
À Medida que Passam as Décadas, a Ilusão
Carnavalesca Engana Cada Vez Menos Gente
Carlos Cardoso Aveline

Theodoro D’Almeida, nascido em 1722. Visão parcial de uma aquarela, Museu Paulista
da USP – obra pintada no século 19 com base em um retrato feito em vida do pensador.
Como viver os dias de Carnaval?
Num livro publicado em espanhol em Madri no ano de 1798, o filósofo e pensador português Theodoro D’Almeida, um místico oratoriano, descreve bem a ilusão carnavalesca.
Mas antes de examinar as palavras de Theodoro, lembremos que não há necessidade de ter uma reação supersticiosa, nem tampouco um desdém materialista cético, diante de palavras como “demônio” e “pecado”.
Porque “demônio” é apenas a ignorância espiritual subconsciente, individual ou coletiva, que deve ser transmutada em sabedoria; e “pecado” consiste somente em um tipo de erro que nos afasta da nossa própria alma – um erro espiritual, uma derrota na luta contra os impulsos animais cegos.
Dito isso, vejamos o que escreve Theodoro D’Almeida no século 18:
“Nos dias de carnaval, tempo de dissolução e loucura, o demônio [a ignorância espiritual coletiva] costuma convencer os homens de que só pode haver alegria e satisfação através do descontrole dos costumes e dos pecados [ações que nos distanciam da alma]; e em semelhantes circunstâncias, o que deve fazer um ministro evangélico?”
E o que devem fazer os teosofistas e as pessoas de bom senso?
Devem “opor nestes mesmos dias a um erro tão monstruoso a doutrina das Santas Escrituras” [como por exemplo as obras cristãs, hinduístas, taoistas, os clássicos de Ioga ou Filosofia, a teosofia autêntica e original, e assim sucessivamente]. E devem “fazer crer a estes loucos [carnavalescos] que antes pelo contrário só na vida cristã e devota pode haver alegria e satisfação da alma”. [1]
Esta é a “contradição fundamental” do Carnaval: onde está a felicidade?
Na cachaça, na bebedeira, no uso de drogas, no sensualismo, no desfile fútil por alguma avenida onde se concentram as multidões de desinformados?
Ou na quietude, no silêncio, na renúncia, no estudo, na oração?
O caminho amplo e fácil da ignorância leva garantidamente ao inferno, ou seja, ao sofrimento físico, emocional e mental. É preciso reconhecer: a “alegria” exagerada do carnaval é falsa. Através da comemoração forçada, o carnaval provoca ou aumenta a infelicidade. O verdadeiro contentamento vem de conhecer a si mesmo e de viver com altruísmo, de um modo simples.[2]
O caminho estreito e difícil da ioga e da sabedoria eterna abre as portas da felicidade interior. Este tipo permanente de contentamento surge do contato vivo com a alma espiritual.
A escolha entre os dois caminhos não está limitada aos dias de Carnaval, mas neles a necessidade de decidir fica mais visível.
Lentamente, à medida que passam as décadas, a ilusão do Carnaval engana cada vez menos gente no Brasil. Mais e mais pessoas aproveitam estes dias para viver a paz interna, para saborear a quietude e recolher-se ao silêncio abençoado da presença divina que o estudo e a oração proporcionam.
Theodoro D’Almeida, um dos grandes sábios do século das luzes, nasceu em 7 de janeiro de 1722 e viveu até 1804. Ou seja, é nosso contemporâneo. Porque as suas lições estão perfeitamente vivas e atuais no Brasil e no Portugal do século 21.
NOTAS:
[1] No momento em que escrevo ainda não consegui a edição original em português. Traduzo as palavras da igualmente raríssima edição espanhola do livro “El Pastor Evangélico”. O subtítulo é “Repartiendo el Pasto de la Palabra Divina”. O volume foi publicado em Madri, “en la Imprenta de Cano”, em 1798, com 286 páginas. Ver p. 178.
[2] Veja o artigo A Teoria da Felicidade, Segundo Einstein.
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O texto acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas em 03 de março de 2025.
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Leia mais:
* Algumas Ideias Sobre o Carnaval (de Lima Barreto).
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Veja também:
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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