Seis Trechos das Cartas dos
Mahatmas, Para Refletir e Meditar
Mahatmas, Para Refletir e Meditar
Carlos Cardoso Aveline (Ed.)
Uma paisagem na Ásia, em quadro de Nicholas Roerich
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Nota Editorial:
O texto a seguir foi publicado pela
primeira vez na edição de novembro de 2011
de “O Teosofista”. Ele reúne trechos selecionados
da coletânea “Cartas dos Mahatmas Para A. P. Sinnett”
(Editora Teosófica, 2001, dois volumes). Ao final de
cada citação, indicamos entre parênteses o número do
volume e o número da página em que estão as palavras
citadas. Acrescentamos subtítulos, entre colchetes, antes
de cada fragmento. Atualizamos a ortografia.
(CCA)
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[1. Sinceridade é a Base do Sentimento de Confiança.]
… Não esqueça as palavras que já lhe escrevi (veja minha última carta) sobre aqueles que se dedicam às Ciências Ocultas; que aquele que o faz “deve alcançar a meta ou perecer. Uma vez começado o Caminho para o grande Conhecimento, duvidar é correr o risco de perder a razão; parar é cair; retroceder é cair para trás, de cabeça para baixo, num abismo.” Nada tema – se você é sincero, e o é – agora. Você tem a mesma segurança em relação ao futuro? (I, 99-100)
[2. O Caminho dos Iniciados Leva à Unidade com o Universo.]
Até que a libertação final o reabsorva, o Ego [1] tem que ser consciente das simpatias mais puras despertadas pelos efeitos estéticos da arte elevada, e sua sensibilidade deve responder ao chamado dos vínculos humanos mais nobres e santos. Naturalmente, à medida que ocorrer o progresso em direção à libertação, isto será mais difícil, até que, para coroar tudo, o conjunto dos sentimentos humanos e puramente individuais – laços de sangue e amizade, patriotismo e predileção racial – cederá seu lugar para um sentimento universal, o único que é verdadeiro e santo, o único altruísta e Eterno: amor, um amor imenso pela humanidade como um Todo! Pois é a “Humanidade” que é a grande Órfã, a única deserdada desta Terra, meu amigo. E cada homem capaz de um impulso altruísta tem o dever de fazer alguma coisa, mesmo que pouco, pelo bem-estar dela. Pobre humanidade! Ela me recorda a velha fábula da guerra entre o corpo e os seus membros; aqui também, cada membro desta enorme “órfã” – sem pai nem mãe – só se preocupa egoisticamente consigo mesmo. O corpo abandonado sofre eternamente, quer os seus membros estejam em paz ou em guerra. (I, 101)
[3. Trabalho Teosófico Desafia Ignorância Coletiva.]
O que eu quis dizer com “esforço desesperado” [2] foi que, quando se considera a magnitude da tarefa a ser empreendida pelos nossos trabalhadores teosóficos, e especialmente as múltiplas forças já reunidas e que ainda se reunirão contra ela, bem podemos compará-la a um daqueles esforços desesperados contra condições esmagadoramente adversas que um verdadeiro soldado se orgulha de tentar. Você fez bem em ver o “grande propósito” no tímido começo da S. T.[3] Naturalmente, se tivéssemos decidido fundá-la e dirigi-la em propria persona [4], é muito provável que ela tivesse tido mais êxito e não tivessem sido cometidos tantos erros; mas não podíamos fazê-lo, nem era esse o plano. Nossos dois representantes estão encarregados da tarefa, e têm liberdade – como é o seu caso agora – de fazer o melhor que puderem de acordo com as circunstâncias. E muito já foi feito. (I, 104-105)
[4. A Consciência Transcendente de um Iniciado.]
Acredite, há um momento na vida de um adepto em que todas as adversidades pelas quais passou são recompensadas mil vezes. Para adquirir conhecimento adicional, ele já não tem que recorrer a processos minuciosos e lentos de investigação e comparação de várias questões, mas lhe é proporcionada uma visão instantânea e implícita de cada verdade básica. Tendo transposto a etapa da filosofia que afirma que todas as verdades fundamentais surgiram de um impulso cego (esta é a filosofia dos sensacionalistas ou positivistas) e deixando muito para trás aquele outro tipo de pensadores – os intelectualistas ou céticos, que sustentam que as verdades fundamentais derivam somente do intelecto, e que nós mesmos somos a sua única causa originária – o adepto vê, sente e vive na própria fonte de todas as verdades fundamentais – a Essência Universal e Espiritual da Natureza, SHIVA, o Criador, o Destruidor e o Regenerador. Assim como os espíritas atuais degradaram o “Espírito”, também os hindus degradaram a Natureza com suas concepções antropomórficas a respeito dela. Só a Natureza pode encarnar o Espírito da contemplação ilimitada. (I, 109-110)
[5. O Desgaste do Eu Inferior de Helena Blavatsky em 1881.]
Nossa pobre “Velha Senhora” está doente. Fígado, rins, cabeça, cérebro, pernas, cada órgão e membro luta e estala os dedos diante dos esforços que ela faz para ignorá-los. Um de nós terá que “consertá-la”, como diz o nosso valioso sr. Olcott, ou ela passará mal. (I, 110)
[6. A Consciência de Buddha e de Outros Espíritos Planetários.]
… Não pode haver nenhum Espírito Planetário que não tenha sido outrora material, ou o que você chama de humano. Quando o nosso grande Buda – o patrono de todos os adeptos, o reformador e codificador do sistema oculto – atingiu o primeiro Nirvana na Terra, ele se tornou um Espírito Planetário; isto é, o seu espírito podia ao mesmo tempo percorrer os espaços interestelares em plena consciência e continuar à vontade na Terra, em seu corpo original e individual. Pois o Eu divino havia-se desembaraçado tão completamente da matéria que podia criar por sua vontade um substituto interno para si, deixando-o na sua forma humana durante dias, semanas, às vezes anos, sem que essa mudança afetasse de modo algum o princípio vital nem a mente física do seu corpo. Essa é a forma mais elevada de adeptado a que um homem pode aspirar em nosso planeta. Mas é tão rara quanto os próprios Budas, e o último Khobilgan que o atingiu foi Tsong-ka-pa de Kokonor (século XIV), o reformador do Lamaísmo, tanto do esotérico como do vulgar. Muitos são aqueles “que abrem caminho e saem da casca do ovo”; poucos os que, uma vez fora, são capazes de exercer plenamente o seu Nirira namastaka, quando estão inteiramente fora do corpo. A vida consciente em Espírito é tão difícil para algumas naturezas como é nadar para alguns corpos. Embora a estrutura humana seja mais leve em sua massa que a água, e toda pessoa tenha nascido com esta faculdade, são tão poucos os que desenvolvem a arte de manter-se flutuando, que a morte por afogamento é um dos acidentes mais freqüentes. Um Espírito Planetário deste tipo (semelhante ao Buda) pode passar à vontade para outros corpos de matéria mais ou menos eterealizada, e que habitam outras regiões do Universo. Há muitas ordens e graus, mas não há uma ordem separada e constituída eternamente de Espíritos Planetários. (I, 119-120)
NOTAS:
[1] Ego – em teosofia, a palavra “Ego” significa o eu superior, o eu impessoal, o verdadeiro “eu”, a alma espiritual. (CCA)
[2] O dicionário “Webster’s Encyclopedic Unabridged” define a expressão usada no original, forlorn hope, como “esperança vã, um empreendimento que quase certamente fracassará, uma tentativa perigosa ou desesperada”. Em termos militares, forlorn hope significa um grupo de soldados destacados para uma tarefa extraordinariamente perigosa. A origem da expressão vem do alemão verloren hoop, “tropas perdidas”. (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[3] S. T. – A Sociedade Teosófica original, que deu lugar ao atual movimento teosófico, marcado pela pluralidade de organizações e associações. (CCA)
[4] Propria persona: Pessoalmente. (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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