A Posição de um Sábio
Diante dos Problemas do Mundo
Malba Tahan
Um templo chinês
O príncipe Hi-Chang-Li era vaidoso e fútil. Um dia, ao regressar de um passeio em companhia de vários amigos, encontrou Confúcio. O venerável filósofo, sentado na laje de um poço, meditava tranquilo.
– Eis uma oportunidade feliz – declarou o príncipe. – Consultemos esse famoso pensador sobre as dúvidas que nos ocorreram durante a excursão.
Um dos mandarins aproximou-se de Confúcio e interrogou-o:
– Em que consiste, ó esclarecido filósofo!, a verdadeira Caridade?
– Em amar os homens! – foi a resposta.
– E a Ciência?
– Em conhecer os homens!
– E o Erro?
– Em confiar nos homens!
– E qual a arte mais difícil?
– Governar os homens!
Ao ouvir aquelas respostas, disse o príncipe, em voz baixa, ao mandarim:
– Noto que o velho retórico insiste em formular as respostas da mesma forma, relacionando-as, invariavelmente, com os homens. Irrita-me essa preocupação maníaca. Pretende, com certeza, divertir-se à vossa custa. É preciso interrogá-lo de modo que ele se veja obrigado a modificar o estribilho.
– Nada mais simples – rosnou, entre dentes, o mandarim.
– Podes dizer-me, ó eloquente filósofo!, quantas estrelas há no céu?
Respondeu o Mestre:
– São tantas quantos os pecados, erros, defeitos e impertinências dos homens!
E, depois de proferir tais palavras, levantou-se vagaroso e afastou-se dos indesejáveis arguidores.
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“Malba Tahan” é o nome literário do professor Júlio César de Mello e Souza (1895-1974).
O conto “O Príncipe e o Filósofo” foi publicado em nossos websites associados dia 18 de outubro de 2018. A narrativa é reproduzida do livro “Maktub!”, de Malba Tahan, 11ª Edição, 1964, Ed. Conquista, Rio de Janeiro, 220 pp., ver pp. 199-200. A ortografia foi atualizada.
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