Todas as Funções da Consciência
Devem Agir Para Ajudar a Concentração
 
 
Jean des Vignes Rouges
 
 
 
 
 
Esta palavra desempenha um papel importante nos livros sobre desenvolvimento da força psíquica. O único problema é que os autores discordam sobre o mecanismo e sobre os efeitos dessa operação que é chamada de concentração.
 
Para alguns, trata-se de focar sua atenção em um objeto, uma ideia, enquanto se evita energicamente pensar em qualquer outra coisa. Mas a psicologia mostra – e também a experiência de todos – que é impossível manter a atenção em determinada imagem por mais de alguns segundos. A atenção precisa de mudança.
 
Porém – dizem alguns ocultistas – olhe fixamente para um ponto brilhante, para uma bola de cristal, um objeto, sua própria mão, seu umbigo, repetindo mentalmente: “Eu tenho vontade”, sem que nenhuma outra imagem surja em sua consciência, e deste modo você será capaz de imprimir em sua mente o pensamento: “Eu tenho força de vontade”, o que despertará uma força de vontade extraordinária.
 
Parece que através desta manobra obtemos principalmente um cansaço que leva à paralisia da atenção real. O sujeito é então vítima de uma espécie de vertigem, análoga a um estado semi-hipnótico, que talvez faça com que a sugestão seja aceita mais facilmente.
 
Para facilitar esse estado hipnoide ou extático, os ocultistas recomendam uma variedade de procedimentos. Por exemplo, quando se trata de obter a cura de um órgão doente, imagine que está direcionando para esse órgão uma “corrente mental” capaz de revitalizar a parte fragilizada. Este processo me parece útil, mas convém mencionar o fato de que a atenção, neste caso, é reforçada por imagens e ideias auxiliares. [1]
 
Em outras situações, a concentração consiste numa aplicação metódica da mente para afastar ideias que surgem espontaneamente. Por exemplo, você decide ouvir o tique-taque do seu relógio; dez ou vinte segundos depois da sua decisão, você sente que uma ideia sem rumo entrou em sua mente, e você a elimina. Ao repetir a operação com persistência, você pode adquirir o hábito de eliminar quase instantaneamente ideias que atrapalham a sua concentração. Resumindo, você desenvolveu a tendência de ficar atento a pensamentos prejudiciais ou parasitas.
 
Outro exemplo: você retém mentalmente a imagem de um número de três dígitos, 248. Você decide que vai se concentrar no algarismo 4, deixando de ver o 2 e o 8, e apagando-os sucessivamente do seu “quadro mental”.
 
Você também pode concentrar-se na contemplação mental de qualquer objeto; a meta desta meditação é sempre isolar a imagem escolhida de qualquer outra imagem que tente surgir.
 
Esses exercícios, sobre os quais os manuais variam infinitamente, têm na verdade o objetivo de estabelecer uma adequação entre diferentes tendências; é aquilo que podemos chamar de “controle da atenção”, que tenta eliminar outros objetos da atenção, pelo menos por alguns momentos, e especialmente os objetos que levam a atenção a uma constante mudança.
 
A concentração pode ser reforçada pela adoção de atitudes corporais favoráveis; por mudanças voluntárias no ritmo da respiração, que é quase suspensa nos momentos de concentração intensa: por gestos, por expressões faciais e pela contração dos músculos junto às sobrancelhas.
 
Entre os benefícios possíveis destas práticas, devemos incluir uma espécie de “obsessão” que elas criam. Ao praticar concentração frequentemente com o objetivo de fortalecer a sua vontade, o sujeito tem um tipo de alucinação sobre as suas potencialidades, e sobretudo não se esquece de querer, porque pensa constantemente no tema.  
 
A concentração verdadeiramente fecunda, recomendada pelos psicólogos – e também pela Ioga – é a que visa o desenvolvimento da ideia em que queremos centrar a nossa atenção. Isto implica, é claro, uma eliminação de ideias parasitárias, uma repressão da divagação da mente, e uma obrigação, imposta à consciência, de rejeitar imagens estranhas ou indesejáveis; mas devemos acrescentar um esforço para buscar na memória tudo o que pode reforçar a ideia a ser mantida. Todas as funções da consciência devem agir para ajudar a concentração; e, acima de tudo, o raciocínio deve ajudar. A operação mental torna-se assim uma síntese de ideias. Acontece um “pensamento dirigido”, um pensamento estimulado, controlado, e firmemente orientado para um fim que foi definido antes.
 
É desnecessário dizer que o treino da concentração, entendido desta forma, pode incluir grande número de exercícios. Portanto, coloque diante de si mesmo com frequência problemas da vida real, tais como: “O que deveria dizer ou fazer para agradar aquela pessoa? Que julgamento mais exato devo fazer sobre um determinado indivíduo a respeito do qual até agora me contentei com uma vaga ideia?” Ou ainda, simplesmente imagine com todos os detalhes o percurso de uma caminhada, as prováveis reviravoltas de uma conversa importante que você terá com uma determinada pessoa, ou o desenvolvimento futuro de um trabalho que você iniciou.
 
Esses exercícios, realizados com intensidade, irão disciplinar a sua atenção. Criarão em você o hábito de reunir todas as suas forças, e desenvolverão a sua vontade. Principalmente se você tomar a providência de escolher assuntos dos quais a sua atenção, em geral, costuma fugir. Deste modo, quando um cidadão endividado consegue pensar em pagar as suas dívidas, o fato mostra que ele está fazendo um progresso importante no desenvolvimento da sua vontade, porque, como frequentemente se observa, a tendência espontânea de muitos devedores é “deixar para mais adiante” a possibilidade de devolver o que devem. 
 
NOTA DO EDITOR:
 
[1] Vejamos dois exemplos de imagem ou ideia auxiliar. 1) Imaginar o órgão curado e funcionando tão perfeitamente quanto possível. 2) Formar uma imagem de si mesmo como uma pessoa fisicamente saudável. Caso seja regular e durável, a prática cria correntes curativas no plano subconsciente – e no plano do akasha – cuja força será proporcional à força e à pureza da intenção que sustenta a prática. A durabilidade do esforço, no entanto, faz parte do segredo do êxito. O êxito durável depende de uma prática persistente. Um êxito inicial aparente ilude os otimistas desinformados e os faz comemorar antes da hora. O poder curativo da força mental subconsciente está demonstrado pelo conhecido efeito placebo. Práticas como estas podem ajudar o devido tratamento médico, ou mesmo impedir o surgimento de uma doença, quando ocorrem a tempo. A medicina ideal é a medicina preventiva, que todo cidadão pode praticar. A medicina preventiva inclui a prática de bons pensamentos. (CCA)
 
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O artigo “Concentração – a Força da Ideia Única” foi traduzido do livro «Dictionnaire de la Volonté», de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 320 pp., 1945, pp. 60-62. Veja o texto original em francês: “Concentration – la Force de l’Idée Unique”. A tradução é de CCA, e a publicação em português ocorreu dia 27 de junho de 2024.
 
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Nota do Editor: Um Exercício Prático
 
* Cada parágrafo do texto “Concentração – a Força da Ideia Única” merece reflexão e pode inspirar exercícios práticos. Tendo em conta, por exemplo, o seu parágrafo final, procure identificar duas ou três tarefas incômodas que você vem postergando mais do que deveria. Pergunte-se: “Que tarefas indispensáveis estou deixando para mais adiante, sem necessidade?” Ou talvez: “A que atividades deveria renunciar, para atuar com mais eficiência e evitar a dispersão dos meus esforços?” Rompa o processo subconsciente da indulgência, dizendo calmamente algumas vezes a si mesmo: “Para derrotar a preguiça e fortalecer a vontade, a tarefa ou a decisão mais desagradável deve vir primeiro”. Este princípio magnético básico da vida foi estabelecido por O.S. Marden. (CCA)
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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