O Que os Mestres dos Himalaias
Pensam das Obras de Eliphas Levi
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
No século 19, um Mestre da Sabedoria do Oriente escreveu sobre Eliphas Levi, o famoso cabalista ocidental que nasceu na França em 1810:
 
“Exceto pelo fato de que ele constantemente usa os termos ‘Deus’ e ‘Cristo’, que vistos esotericamente significam simplesmente ‘Bem’ – no seu duplo aspecto do abstrato e do concreto, e nada mais dogmático que isto – Eliphas Levi não está em nenhum conflito direto com nossos ensinamentos.” [1]
 
Mais adiante, na mesma carta, o Raja Iogue dos Himalaias pergunta por que motivo “…se deveria pensar que o que é dado por Eliphas Levi e exposto por H.P. Blavatsky [2] está ‘em conflito direto’ com meu ensinamento. E.L. é um ocultista e um cabalista, e ao escrever para aqueles que supõe conhecerem os rudimentos dos princípios cabalísticos, usa a fraseologia peculiar da sua doutrina, e H.P.B. faz o mesmo.” [3]
 
Tendo isso em consideração, vejamos agora o que Eliphas Levi tem a dizer sobre o judaísmo e sobre a relação futura entre judeus e cristãos. Referindo-se ao mundo ocidental, ele escreve:
 
“O judaísmo é a mais antiga, a mais racional e a mais verdadeira das religiões. Jesus, que se propunha reformar o judaísmo, não aconselhou seus discípulos a abandoná-lo. A reforma de Jesus, não tendo sido aceita pelos chefes da Sinagoga, cuja legítima autoridade nunca foi contestada pelo mestre cristão, foi uma espécie de heresia que invadiu o mundo inteiro.”
 
As palavras acima são muito claras.
 
Eliphas prossegue:
 
“Inicialmente maltratados pelos judeus, os cristãos, quando o poder passou a ser deles, colocaram os judeus fora da lei e os perseguiram com insistência extremamente covarde e vergonhosa. Queimaram-lhe os livros ao invés de estudá-los, e a preciosa filosofia dos hebreus ficou perdida para o mundo cristão”.
 
Neste ponto, ele acrescenta uma profecia: 
 
“Os apóstolos, no entanto, pressentiram que o sacerdócio dos gentios duraria apenas um certo tempo ou que a nova fé perderia forças algum dia. Disseram então: a salvação nos chegará de Israel, e a grande revolução religiosa que nos reaproximará de nossos pais será como uma passagem desde a morte para a vida.”
 
Escrevendo no século 19, Eliphas sugere portanto que a salvação do Ocidente em última instância depende de saber aprender humildemente com a sabedoria judaica, e fazer uma aliança com os judeus, e com Israel.
 
Uma profecia não revela um fato: ela aponta para uma possibilidade. No entanto, faz sentido pensar que o Carma indescritivelmente negativo de séculos de antissemitismo deve ser enfrentado e removido em suas Causas; deve ter destruídas as suas raízes, antes que o Ocidente e o Oriente Médio consigam dar um novo passo na sua evolução espiritual – e sociológica. Esta não parece ser uma tarefa histórica que o Ocidente possa evitar.
 
Eliphas escreve:
 
“Os hebreus possuem uma ciência cuja existência era suspeitada por São Paulo, e que São João, iniciado por Jesus, ocultou e revelou ao mesmo tempo com os imensos hieróglifos do Apocalipse, tomados por empréstimo na maior parte dos casos da profecia de Ezequiel.” [4]
 
Comentários significativos. Mas podemos perguntar: “Até que ponto o que Eliphas Levi escreve é teosófico?”
 
Naturalmente ele cometeu erros. Por outro lado, os mestres que criaram o movimento teosófico observavam de perto e ajudavam o seu trabalho, que foi, informalmente, parte da preparação para o estabelecimento do movimento teosófico moderno, em Nova Iorque, em 1875.
 
O mesmo mestre citado acima escreve na Carta 70C:
 
“Para reconciliar você ainda mais com Eliphas, eu lhe mandarei um certo número de manuscritos dele que nunca foram publicados, em uma letra grande, clara, bonita, com meus comentários ao longo dos textos. Nada melhor do que isto para dar a você a chave dos enigmas cabalísticos.” [5]
 
Eliphas tinha acesso a fontes exclusivas de conhecimento e sabedoria. O próprio mestre participou de cerca de “meia dúzia” de reuniões com Eliphas e alguns outros Ocultistas em Londres em torno de 1860, conforme o Mahatma escreve em uma carta.[6] No entanto os livros de Eliphas não são sempre fáceis de ler, e exigem um estudo cuidadoso. O instrutor oriental esclarece:
 
“…O pouco que me é permitido explicar pode, espero, resultar mais abrangente que a Haute Magie de Eliphas Levi [7]. Não é de estranhar que você o considere nebuloso, pois nunca foi destinado ao leitor não-iniciado. Eliphas estudou os manuscritos Rosacruzes (agora reduzidos a três exemplares na Europa). Estes expõem nossas doutrinas orientais com base nos ensinamentos de Rosencreuz, que, após o seu regresso da Ásia, as revestiu com uma roupagem semicristã, com a intenção de proteger os seus discípulos da vingança clerical. Deve-se ter a chave para elas, e esta chave é em si mesma uma ciência.” [8]
 
O Raja Iogue deixa claro que Eliphas Levi, embora imperfeito, estava em contato com uma Sabedoria verdadeira:
 
“…Quando você se queixa de ser incapaz de compreender o que Eliphas Levi quis dizer, isto ocorre só porque você, como tantos outros leitores, não conseguiu achar a chave para a sua maneira de escrever. Com uma observação atenta, você verá que nunca foi intenção dos Ocultistas esconder realmente dos estudantes ardorosos e determinados o que eles tinham estado escrevendo, mas sim guardar a sua informação, por razões de segurança, em um cofre seguro cuja chave é a intuição. O grau de diligência e zelo com que o estudante busca o significado oculto é, em geral, o teste de até que ponto ele está qualificado para a posse de um tesouro tão enterrado.” [9]
 
Existe, no entanto, uma estreita relação entre o judaísmo e o pitagorismo. O mestre afirma:
 
“Falando de ‘imagens’ e ‘números’, Eliphas Levi se dirige aos que sabem algo das doutrinas pitagóricas. Sim; algumas delas resumem toda a filosofia e incluem todas as doutrinas. Isaac Newton compreendeu-as bem, mas reteve o seu conhecimento, com muita prudência, pensando em sua própria reputação (…).” [10]
 
À medida que tratamos de compreender o momento atual da evolução humana e da transição planetária, estes são alguns pontos a avaliar, com relação a fatores complexos como Israel, o Ocidente – e a sabedoria oriental. 
 
Parece não ser uma afirmação sem base, mas sim um fato objetivo, que a Terra de Israel e a sua sabedoria divina detêm uma chave significativa para o futuro espiritual da civilização do Ocidente.
 
NOTAS:
 
[1] Carta 70C, página 325 do volume I, em “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001.
 
[2] Na primeira vez em que HPB é mencionada, uso o sobrenome completo dela nesta transcrição.
 
[3] Carta 70C, p. 328, volume I, em “Cartas dos Mahatmas”, obra citada.
 
[4] “As Origens da Cabala”, Eliphas Levi, Ed. Pensamento, SP, 137 pp., ver prefácio, p. 9. A tradução foi examinada e comparada com a edição da obra em inglês, sendo melhorada em alguns termos. Ver “The Book of Splendours”, by Eliphas Levi, Appendix by Papus, foreword by R. A. Gilbert, The Aquarian Press, Wellingborough, Northamptonshire, Great Britain, Copyright 1973/1981, 191 pp.,  p.15.
 
[5] Carta 70-C, volume I, p. 334, “Cartas dos Mahatmas”,  Ed. Teosófica, Brasília.
 
[6] Sobre as reuniões, veja a Carta 11, vol. I, p. 76 de “Cartas dos Mahatmas”. A respeito do ano em que elas aconteceram, leve-se em conta que na página 75 o Mestre diz que as reuniões foram feitas “há cerca de vinte anos”. Já que a carta do Mestre é de dezembro de 1880, podemos deduzir que as reuniões foram em torno de 1860.
 
[7] “Haute Magie”, Alta Magia, em francês. O livro foi publicado no Brasil pela Editora Pensamento, sob o título “Dogma e Ritual da Alta Magia”. (Nota da edição brasileira das “Cartas dos Mahatmas”)
 
[8] Carta 20, pp. 131-132 do volume I de “Cartas dos Mahatmas”.
 
[9] Carta 49, p. 231, volume I, “Cartas dos Mahatmas”.
 
[10] Carta 20, p. 132 do volume I de “Cartas dos Mahatmas”.
 
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O texto acima foi publicado nos websites associados dia 16 de abril de 2021 e é uma tradução do artigo “A Prophecy on Judaism and Christianity”, de CCA, publicado em “The Times of Israel”.
 
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