Por Que Abandonei as ‘Obras Fantásticas’ Para
Estudar os Ensinamentos dos Mestres e de H.P.B.
Ailton Santoro
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Ailton Santoro é membro da Sociedade
Teosófica de Adyar no Brasil desde 1988.
Atualmente preside a Loja Rio de Janeiro.
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Quando o aspirante ao estudo da filosofia esotérica chega a alguma loja da Sociedade Teosófica em busca de respostas aos seus questionamentos, é invariavelmente apresentado a uma literatura “introdutória” de autores da chamada “segunda geração”.
A finalidade declarada é familiarizar o iniciante com as ideias básicas do pensamento teosófico a fim de que, mais tarde, seja possível a leitura dos livros de Helena P. Blavatsky, principalmente de A Doutrina Secreta, a obra-prima da Teosofia, considerada pela maioria dos membros “difícil” ou “hermética”.
Naturalmente, esta condução inicial é vista como a melhor a ser oferecida ao principiante, que é sempre tratado com carinho e respeito. Não há aqui nenhuma crítica pessoal a este processo: apenas a constatação da aplicação de uma didática consagrada pelo tempo, que posterga indefinidamente o estudo das obras fundamentais da verdadeira teosofia, rotulando-as de excessivamente difíceis.
Minha chegada à Loja Rio de Janeiro seguiu o mesmo roteiro. Li obras de autores consagrados na Sociedade. Destes, os mais prolíficos foram Annie Besant e Charles Webster Leadbeater. Através de seus livros, frutos de alegadas investigações clarividentes, conhecemos temas tais como iniciações, religiões orientais, Mestres de Sabedoria, hierarquias planetárias, química oculta, corpos e planos sutis, espíritos da natureza, vidas passadas e muito mais, tudo com tamanha riqueza de detalhes que temos a impressão de que não há nenhum assunto para o qual não haja resposta.
O universo do fantástico, do sobrenatural e do inusitado foi apresentado a nós, e a ele foi dado o nome de “Teosofia”.
Passado algum tempo, e considerando que tinha suficiente familiaridade com os conceitos aprendidos, passei a analisar as obras de HPB, acreditando a princípio que tudo o que lemos previamente encontraria endosso e aprofundamento em seus escritos, principalmente na Doutrina Secreta.
Mas, para minha surpresa, o que encontrei nelas foi bem diferente. Tinha diante de mim uma cosmovisão baseada em diversas tradições filosóficas milenares, tanto orientais quanto ocidentais, sem espaço para opiniões pessoais extravagantes, descrições de experiências psíquicas ou assemelhados. Da mesma forma, os conceitos básicos apresentados na teosofia clássica eram diferentes dos conceitos de Leadbeater e Annie Besant; alguns, como os princípios humanos, estavam em clara oposição. Assuntos que eram detalhadamente descritos na “teosofia de segunda geração” encontravam ali pouca ou nenhuma menção. Eu tinha encontrado uma explanação da realidade espiritual que exigia esforço e dedicação para ser apreendida. E mesmo esta apreensão era processada aos poucos, organicamente, de modo que os ensinamentos se desdobram em outros, mais completos, mais sutis. Tinham vida. Eram transformadores. Entendi então que ali estava a Teosofia, e não no que eu tinha conhecido antes.
Na Doutrina Secreta não há apelo à nossa credulidade, mas um convite a ir além do significado das palavras e enxergar nas entrelinhas da linguagem mítico-poética dos slokas e dos comentários. O enfoque do estudo tem que ser intuitivo, não dialético; interior, não intelectual e discursivo. A partir daí, sucedem-se os insights e a consciência se expande. Principia o contato com níveis mais profundos do ser.
Outro momento importante neste processo foi a publicação das Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett em língua portuguesa pela Editora Teosófica. Fomos apresentados a elas pelo irmão Carlos Cardoso Aveline em 2002, quando o convidamos para uma exposição de seu conteúdo em um encontro de dois dias na Loja Augusto Bracet, no Rio de Janeiro.
Seu estudo demoliu em nós outra ilusão, a dos “Santos Mestres”, com toda a carga devocional que a imagem deles possuía para nós e que nos fora transmitida anteriormente. Tínhamos as Cartas dos Mestres de Sabedoria, editadas por Jinarajadasa, mas estas, ainda que importantes, não possuem a força da sabedoria sempre crescente que a cronologia das Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett oferece. Suas páginas dão o testemunho da sabedoria não de santos, mas de homens sábios, filósofos eminentes, transmissores de uma ética superior que conhecem a natureza humana por inteiro, sem segredos. Ensinam as possibilidades de seus aspectos superiores, mas não negam as limitações de seus aspectos inferiores; antes, ensinam como tais limitações podem ser transmutadas em forças úteis ao progresso da Alma.
Eles se esforçaram por transmitir e adequar uma mensagem atemporal de sabedoria às formas limitadas das linguagens ocidentais, representadas pelos dois ingleses que foram seus correspondentes, deixando um tesouro inestimável de conhecimento para o mundo.
A partir de então chegamos a um novo patamar na busca do conhecimento sagrado.
Decidi que a literatura teosófica original, tal qual deixada por Helena Blavatsky e pelos dois Mahatmas, seria o meu objeto de estudo. A decisão não foi um fato isolado. Graças a circunstâncias cármicas inspiradoras, faço parte de uma loja que desde o ano de 2002 vem estudando apenas a teosofia clássica.
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O artigo acima foi publicado originalmente na edição de dezembro de 2017 de “O Teosofista”, pp. 5-6.
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Sobre a evolução histórica do movimento teosófico no Brasil, veja nos websites associados os artigos “Breve Histórico da Teosofia no Brasil”, “Leadbeater Diz Que Matou Brasileiros”, “Bispo Católico Visita Plantações em Marte”, “A Teosofia no Brasil”, “Besant Anuncia Que é Mahatma”, “Origem do Movimento Teosófico no Brasil” e “A Fraude da Escola Esotérica”.
Outros exemplos de textos de interesse em nosso acervo online: “Carta de Seidl Para Gervásio, Sem Data”, “Como Surge a Loja Rio de Janeiro”, “Krishnamurti e a Teosofia”, “Fabricando um Avatar”, “Celebrando o Dia Oito de Maio”, “Krishnamurti e as Ilusões Besantianas”, “O Racismo em Nome da Teosofia”, “A Teosofia e a Segunda Guerra Mundial” e “Prelúdio Para Um Irmão Que Parte”.
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