas deves respeitar os outros, e falar sempre sobre ELE.” [3]
É só através de uma completa vitória sobre o Eu Inferior, na verdade a nossa Personalidade Kâmica, que podemos ter a esperança de escapar do “sofrimento tríplice” da prisão na “Roda de Sangsara”[4], o ciclo do nascimento e da morte. Seja qual for o caminho que escolhermos, devemos manter sempre em vista este objetivo, se quisermos fazer progresso na caminhada espiritual.
“Kama”, diz um verso, “nunca é enfraquecido pela indulgência, mas sempre se fortalece através dela, como um fogo que aumenta quando recebe material combustível”.
Alguns poderão dizer que tais esforços em busca de progresso espiritual são apenas uma forma sutil de egoísmo, mas isso não é verdade. Um homem que está a se afogar não pode salvar outro homem ameaçado de afogamento. Como podemos alimentar a esperança de ajudar de fato a humanidade, a menos que tenhamos êxito ao controlar este Kama, e assim, êxito em vencer a morte? Porque a verdadeira causa da nossa morte é este Kama, chamado de Mara ou Maraka (o Destruidor). Este arqui-inimigo em nós “se esconde, e cobre de pó o espelho de nosso Gnanam”, o espelho no qual se reflete o Sol Espiritual. Este inimigo não deve ser alimentado; ele deve ser dominado ou destruído, se quisermos escapar da eterna destruição do Moinho de Sangsara.
NOTAS:
[1] Gnanam: ou Jnana, Conhecimento. (CCA)
[2] Em teosofia, “oculto” é aquilo que transcende os cinco sentidos físicos e se refere à alma imortal. Práticas ocultas são práticas destinadas a ampliar o contato com os princípios mais elevados da consciência. Assim, “Ocultismo” não é “a arte de esconder coisas”, mas constitui “a Ciência pela qual se estuda e se conhece aquilo que está oculto aos cinco sentidos e pertence ao mundo do eu superior, para o qual não existe a morte. (CCA)
[3] Em teosofia, o GURU é, sobretudo, o princípio universal e impessoal, Atma, o “pai do céu” de que fala o Jesus do Novo Testamento. (CCA)
[4] Roda de Sangsara: A roda de Samsara, a roda da existência cármica e da reencarnação obrigatória. (CCA)
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