Reflexões Sobre a Arte de Agir com Justiça
Carlos Cardoso Aveline
À esquerda, o rei Salomão consagra o Templo de Jerusalém: pintura de James
Tissot (Fonte, Wikipedia). À direita, o Monte do Templo em Israel no século 21.
A sabedoria antiga não é vista como algo novo, é claro – a menos que tenhamos olhos para ver e para perceber aquilo que nasce uma e outra vez a cada instante.
Qual é exatamente o prazer – neste caso – de reexaminar a sabedoria divina presente nos provérbios de Salomão?
Cabe observar com calma a substância interna da paz obtida quando se lê aquelas linhas. Qual é a profundidade do nosso contentamento? E como podemos fazer com que ele dure?
Em Provérbios (3: 13), Salomão, o filho do rei Davi, afirma:
“Feliz o homem que encontrou a sabedoria,
o homem que alcançou o entendimento.”
A ideia de sabedoria corresponde ao termo grego “Sophia”, que simboliza às vezes uma deusa. A sabedoria eterna revela a beleza da vida e da alma espiritual, e Salomão prossegue:
“A sabedoria vale mais do que a prata,
E o seu lucro é maior que o lucro do ouro.
É mais preciosa que as pérolas.
Todos os teus bens valem menos que ela.
À direita dela está a vida longa;
À sua esquerda, a riqueza e a honra.
As maneiras de ela atuar são agradáveis,
E todos os caminhos dela, pacíficos.
É uma árvore da vida para quem a alcança,
E feliz é aquele que se mantém junto dela.”
Alcançar a doce Sabedoria é a verdadeira meta da vida. Para isso, é preciso viver em consonância com a Lei da Simetria que dá a cada um aquilo que ele semeia. Salomão faz uma advertência:
“Temer o Senhor é o começo do conhecimento;
Os tolos desprezam a sabedoria e a disciplina.”
(Provérbios, 1:7)
O significado da expressão “temer o Senhor” é simples. A ideia é “temer a Lei”. E ter medo da Lei é o mesmo que temer as consequências dos nossos próprios erros. Em outras palavras, significa ter Prudência.
Alcançar o conhecimento divino não é tarefa fácil.
Em certas épocas, os “tolos” que não têm ética nem espiritualidade são muitos, e fica difícil encontrar pessoas sábias. Este não é um problema insuperável. Alguns poucos seres humanos justos podem fazer a diferença criando tendências saudáveis no comportamento humano, que irão expressar a sabedoria sagrada e produzirão no tempo certo um sentido compartilhado de justiça.
De acordo com a teosofia, o Universo nasce uma e outra vez, durante uma sucessão interminável de eternidades. Tanto o Cosmos como as almas humanas reencarnam. Cada Cosmos tem os seus próprios períodos simétricos de atividade e repouso, os seus “Dias e Noites de Brahmâ”, como diz o hinduísmo, os seus “manvântaras e pralayas”. E no entanto o Conhecimento Divino não morre nunca.
A Sabedoria é anterior ao nosso planeta.
É mais velha que os céus que conhecemos. Salomão afirma que o cosmos foi feito a partir do Conhecimento Sagrado:
“O Senhor fundou a Terra com a Sabedoria,
E firmou o céu com o entendimento.
Por seu Conhecimento foram abertos os abismos,
E as nuvens destilaram o orvalho.” [1]
A sabedoria, na Terra, é inseparável da ética e da justiça. O egoísmo individual provoca o pensamento viciado pelo desejo, que distorce a realidade. Enquanto tivermos uma visão distorcida dos fatos, é impossível conhecer a verdade ou obter sabedoria.
Ética é a expressão do conhecimento sagrado no mundo externo. Ética é a Arte de plantar bom Carma. Esta área de conhecimento inclui a Ciência de não plantar sofrimento para si mesmo nem para os outros. Portanto, Salomão está certo ao dizer:
“Não deixes de fazer o bem a quem o merece,
Se está em teu poder ajudar [a pessoa].
Não digas a teu próximo ‘Volta depois,
Darei isso para ti amanhã’ se tu o tens contigo.
Não faças planos para prejudicar o teu próximo
Quando ele deposita confiança em ti.
Não brigues com ninguém sem motivo
Quando a pessoa não te fez mal algum.
Não tenhas inveja de quem age contra a lei,
Nunca imites as ações dele,
Porque o Senhor abomina o perverso,
Mas tem uma relação íntima com os honestos.” [2]
A ideia de um Senhor que governa pessoalmente o Cosmo, sentindo amor e raiva, é uma imagem poética e simbólica da LEI UNA e impessoal.
A poesia faz parte do conhecimento sagrado, e Salomão prossegue em seu ensinamento sobre a Lei da Ética:
“A maldição do Senhor está na casa do impiedoso,
Mas Ele abençoa a moradia do que é justo.
Diante dos zombadores Ele zomba,
Mas aos humildes dá seu apoio.
Os sábios obterão honra,
Mas os insensatos estão destinados à desgraça.”[3]
Esta é a regra divina do Equilíbrio dinâmico. Devemos tratar de viver à altura dela? No começo do capítulo quatro de Provérbios, temos o seguinte:
“Filhos, prestem atenção à disciplina de um pai;
Escutem e aprendam discernimento,
Porque eu transmito boa instrução a vocês;
Não deixem de lado o meu ensinamento.”
Se alguém prefere ignorar a arte e o mistério sagrados que lhe permitiriam agir com justiça, será preciso arcar com as consequências disso, até que um dia passe a merecer a sabedoria. Naquele instante o discernimento começará a descer sobre ele.
Não há pressa.
A lei da Reencarnação – Gilgul na tradição judaica – irá garantir a ele tantas oportunidades quantas ele necessitar.
NOTAS:
[1] Provérbios, 3: 19-20. Nesta citação, assim como nas anteriores, levamos em conta a Bíblia Judaica: “The Jewish Bible, Tanakh, The Holy Scriptures”, The Jewish Publication Society, Philadelphia – Jerusalem, copyright 1985, 1624 pp., ver Proverbs, 3: 19-20, p. 1289.
[2] Provérbios, 3: 27-32. Levo em conta a Bíblia Judaica: “The Jewish Bible, Tanakh, The Holy Scriptures”, The Jewish Publication Society, pp. 1289-1290.
[3] Provérbios, 3: 33-35. Na Bíblia Judaica, “The Jewish Bible, Tanakh, The Holy Scriptures”, The Jewish Publication Society, p. 1290.
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O artigo “Examinando Provérbios de Salomão” foi publicado nos websites associados no dia 27 de outubro de 2021. Trata-se de uma tradução, feita pelo próprio autor. O texto original, “From the Proverbs of Solomon”, está disponível nos websites associados e no blog teosófico em “The Times of Israel”.
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