Mudança Não Traz Sempre Progresso, e
Progresso Nem Sempre Provoca Mudança
 
 
Visconde de Figanière
 
 
 
O Visconde de Figanière nasceu em 02 de outubro de 1827
 
 
 
O “absoluto” é deveras o silêncio perpétuo da filosofia, ou um mero non liquet [1], situado além da desesperada incapacidade da linguagem de dar plena expressão ao pensamento.
 
O mundo dos fenômenos é a instabilidade mesma; o que está sempre em vias de ser, sem nunca ser, deixando de ser o que foi e o que será, conforme a expressão de Schopenhauer. Sim, falta aí alguma coisa; coisa essencialíssima, o ser; o que está sempre, o que desconhece a mudança, sem o qual a matéria não seria realizável no espaço e no tempo; o que tem cem nomes, sem que nenhum lhe seja próprio e exclusivo, a não ser a PALAVRA PERDIDA. Entre aquilo e a eternidade há equipolência. (Vide Apêndice, Nota C, I)
 
A Filosofia Esotérica traz a ordem das coisas mais ao alcance das nossas luzes, enunciando que os fenômenos são sujeitos a alternações, sendo resultados do envolvimento e da evolução, e acabando pela dissolução; e que a curva dos ciclos, sob todos os seus aspectos, tem a essência não do círculo, mas da espiral (Vide parágrafo 30, g., onde se diz o porquê). Segue-se do primeiro postulado que a vida cósmica é finita; e do segundo, que há progresso, sendo este infinito.
 
A mudança não envolve necessariamente o progresso; e embora o progresso pressuponha mudança de alguma ordem, progresso não é mudança. Se a eternidade é independente do repouso e da atividade, a mudança está no tempo (fenômeno); mas se o progresso é infinito, a realidade do progresso está fora do tempo (númeno). Embora esteja sujeito à relação, o verdadeiro progresso (que todavia não é progresso real) difere do progresso relativo. O último é mudança progressiva; pertence-lhe ser atual. O primeiro nunca deixa de ser potencial, porque a sua realidade é o plano ou estado eterno. O verdadeiro progresso realiza-se no meio, ou na potência, de futuras manifestações; nenhuma outra mudança conhece senão o grau.
 
Quando a potência chega a enteléquia [2] a posse ad actum – a mudança nos fenômenos é progressiva. O poder é indestrutível, mas nada vale fora da relação; ao passo que o resultado da mudança progressiva é uma causa final. O círculo, com que se costuma figurar o infinito, é também apto a simbolizar o verdadeiro progresso; conserva a propriedade do círculo, fosse qual fosse a circunferência, representando esta o grau de progresso atingido. A espiral, dentro do círculo, seria emblema da mudança progressiva; o contido mede-se, limita-se pelo fator que o abrange, sendo todavia tão infinito quanto é infinita a potência do círculo em ampliar a circunferência.
 
Desejo não ser mal compreendido: o círculo não representaria a eternidade, mas a realidade condicionada (estado manifesto) que, tendo ação no tempo, não tem poder no eterno; pois que a realidade incondicionada desconhece o potencial. Oportunamente ficará mais claro o meu propósito. Dizem os Ocultistas que o progresso no indivíduo – isto é, no ego individualizado – consiste no melhoramento do upadhi – ou seja, do veículo – de maneira que o Logos ou Atma – o ego cósmico – possa usar o dito upadhi com crescente eficácia até que o indivíduo “morra no logos”, extinguindo-se o upadhi.
 
NOTAS:
 
[1] Non liquet – expressão do antigo direito romano. Aplica-se aos casos em que o juiz deixa de julgar porque a lei não oferece meios de avaliar ou enquadrar os fatos em questão. (CCA)
 
[2] Enteléquia: o estado de perfeição máxima de um processo criativo ou de um processo de evolução. Termo de Aristóteles. (CCA)
 
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O pensador português Visconde de Figanière (1827-1908) foi discípulo direto de Helena Blavatsky e é o maior pioneiro da teosofia moderna em língua portuguesa. Sua obra merece especial atenção por parte da Loja Independente de Teosofistas.
 
O fragmento acima – cujo parágrafo final contém uma alusão à conquista do adeptado – foi reproduzido das páginas 50 e 51 da obra “Submundo, Mundo, Supramundo”. Sua publicação como item independente nos websites associados ocorreu no aniversário de Helena Blavatsky dia 12 de agosto de 2020. Na transcrição, a ortografia foi atualizada. Algumas palavras caídas em desuso foram substituídas por sinônimos usados no século 21.
 
O retrato de Figanière é uma cortesia de www.EliotsofPortEliot.com para “The Aquarian Theosophist” e seus websites associados. A autorização para publicar a foto original foi concedida ao Aquarian dia 10 de agosto de 2020.
 
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Em 14 de setembro de 2016, depois de uma análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu criar a Loja Independente de Teosofistas. Duas das prioridades da LIT são tirar lições práticas do passado e construir um futuro saudável.
 
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