A Teosofia Só Pode Existir em
Mentes Solidárias e Corações Honestos
Carlos Cardoso Aveline
Para George Orwell (1903-1950), o autossacrifício era algo natural
No século 19 assim como no século 21, muitos pedem para ser admitidos em círculos teosóficos sem jamais perguntarem a si mesmos como gostariam de ajudar o projeto altruísta.
O fenômeno é examinado em uma Carta escrita por um Mahatma em 1880.[1] Apesar do alerta do Mestre, desde então o problema tornou-se mais grave.
Em grande número dos casos, os que procuram por “iniciações” têm um enorme entusiasmo por si mesmos e são completamente indiferentes, em seus corações, quanto ao futuro da humanidade.
Estão cegos.
Alguém deveria dizer a eles que não há teosofia alguma no território das intenções neuróticas ou egoístas. A teosofia só pode existir em mentes solidárias e corações sinceros, e há conclusões práticas a tirar desse fato.
Para reduzir o problema da cegueira egocêntrica, os exemplos vivos de altruísmo devem ser valorizados e mantidos como algo visível. Vale a pena mencionar um episódio concreto. A vida inteira de Eric Blair, ou George Orwell, foi um exercício de idealismo e autoesquecimento. O autossacrifício era algo natural para ele. Orwell sobreviveu por pouco tempo à Segunda Guerra Mundial, e sua esposa não chegou a ver o fim do conflito.
O crítico literário Tom Hopkinson escreve:
“No último ano da guerra, a esposa de Orwell morreu, perdendo as forças depois de uma pequena operação cirúrgica. Ele disse, a um amigo que o visitou, que a causa provável disso era a fraqueza geral em que ela estava: tanto ele como sua esposa haviam passado consistentemente sem as suas rações alimentares, ‘para que houvesse mais comida para outras pessoas’.” [2]
Este não foi um fato isolado na vida do escritor.
E ainda hoje milhões de pessoas são invisivelmente altruístas nos mais diferentes lugares.
Naturalmente, a energia da generosidade traz perigos e oportunidades. Ela deve ser usada com justiça: o discernimento é indispensável. O cidadão altruísta apoia aquilo que merece ser apoiado, preserva o que é valioso, e coíbe o que precisa ser reduzido ou eliminado.
NOTAS:
[1] Um Mestre de Sabedoria constatou: “…A [Sociedade Teosófica] britânica não dá praticamente um só passo adiante. Seus membros pertencem à Fraternidade Universal, mas só de nome, e gravitam no melhor dos casos para o quietismo, uma paralisia completa da alma. São intensamente egoístas em suas aspirações e colherão apenas a recompensa de seu egoísmo.” (“Cartas dos Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, volume I, pp. 75-76.)
[2] “George Orwell”, um livreto de 40 pp. escrito por Tom Hopkinson, publicado no Reino Unido por Longmans, Green & Co. para “National Book League” em 1953. Ver p. 29. Orwell era o nome literário de Eric Blair.
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O texto acima foi publicado como item independente nos websites associados dia 27 de julho de 2020. Uma versão inicial do artigo faz parte da edição de junho de 2017 de “O Teosofista”, pp. 11-12. Ali não é indicado o nome do autor. Título original: O Poder de Pensar no Outros”.
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