Por Que a Ação Construtiva Deve Ser Prioridade
Carlos Cardoso Aveline
* Os direitos de autor devem ser respeitados, e nenhuma forma de roubo fica impune. A lei do carma não abre exceções: o primeiro castigo do mentiroso é afastar a si mesmo da percepção honesta dos fatos. O insincero perde inevitavelmente contato com a verdade, devido à dinâmica concreta da sua desonestidade.
* A verdade em si é abstrata. Ela está além das palavras e não pertence com exclusividade a pessoa alguma. Pertence igualmente a todos os que são sinceros: cedo ou tarde, eles a conhecerão.
* A mesma verdade universal pode ser descrita de diferentes maneiras e desde ângulos variados.
* Aquilo que é eterno não pode estar sob controle do que é passageiro. O oposto, sim, constitui um fato. Todos os seres honestos pertencem à Verdade. As entidades temporárias existem – uma e outra vez – no espaço ilimitado do eterno.
* Os acontecimentos exteriores formam o que os Sábios chamam de “mundo dos efeitos”. A filosofia esotérica ensina como atuar de modo responsável no “mundo das causas”. O reino interno e causal está em nossas almas. Para produzir o tipo certo de efeitos, cabe tomar decisões acertadas em relação ao que depende de nós. E isso raramente é tão fácil quanto parece, porque requer que tenhamos uma meta elevada, desapego, e discernimento.
* A vontade abstrata de fazer algo pode ser o suficiente para tomar uma decisão. Em seguida, porém, é preciso colocar em movimento energias mais concretas, de modo a criar os efeitos desejados. A distância entre a intenção e o gesto deve ser observada. Dentro de nós, diferentes níveis de consciência tendem a obedecer a vários interesses. A clareza de visão raramente é absoluta, mas pode ser aumentada todos os dias.
* Nas comunidades humanas assim como na psicologia individual, há uma vasta diferença entre paz e estagnação. O motivo disso está no fato de que harmonia não inclui indulgência. Uma cooperação durável entre as pessoas só pode ser preservada pela prática da ação correta, durante uma busca paciente e compartilhada de metas legítimas.
* Os instintos cegos e as emoções desorientadas promovem dolorosos altos e baixos na vida. Aquele que busca a sabedoria precisa ter força para ignorar as ilusões do prazer e da dor de curto prazo, e cumprir seu dever, seguindo o caminho do meio. Ele trilha o caminho do equilíbrio.
* Quando a satisfação pessoal não é uma meta em si mesma, alcançamos o bom senso. A sabedoria teosófica é como a água pura em condições naturais: é insípida, inodora, incolor, e não tem forma externa rígida.
* Há uma bênção em contemplar a sabedoria expressada nos contos populares das diferentes nações. Narradas com palavras simples, as melhores histórias tradicionais falam diretamente à alma. Elas podem ser encontradas na literatura da Índia, de Israel, da Rússia, da Grécia antiga, da China e outros países. Elas mostram ao mesmo tempo a diversidade cultural e a unidade interna dos seres humanos.
* A busca do que é politicamente correto forma uma rede viva de ilusões, interconectadas pelo apoio comum à falta de realismo. Deste modo surge a ignorância coletivamente organizada. Como superar as formas cegas de vida? Um grau de indiferença a vitória e derrota aparentes permite que um indivíduo desperte, e escute sua própria alma.
* O ser humano nasce para adquirir um discernimento espiritual crescente do que é certo e errado. A alma de cada cidadão é amiga de todos os seres. Ao mesmo tempo, ela rejeita as centenas de formas de ignorância e egoísmo em qualquer tempo e lugar. A cada ser que acorda e se ergue, o bom senso ganha mais força.
* Quando o trabalho humanitário se baseia em uma visão de curto prazo dos fatos, a ansiedade e a busca de metas superficiais tendem a predominar. Na ação de longo prazo, por outro lado, é possível ver os frutos do esforço e há tempo suficiente para corrigi-lo. Então não é criado apenas um conjunto de resultados. Surge um processo inteligente de produção de carma novo. Em um tal processo de desenvolvimento, podemos aprender mais e melhor. Ao identificar os erros e deixar de fazê-los, aperfeiçoamos constantemente o esforço.
* Mais importante do que exigir alguma coisa é ter a iniciativa de agir de modo acertado. Cobiça, raiva, ambição e desejos exagerados provocam ações cegas, levando à desarmonia social. Ordem, por outro lado, só pode existir quando há moderação. A simplicidade voluntária resulta do desapego, e de um sentimento interno de independência diante das circunstâncias. Então experimentamos um contentamento durável que ao invés de obedecer à lógica do mundo externo, guia o mundo exterior e o ilumina, preservando a nossa liberdade no plano da alma e do pensamento.
Agindo no Mundo das Causas
* Quando você age em perfeita paz e com a necessária calma sobre aspectos essenciais da realidade, tudo se coloca em movimento a seu devido tempo na direção adequada. Não vale a pena trabalhar demasiado rápido, porque a aceleração artificial afasta o indivíduo dos fatos essenciais e o leva para o terreno da mera aparência. Aqueles cuja meta é profundamente valiosa não têm motivo para viver com grande pressa.
* A paz de espírito resulta do tipo certo de interação entre a mente e o centro das emoções. Um silêncio interno é necessário para que os pensamentos sejam escutados no mundo emocional. A ausência de ruído torna possível que os sentimentos sejam compreendidos no território das ideias. Um desapego diante das situações externas de curto prazo permite que o coração e a mente do indivíduo olhem para o mundo desde o ponto de vista da “escada” para o céu, antahkarana.
* Nem tudo é uniforme quando a vida se reorganiza através de uma mudança rápida e profunda nas marés do carma. Em ocasiões especiais, cabe agir com força e avançar de modo decisivo na alteração de estruturas de pensamento e de ação em diversos aspectos da vida. Assim que uma nova forma de evolução do carma foi definida em suas premissas e seus alicerces, chega o momento para uma relativa pausa nos aspectos externos do esforço, de modo que as linhas subsidiárias de ação e reação possam adotar novos ritmos e ciclos, e adaptar-se à alteração dos limites e dos condicionamentos. Cada vez que agimos no mundo das causas, devemos dar um certo tempo para que o mundo dos efeitos se adapte, antes que a ação renovadora receba outro impulso.
A Sociologia da Ação Inteligente
* George Orwell escreveu sobre a relação direta entre a pobreza da nossa linguagem diária e a superficialidade da capacidade de pensar. Uma força política baseada em falsidades naturalmente boicota o debate honesto através do uso do insulto e de estímulos às emoções exacerbadas. Visa tornar impossível o uso adequado do cérebro dos cidadãos, para assim ocultar os seus erros e, em muitos casos, crimes.
* Por outro lado, as forças políticas sérias e que não estão envolvidas com a mentira sistemática preservam uma linguagem equilibrada, explicam as suas ações, ouvem os adversários honestos e estimulam o uso do raciocínio sereno por parte da população, porque confiam na verdade. A prática do ataque pessoal e as expressões de ceticismo sistemático em relação ao país não fazem parte da lucidez política e, além disso, indicam a presença de insinceridade.
* A experiência acumulada dos povos, assim como a experiência dos indivíduos, aponta na mesma direção do que é ensinado pelas escrituras de diferentes religiões: a ação construtiva deve ser prioridade, a ação destrutiva não deve ser prioridade. É indispensável manter as emoções elevadas e os pensamentos solidários. Cabe preservar, com firmeza, o hábito de agir criativamente.
* É mais fácil derrubar uma árvore do que plantá-la e cuidar do seu crescimento. Desprezar o que existe, porque talvez não corresponda às nossas expectativas, é um gesto baseado no sentimento de frustração e não traz bons frutos.
* O rancor é mau conselheiro, mas a gratidão produz felicidade. Melhorar o que existe é sábio.
* Construir desde o início o que terá grande valor é adequado. Plantar uma floresta tem mérito. A solidariedade guia os seres humanos na direção da paz. A sabedoria da alma os faz despertar para a cooperação, e o exemplo prático do que é correto constitui a melhor maneira de eliminar os erros.
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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho – 35” foi publicado como item independente em 16 de setembro de 2021. Uma versão inicial e anônima dele faz parte da edição de julho de 2017 de “O Teosofista”, pp. 10-12.
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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