O Tempo Constitui Um Recurso Natural Valioso
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
A Arte de Planejar  o Futuro
 
A intenção correta funciona como uma bússola na arte de construir o futuro
 
 
 
Qualquer momento é adequado para planejar com atenção o uso do tempo. É preciso, no entanto, ter a capacidade interior de observar com calma o ritmo atual das nossas atividades, para então decidir onde e como modificar a rotina e usar da melhor forma possível esse recurso limitado e de enorme valor.    
 
“Águas passadas não movem moinho”, afirma o ditado. De fato, o tempo pode ser considerado um recurso natural em grande parte não-renovável. O uso correto do misterioso tempo – talvez o mais valioso dos recursos naturais – é um dos grandes desafios do cidadão em todas as épocas.  Vivemos hoje sob a ditadura dos relógios, e a sensação de que o tempo é curto é quase universal nos dias atuais. Somos interrompidos a todo momento em algumas das nossas atividades.  Por isso nem sempre é fácil viver profundamente ou descobrir que, como almas espirituais, teremos o tempo eterno à nossa disposição, se  usarmos com alguma sabedoria o tempo miúdo de curto prazo.   
 
Apesar dos obstáculos criados pela nossa própria ignorância, é provavelmente possível para cada um de nós planejar e usar o tempo de modo mais inteligente. 
 
A solução está em definir um rumo próprio para nossas vidas e em não nos deixar levar para lá e para cá pelas pressões de curto prazo. Um dos primeiros passos talvez seja descrever por escrito, em um caderno de anotações, as metas dos próximos doze meses, ou da próxima década. O mero ato de escrever parece dar mais clareza às nossas ideias. Mas é essencial, também, fazer periodicamente uma avaliação dos resultados obtidos, revisando e atualizando as metas a partir dos fatos novos e da experiência adquirida. Planejamentos eficientes são flexíveis e abertos às possibilidades do futuro, incluindo as agradáveis e as não-agradáveis.
 
O tempo é parcialmente renovável, porque é cíclico. Ao longo do seu desdobramento, velhas oportunidades ressurgem renovadas, em determinadas ocasiões. Mesmo assim, é melhor aproveitar este recurso limitado da melhor maneira possível. Aos poucos, esse esforço nos dará uma visão clara e capaz de identificar e aproveitar as oportunidades ocultas que estão o tempo todo ao nosso redor; e também reconhecer as grandes oportunidades que só se apresentam em certos momentos especiais.   
 
Se já sabemos qual é nossa meta central nesta vida, um cálculo realista das forças de que dispomos para alcançá-la mostrará que, na verdade, o uso correto do tempo depende, em grande parte, da nossa autoestima profunda.
 
Sem um grau suficiente de autoconfiança e de respeito por nós próprios – no plano profundo do ser mas também no plano emocional e mental – somos facilmente arrastados pelos estímulos ou desestímulos externos. 
 
Tentamos sinceramente viver com sabedoria, mas nos falta a estrutura necessária para manter um curso firme diante das pressões violentas que nos lançam para um lado e outro. Esse problema tem solução: podemos aumentar nossa autoestima pouco a pouco. A tarefa é essencial, porque “tempo é ritmo”. Se não dermos um ritmo próprio e relativamente constante à nossa vida, a dispersão e a perda de tempo impedirão qualquer progresso real e o tempo passará quase em vão.    
 
É claro que uma parte importante de nós necessita da aprovação dos outros.  Isto é normal e saudável.  A aprovação da nossa própria consciência, porém, é ainda mais importante. A autoestima profunda dá segurança emocional, diminui a ansiedade, permite tomar serenamente decisões importantes, e nos torna capazes de emitir e distribuir pensamentos positivos ao nosso redor, estabelecendo laços de apoio mútuo com outras pessoas.  Sentimos tranquilidade, porque o nosso subconsciente nos diz que nosso tempo e nossa energia vital estão sendo bem empregados.
 
Mas a presença de uma autoestima profunda se reflete ainda de outras maneiras. Vejamos algumas delas.  A autoestima se mostra:
 
* pela capacidade de ficar sozinhos com nós mesmos; 
 
* pelo prazer de examinar carinhosamente nossa vida, observando nossos erros e decidindo não repeti-los, identificando nossos pontos fortes e decidindo aperfeiçoá-los ainda mais;
 
* pela tranquilidade e decisão necessárias para planejar e preparar psicologicamente as nossas atividades futuras.
 
* pela capacidade de, conhecendo de fato a si mesmo, esquecer então  a si mesmo e pensar nos outros seres  e na humanidade. 
 
Se você tem respeito pela vida, vale a pena pensar e decidir qual é a melhor maneira de usar seu tempo. Ninguém pode viver por você: portanto, a decisão sobre como levar adiante sua vida é exclusivamente sua, embora você deva levar em conta o bem-estar dos outros. 
 
Muitas vezes será necessário frustrar as expectativas alheias, ou ser indiferente em relação ao jogo de conveniências externas.  Será necessário até parecer antipático a alguns, para que você possa manter em funcionamento três funções básicas:
 
a) ouvir seu coração;
b) obedecer à voz da sua consciência;
c) ser coerente consigo próprio.
 
Para usar bem o tempo, é essencial diminuir os desejos pessoais e fazer com que eles sejam coerentes entre si.  A quantidade excessiva de desejos – frequentemente contraditórios e anulando-se uns aos outros – é uma doença dos tempos atuais e produz a falsa sensação de que o tempo é curto. Quando queremos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, não podemos realizar nada direito.  A multiplicação dos desejos, na verdade, anda junto com a ausência de uma autoestima profunda.
 
Como todo ser humano, cada um de nós tem muitos talentos e possibilidades diversas. Mas o cidadão sensato escolhe os talentos que desenvolverá e dá uma prioridade definida a eles, ao invés de fazer tentativas confusas em todas as direções, com a vaga expectativa de “ver qual dará certo”.
 
Aquele que tem metas claras e coragem de planejar sua vida raramente é prisioneiro de dúvidas ou escravo das incertezas. Planejar é um modo de meditar e de visualizar o futuro, criando no plano ideal as realidades que você deseja ver, e colocando em funcionamento as forças mentais e materiais que realizarão o sonho.  
 
Depois de definir suas necessidades básicas e seus desejos mais elevados,  basta trabalhar em função da meta. Ao longo da caminhada, faça simultaneamente três coisas:
 
1) Visualize o melhor;
2) Mantenha o pensamento positivo, sem negar os obstáculos;
3) Evite a dispersão das forças. 
 
Também é útil avaliar a possível utilidade das seguintes recomendações:
 
* Defina metas e ações que sejam não só desafiadoras e estimulantes, mas realistas. Elas devem ser suficientemente difíceis para que você tenha de usar todas as suas forças e todo seu talento. Ao mesmo tempo, devem ser alcançáveis, pelo menos em parte, para que você não caia no desânimo nem desista na metade.
 
* Estabeleça metas flexíveis e abra espaço em seu planejamento para as vitórias parciais. Uma tentativa honesta, intensa, já deve ter o mérito de estabelecer um saldo favorável. Evite qualquer sistema de metas que só tenha duas opções – a vitória total e o fracasso completo. Considere que, do ponto de vista espiritual, a única derrota é não tentar.
 
* Não queira mudar sua vida em todos os aspectos de um momento para outro. Faça do tempo o seu melhor amigo. A verdade sempre ganha no final: seja verdadeiro e o tempo trabalhará para você. Um esforço duradouro e suave pode ser o melhor caminho para a vitória.
 
* A prática mostra que, a longo prazo, só valem a pena as metas altruístas, cujos resultados são ao mesmo tempo bons para nós e bons para os outros. Um objetivo que inclui a derrota de outras pessoas, ou que não é obtido de modo ético e correto, acaba trazendo contraindicações que, mais adiante, causam arrependimento e um fracasso muito maior do que a aparente vitória inicial.
 
* A astrologia – inclusive a astrologia chinesa – pode revelar aspectos importantes dos padrões vibratórios de diferentes momentos e etapas. Os ciclos e trânsitos de Saturno, por exemplo, têm influência decisiva na vida de cada um de nós. A análise dinâmica da influência deste planeta ajuda a compreender o foco central de uma vida, ao longo das suas várias etapas.  Este é apenas um exemplo e a boa astrologia tem muitas utilidades no planejamento de uma vida vista como processo de aprendizado espiritual.
 
 * Uma avaliação correta das nossas forças, qualidades e limitações é essencial para que possamos planejar com realismo. Escolha alguns amigos como conselheiros e testemunhas do seu esforço. Estabeleça um sistema de controle de qualidade dos seus esforços, através do diálogo com eles.
 
A título de exemplo, faço a seguir o esboço de um esquema para possíveis metas pessoais. Não se trata de um planejamento mecânico, mas de um exercício para despertar a consciência da sua responsabilidade sobre sua vida. Leve em conta que os prazos do planejamento devem incluir os vários ciclos do tempo: o dia, a semana, o ano, a década, até a vida inteira. É claro que os objetivos definidos para os próximos doze meses serão diferentes das metas para os próximos sete anos ou a próxima década, mas todos são importantes como sinais visíveis da sua potencialidade interior.   
 
O sistema de metas também deve incluir os objetivos a serem alcançados até o final da vida, os quais devem ser mais interiores do que externos. O planejamento da vida inteira tem um papel importante no despertar da nossa alma imortal – do nosso potencial maior – e também aumenta nossa eficácia no curto prazo. Mas devemos dar a nós próprios a liberdade de reexaminar e escrever com outras palavras, a cada ciclo de tempo, nossas metas de longo e de curto prazo.  
 
O fato de observar a mudança e a evolução dos nossos objetivos de longo prazo nos traz lições valiosas e revela aspectos fundamentais do nosso aprendizado. Todo planejamento deve ser sempre objeto de exame crítico e de revisão periódica. É assim que ele se fortalece: permanecendo aberto aos fatos novos. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de possíveis metas em várias áreas da vida.
 
1) Metas Físicas
 
A) Manter e melhorar a saúde.  Exemplos de ações: Aprender tai-chi-chuan? Caminhar pelo parque todo domingo? Andar de bicicleta? Melhorar a alimentação? De que modo?
 
B) Melhorar a situação econômica e material. Exemplos de ações: fazer uma poupança mensal? Anotar, controlar e reduzir os gastos? Evitar novas dívidas? Comprar bens? Quais? Reformar a casa? Sucesso financeiro?
 
2) Metas Profissionais
 
A) Realizar certo objetivo naquela área específica. Exemplos de ações: abandonar alguma outra meta para concentrar mais energias nesta direção? É necessário investir dinheiro? É possível construir parcerias? Quais?
 
B) Criar um planejamento estratégico no trabalho. Exemplos de ações: avaliar a caminhada até aqui? Consultar amigos e colegas? Procurar alternativas e possibilidades de mudança na área profissional?
 
3) Metas Emocionais
 
A) Mais harmonia naquele determinado relacionamento. Ações: quais gestos de boa vontade (um não basta) podem ser feitos? Que nova atitude pode ser adotada? Que ações concretas para romper os hábitos e padrões negativos de ação e reação mútuas? Que novas maneiras de enfrentar as situações negativas que vêm se repetindo?
 
B) Mais paz interior. Ações: separar quanto tempo, em que horário, para estar regularmente sozinho consigo mesmo? Para planejar suas ações? Para escutar música? Para ler bons livros e textos sobre teosofia, filosofia, psicologia? Examine se você tem autoestima suficiente para fazer isto.
 
4) Metas Intelectuais
 
A) Aprender um idioma. Ações: Matricular-se em um curso? Comprar um livro?
 
B) Fazer um curso, despertar uma nova habilidade qualquer. Ações: identificar e abandonar rotinas de desperdício de tempo que tornam aparentemente difícil realizar este potencial. 
 
C) Ler aquele livro que está na estante. Ações: separar uma hora para um exame sério do livro, e determinar, então, se sua leitura é prioritária. Caso ela seja, separar alguns minutos por dia para isto.
 
5) Metas Espirituais
 
A) Diminuir os compromissos, para ter mais tempo e poder vivenciar melhor a sabedoria eterna. Possíveis ações: limitar os objetivos econômicos e externos e optar por uma vida simples, com menos complicações.
 
B) Meditar e refletir diariamente sobre a vida. Com horário e método definidos, embora flexíveis. Ações: dormir mais cedo e assim levantar mais cedo, para meditar sem pressa antes de começar as atividades do dia. 
 
C) Estudar lenta e calmamente, todos os dias, escrituras sagradas de diversas religiões e  filosofias. 
 
Embora cada um deva fazer seu próprio esquema de metas, não há nada de errado em pedir a opinião de pessoas próximas, que querem sinceramente o nosso bem, ou que têm mais experiência e sabedoria. Ouvir opiniões não diminui nossa liberdade, mas amplia o horizonte e revela novos dados sobre como os outros nos veem e sobre nossas possibilidades. É algo que estimula um diálogo profundo e verdadeiro com os amigos. 
 
Todo ser humano cria sua própria felicidade e seu sofrimento, e faz isto de dois modos: consciente ou inconsciente. O processo é consciente quando você assume o comando da sua vida, mas é inconsciente quando se deixa arrastar pelas pressões externas e tendências de curto prazo.
 
O fato de você definir seus objetivos e escolher como prefere chegar até eles o colocará gradualmente no comando da sua vida e o tornará mais feliz. Você deixará de reclamar das situações, dos outros ou de si mesmo, e perderá a falsa sensação de que o tempo é “demasiado curto”. Na verdade, o  tempo só parece curto quando não está sendo bem usado.
 
Há três trunfos e três instrumentos básicos para aquele que ousa enfrentar o teste do tempo. Eles são:  A) um  objetivo de vida nobre; B) uma mente aberta, e  C) um coração perseverante.  
 
Um quarto instrumento, igualmente significativo, é planejar o uso das suas forças. E este instrumento traz uma chave-mestra para o êxito e a felicidade.
 
De fato, uma das melhores maneiras de conhecer o futuro consiste não em “saber”, mas em  definir como ele será, naquilo que depende de você. E isso se faz com ajuda do bom planejamento e da ação correta. O que se planta, se colhe, mais cedo ou mais tarde. 
 
O tempo é surpreendente e misterioso na sua passagem. Às vezes ele parece ser conservador, e outras vezes atua como um revolucionário. Ele pode evitar mudanças durante um longo período, apenas para fazê-las de modo mais profundo, depois.
 
Isto também ocorre na busca espiritual. Ela costuma ser lenta e árida durante muito tempo, até que chegue a hora de você colher – talvez, em um único instante –  os bons frutos de todos os  esforços anteriores.   
 
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O artigo acima foi publicado nos websites associados em abril de 2014.
 
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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
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A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de  2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de Amazon Books.
 
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