Para Fortalecer a Vontade, Construa um
Estoque de Forças Positivas no Subconsciente
João Serras e Silva
Lisboa histórica, aguarela de Vanessa de Azevedo
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O texto a seguir é uma carta do médico e educador português
João Serras e Silva (1868-1956), e faz parte do livro “Papel da
Vontade na Educação”, de D. Manuel Trindade Salgueiro. [1]
(CCA)
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Esta carta tem por fim falar-lhe de uma técnica de formação da vontade por meios indiretos. A maneira clássica de desenvolver uma função é o exercício; faculdade que a não exerce atrofia-se. A vontade robustece-se pelo esforço de lutar e de vencer: queremos fazer, queremos não fazer. É a forma direta, forma útil, mas fatigante.
Há outra maneira de vencer sem grande luta, e sem grande fadiga: é a convicção, a formação de um estoque de motivos, de forças armazenadas no subconsciente que nos ajudarão a fazer ou não fazer nas ocasiões oportunas.
Ponhamos um exemplo: suponhamos uma pessoa biliosa, inclinada à cólera, pronta à irritação, diante da menor contrariedade. Esta tendência é um flagelo para ela e para os outros.
Para combater esta incômoda disposição temos duas maneiras: uma consiste em fazer um esforço de vontade, sorrir à contrariedade, como S. Francisco de Sales, morder disfarçadamente os lábios, contrair os músculos das mãos, em suma, dominar-se, é a forma direta; a outra, a indireta, é mais complicada mas muito mais cômoda e consiste em criar no subconsciente uma acumulação de energia que atue por si, no momento conveniente, contrapondo-se à emoção impulsiva. A forma direta é fatigante, exige um esforço no momento crítico e requer uma grande vigilância para se não ser colhido de surpresa; e Deus sabe quantas vezes o iracundo se encontra a vociferar e a gesticular de uma maneira descomposta, em oposição com todos os programas e boas intenções. O consciente vai ser substituído pelo automatismo, na forma indireta.
Para chegar a este resultado procede-se por autossugestão. Escreve-se num cartão uma fórmula sumária, como esta – não quero irritar-me, quero ser calmo.
Esta fórmula dever ser lida muitas vezes durante o dia e, no dia seguinte, deve ser substituída por outra equivalente. A mudança evita a monotonia e aumenta a eficácia.
É conveniente repetir mentalmente a fórmula quando, em lugar tranquilo, o indivíduo se puder concentrar e fixar a atenção sobre ela, expulsando do espírito todas as ideias e imagens estranhas. Uma vez feito o vazio, a fórmula encherá o campo da consciência. O processo serve para combater o medo, a inveja, a sensualidade, etc. As atitudes auxiliam estas aquisições do subconsciente. Quando se visa combater o medo, a posição em extensão, com o peito dilatado, a cabeça alta auxilia a autossugestão da coragem.
O subconsciente vai-se enriquecendo dia a dia com estas convicções, até se constituir um forte capital de energias que sairão espontaneamente, automaticamente, em nossa defesa, antes que a defesa voluntária e consciente venha tomar as posições. Fórmulas, atitudes, imagens, leituras, ajudarão a constituir este fundo que vale uma fortuna.
Pela via consciente de persuasão chegamos a organizar um estoque de forças que ficarão ao nosso dispor no subconsciente, e operarão em nosso benefício automaticamente, ou que nós mobilizaremos na ocasião precisa, lembrando-nos de que ali as depusemos num trabalho porfiado durante meses e anos. A vontade diretamente empregada é a violência: fazer violência sobre si significa a luta contra as impulsões, luta dolorosa e fatigante, que se pode suprir em certa medida, digamos em larga medida, pelo emprego do subconsciente, formado conscientemente.
Para tratar conosco como para tratar com os outros, o método da persuasão é muitas vezes bem superior ao método da violência!
Ao domínio direto das paixões juntemos habilmente o domínio indireto, produto de uma nítida autossugestão. Aos leitores do “Papel da Vontade na Educação”, convém ter notícia de uma obra recente que ensina a formar o subconsciente, é a obra de Jean des Vignes Rouges intitulada; “Gymnastique de la Volonté”, editada por J. Oliven, Paris.
NOTA:
[1] “Papel da Vontade na Educação”, de D. Manuel Trindade Salgueiro, Casa do Castelo Editora, Coimbra, Portugal, 1942, 246 páginas. A carta está publicada como nota de rodapé às páginas 121-123.
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O artigo acima está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde o dia 17 de julho de 2023.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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