Examinando o Dever e a Tarefa
do Movimento Teosófico no Brasil
 
 
C. Jinarajadasa
 
 
 
O teosofista brasileiro Caio Lustosa Lemos
(à esquerda) e C. Jinarajadasa (1875-1953)
 
 
 
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Nota Editorial de 2018:
 
O texto  seguir é reproduzido da revista
O Teosofista”, maio-agosto de 1934, pp.
110 a 112. Foi escrito por C. Jinarajadasa
 em Belém do Pará, quando encerrava uma
visita ao Brasil. Embora partilhasse das ilusões
pseudoteosóficas criadas por Annie Besant, C.J.
sempre manteve respeito por Helena Blavatsky
e pelos ensinamentos diretos dos Mestres de
Sabedoria. Além disso, ensinou ética e altruísmo,
dois aspectos centrais da filosofia esotérica autêntica.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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Passei três meses e meio no Brasil, um espaço de tempo muito longo consagrado a um só país, em minhas viagens teosóficas. Concentrei-me no Brasil, não visitando nenhum dos outros países como o Uruguai, a Argentina ou Chile, onde existem lojas teosóficas. Porque consagrei tanto tempo ao Brasil?
 
Por depender da pujança da Sociedade Teosófica no Brasil o crescimento da Sociedade em todos os outros países da América do Sul. Em razão da instantânea resposta que no Brasil encontram todas as expressões de Fraternidade; e em virtude de sua gentileza de caráter, que ama a beleza, as forças sutis do Mundo Oculto mais rapidamente se podem manifestar no Brasil do que nos outros países. Por muitas razões que não posso explanar aqui, o Brasil e, especialmente, o Rio de Janeiro, sua capital [1], são centros distribuidores de inspiração oculta para toda a América do Sul.
 
Os teosofistas do Brasil muito têm a fazer. Um dos seus muitos trabalhos é mostrar a toda a América do Sul o que é um Ocultismo puro. Já existe muito Ocultismo impuro; este é preconizado por todos os ensinamentos que inculcam o desenvolvimento de poderes ocultos e omitem qualquer referência ao dever, para o homem, de servir os seus semelhantes. Os teosofistas devem proclamar com voz bem clara que, de certo, existem no homem os poderes ocultos e podem ser desenvolvidos por vários modos, mas, que todos os poderes ocultos, assim como os dons intelectuais ou artísticos, não são para o engrandecimento do eu pessoal e sim para serem usados em benefício e para o soerguimento do Todo. Há milhares de pessoas que se estão voltando para as coisas ocultas, mas, não sabem discernir entre o ensinamento bom e o mau. Os teosofistas devem estabelecer o padrão do verdadeiro Ocultismo, cujos poderes apenas são usados para o serviço do homem.
 
Os teosofistas do Brasil têm ainda outro importante trabalho diante de si. Li ultimamente as seguintes palavras de Órris Soares no “Elogio de Augusto dos Anjos”:
 
“Na América do Sul há uma distância clamorosa entre o homem de letras e o público. No Brasil, o caso se extrema – insignificante minoria profundamente culta e um vasto oceano de (…).”
 
“Além de tudo, entre nós, o homem de pensamentos tem que ser triste porque se educa com livros estrangeiros, ideias estrangeiras, coisas estrangeiras, e vive num meio ainda longe de assimilar os frutos das poderosas civilizações.” [2] 
 
A serem verdadeiras estas duas asserções, é ao teosofista que cabe mudar esse estado de coisas.
 
1. – Quanto à distância entre a minoria culta e as massas: ensinai às massas as verdades simples da Teosofia, guiando-as à compreensão do Plano Divino, e elas se tornarão cultas. A maior universidade do mundo, com todas faculdades possíveis das mais altas expressões de cultura – é a Teosofia. Não é o conhecimento de línguas, nem a mera técnica em alguma ciência ou arte, que constitui a cultura. Esta é o conhecimento, pela alma, do Plano de Deus [3] e de suas manifestações no homem e na Natureza.
 
2. – A Índia e a Grécia deram-nos grandes mensagens, mas, não é preciso ir a estes países para compreender a grandeza da vida. A grandeza está aqui – no Brasil. Porém, o brasileiro somente a descobrirá, quando os olhos lhe forem abertos pela Teosofia. Então não precisará ir à Índia ou à Grécia para descobrir a verdade; descobrirá a Verdade aqui, e apenas irá à Índia ou à Grécia para encontrar EXEMPLOS de como a Verdade foi realizada na vida. Um homem de pensamento não precisa ser “triste”, no Brasil, porque, uma vez que descubra a Teosofia, não mais estará vivendo uma filosofia importada do estrangeiro, e sim uma filosofia nascida em solo brasileiro.
 
Os teosofistas do Brasil devem ORGANIZAR o Brasil. Devem provar, por meio de seu autossacrifício, de sua visão e de seu idealismo, que são os melhores brasileiros existentes no país.
 
De nós também deve ser dito que
 
“Nosso céu tem mais estrelas,
Nossa vida mais amores”
 
porque o nosso céu não é somente o céu visível, mas também o invisível e a nossa vida tem mais amor em si, porque vemos Deus em todos os nossos semelhantes, em toda flor e em todo pássaro, em todo rio e em toda nuvem, e O amamos e O adoramos.[4]
 
Essa é a vasta tarefa do teosofista do Brasil.
 
Belém do Pará, 10 de agosto de 1934,
 
C. Jinarajadasa
 
NOTAS DE 2018:
 
[1] O Rio de  Janeiro foi capital do Brasil desde 1822 até o ano de 1961, quando a capital foi transferida para Brasília. (CCA)
 
[2] Veja o ensaio “Elogio de Augusto dos Anjos”, de Órris Soares, no volume “Augusto dos Anjos – Obra Completa”,  Ed. Nova Aguilar, 883 pp., Rio de Janeiro, 2004, p. 72.  (CCA)
 
[3] A teosofia original esclarece: os Deuses “monoteístas” são ilusões muito humanas, que obedecem aos  interesses materiais das diversas igrejas e seitas. Veja os artigos “Mestres Ensinam Que Não Há Deus” e “Carta de Prayag – a Dimensão Sutil da Crença em Deus”. Em teosofia, a palavra “Deus” só pode ser usada sem erro no sentido impessoal de Lei do Universo, de Eu Superior,  ou com o significado de “coletividade de inteligências divinas”.  (CCA)
 
[4] “Deus”, aqui, significa a lei universal. A personalização de um “deus único” é uma forma infeliz de autoilusão, frequente na pseudoteosofia. Sobre a crença ilusória em deuses monoteístas criados por seitas, veja a nota anterior. (CCA)
 
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O artigo acima  foi publicado em nossos websites associados dia  27 de outubro de 2018. A foto que ilustra o artigo é reproduzida de “O Teosofista”,  edição de maio-agosto de 1934, página de abertura.
 
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Em 14 de setembro de 2016, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um futuro saudável
 
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