Para Compreender Melhor a Filosofia Esotérica
Helena P. Blavatsky
Helena P. Blavatsky (1831-1891)
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Nota Editorial:
O texto a seguir foi traduzido de “Theosophical
Articles”, uma coletânea de artigos de H.P. Blavatsky
publicada em três volumes pela Theosophy Co., em
Los Angeles, em 1981. Ver volume I, pp. 484-487.
Título original: “Mistaken Notions on the Secret
Doctrine”. Em português, o texto apareceu pela primeira
vez na edição de março de 2011 de “O Teosofista”.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Depois da publicação de “A Doutrina Secreta”, estudantes de Teosofia (fora do círculo das Ciências Ocultas) reclamaram afirmando que os ensinamentos contidos na obra não os satisfazem. Um deles, mencionando o longo e radical ataque contra a obra por parte de um antigo e brutal inimigo, embora na realidade insignificante, faz críticas a mim por ter aberto a porta a tal crítica ao dar pouca atenção à ciência moderna e ao pensamento moderno. Outro reclama dizendo que minhas explicações não são completas. Em consequência disso, segundo ele:
“Há dez anos tenho sido um leitor atento da literatura teosófica. Li e reli ‘A Doutrina Secreta’ e reuni passagens da obra, e é desanimador ver que em algumas das suas melhores explicações sobre pontos ocultos, logo que os assuntos começam a ficar um pouco mais compreensíveis, as explicações são prejudicadas por referências a alguma filosofia ou religião exotérica, que interrompem a sequência do raciocínio e deixam a explicação inacabada. (…) Podemos entender partes, mas não podemos obter uma ideia sucinta, particularmente dos ensinamentos sobre Parabrahm (o Absoluto), e dos Primeiro e Segundo Logos, Espírito, Matéria, Fohat, etc., etc.”
Este é o resultado direto e natural da ideia muito errada de que eu tive a intenção de compatibilizar a obra que chamei de “Doutrina Secreta” com a Ciência moderna, ou de explicar “pontos ocultos”. Eu estava e ainda estou mais preocupada com fatos do que com hipóteses científicas. Meu principal e único objetivo era salientar que os princípios básicos e fundamentais de cada religião e filosofia exotérica, seja antiga ou nova, são do começo ao fim apenas ecos da “Religião da Sabedoria”. Procurei mostrar que a ÁRVORE DO CONHECIMENTO, assim como a própria Verdade, era Uma; e que, embora a folhagem e os galhos mais finos diferissem em forma e cor, o tronco e seus galhos principais eram parte da mesma antiga Árvore, em cuja sombra se desenvolveu e cresceu a filosofia religiosa das raças que precederam nossa atual humanidade na terra, e que agora é esotérica.
Acredito que realizei este objetivo, até onde ele podia ser realizado, nos dois primeiros volumes de “A Doutrina Secreta”. [1] Não é a filosofia oculta dos ensinamentos esotéricos que eu tratei de explicar ao mundo em geral, porque assim, a qualificação de “Secreta” teria se tornado como um segredo do polichinelo, gritado desde o palco. O objetivo era simplesmente compartilhar aquilo que podia ser compartilhado, e compará-lo com as crenças e dogmas das nações passadas e atuais, mostrando a fonte original desses dogmas e como eles foram desfigurados. Se minha obra é – nessa época de suposições materialistas e iconoclastismo universal – demasiado prematura para as massas de profanos, tanto pior para as massas. Mas ela não é demasiado prematura para os estudantes dedicados de Teosofia, exceto, talvez, aqueles que esperavam que um tratado sobre correspondências tão complexas como as que existem entre as religiões e as filosofias de um Passado quase esquecido, de um lado, e as da época moderna, de outro lado, pudesse ser lido como uma história policial barata, comprada numa banca de estação ferroviária. Mesmo cada sistema de filosofia, seja o de Kant ou de Herbert Spencer, de Spinoza ou de Hartmann, exige mais do que um estudo de vários anos. Não é, então, natural que uma obra que compara várias dúzias de filosofias e mais de meia dúzia de religiões do mundo; uma obra que tem que revelar as origens com a maior das precauções, uma vez que ela pode apenas sugerir aqui e ali as florações secretas, seja impossível de compreender numa primeira leitura, e mesmo após várias leituras, a menos que o leitor elabore, por si mesmo, um sistema para abordar o tema?
O fato de que isto pode ser feito e é feito é mostrado por “Dois Estudantes da Escola Esotérica”. Eles estão agora sintetizando a “Doutrina Secreta”, e o fazem da maneira mais lúcida e abrangente, nesta revista.[2] Como todo mundo, eles não entenderam essa obra imediatamente depois de lê-la. Mas se lançaram ao trabalho com total determinação. Eles a indexaram eles mesmos, classificando os conteúdos em duas partes: o exotérico e o esotérico; e tendo realizado esse trabalho preliminar, eles agora apresentam a parte exotérica para os leitores em geral, enquanto guardam a parte esotérica para sua própria aprendizagem prática e seu benefício. Por que motivo cada teosofista decidido não deveria fazer o mesmo?
Há várias maneiras de se adquirir conhecimento: (a) aceitando-se cegamente as afirmações da igreja ou da ciência moderna; (b) rejeitando a ambas e começando a procurar a verdade por si mesmo. O primeiro método é fácil e leva à respeitabilidade social e ao aplauso das pessoas; o outro é difícil e exige mais do que uma simples devoção à verdade, um desinteresse pelos benefícios pessoais diretos e uma perseverança inabalável. Assim era no passado e assim é agora, com a exceção, talvez, de que tal devoção à verdade é hoje mais rara do que era antigamente. De fato, a resistência do estudante oriental moderno a pensar por si mesmo é agora tão grande quanto as exigências e as críticas dos ocidentais, quando se trata de examinar o pensamento dos outros.
O ocidental exige e espera que seu “Caminho” seja construído com todos os artifícios egoístas do conforto moderno, pavimentado, projetado com ferrovias rápidas e telégrafos e mesmo telescópios, através dos quais ele possa, enquanto confortavelmente sentado, pesquisar as obras de outras pessoas; e enquanto as critica, procura o caminho mais fácil para fazer de conta que é Ocultista e Estudante amadorístico de Teosofia.
O “Caminho” real para o conhecimento esotérico é muito diferente. Sua porta é coberta pelos arbustos espinhosos da negligência. As caricaturas da verdade, durante longas eras bloqueiam o caminho, e o caminho é obscurecido pelo desprezo orgulhoso da autossuficiência e com cada verdade distorcida até ficar fora de foco. Atravessar sozinho o portal exige um trabalho de anos, incessante, frequentemente sem recompensas, e uma vez do outro lado do portal, o cansado peregrino tem que avançar arduamente a pé, porque a trilha estreita leva a alturas aparentemente inalcançáveis da montanha, não medidas e desconhecidas, a não ser para aqueles que já alcançaram antes os picos ocultos por nuvens. Assim, ele deve escalar passo a passo, tendo que conquistar com seus próprios esforços cada centímetro do chão à sua frente, movendo-se para adiante, guiado por estranhos pontos de referência cujo significado ele só pode determinar decifrando as inscrições castigadas pelo mau tempo, deterioradas, enquanto ele segue; porque ai dele se, em vez de estudá-las, ele fica friamente inativo e as define como “indecifráveis”. A “Doutrina do Olho” é maya; só a Doutrina do “Coração” pode fazer dele um eleito.
Deveria ser surpreendente que tão poucos alcancem o objetivo, que muitos sejam chamados, mas poucos sejam escolhidos? Será que a razão disso não está explicada no início da parte II de “Voz do Silêncio”? A obra diz que, enquanto os seguidores da Doutrina do Olho repetem com orgulho, “Vejam, eu sei”, aqueles que recolheram conhecimento com humildade confessam em voz baixa; “assim eu ouvi”; e deste modo tornam-se os únicos “escolhidos”.
NOTAS:
[1] H. P. B. se refere aqui aos dois volumes da edição original em inglês. Só eles foram publicados. O terceiro e o quarto volume estavam inéditos quando ela morreu, ainda não concluídos, e nunca apareceram. A edição brasileira, com seis volumes, reproduz a edição adulterada por Annie Besant e publicada por ela em 1897. A própria Sociedade de Adyar voltou a adotar em 1978 a edição original em dois volumes, aceitando, implicitamente, que a edição de Annie Besant não tem legitimidade. A edição original ainda não foi traduzida ao português. (CCA)
[2] O artigo acima foi publicado inicialmente na revista “Lucifer”, em Londres, na edição de junho de 1890. A palavra “Lúcifer” significa “portador da luz” e é usada desde a antiguidade como nome do planeta Vênus, a estrela d’alva e estrela vespertina. A palavra tem sido distorcida desde a idade média por teólogos interessados em dominar os povos através do medo e da superstição. (CCA)
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Veja em nossos websites associados a tradução que está sendo publicada gradualmente da edição original de “A Doutrina Secreta”.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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