21 Trechos das Cartas dos
Mahatmas, Para Refletir e Meditar
Mahatmas, Para Refletir e Meditar
Carlos Cardoso Aveline (Ed.)
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Nota Editorial:
Os trechos a seguir são reproduzidos
da coletânea “Cartas dos Mahatmas Para
A. P. Sinnett” (Editora Teosófica, 2001,
dois volumes). Ao final de cada citação,
indicamos entre parênteses o número do
volume e o número da página em que estão as
palavras citadas. Acrescentamos subtítulos,
entre colchetes, antes de cada fragmento.
Atualizamos a ortografia.
(CCA)
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[1. Passado, Presente e Futuro São Inseparáveis.]
* Loucos são aqueles que, especulando apenas sobre o presente, fecham voluntariamente os olhos para o passado, quando já são naturalmente cegos para o futuro! (I, 36)
[2. Desenvolver as Potencialidades Divinas do Ser Humano.]
* O êxito de uma tentativa do tipo que você propõe tem que ser calculado e baseado num profundo conhecimento das pessoas à sua volta. A atitude das pessoas diante dessas questões mais profundas e misteriosas que podem sensibilizar a mente humana – os poderes deíficos no homem e as possibilidades contidas na Natureza – depende inteiramente das suas condições sociais e morais. Quantos, mesmo entre os seus melhores amigos, daqueles que o rodeiam, têm mais que um interesse superficial nesses assuntos tão complexos? Você poderá contá-los nos dedos da sua mão direita. (I, 36-37)
[3. Enfrentar a Barreira da Ignorância Acumulada.]
* Quanto à natureza humana em geral, ela é igual agora a como era há um milhão de anos atrás: preconceito baseado no egoísmo; uma resistência generalizada a renunciar à ordem estabelecida das coisas em função de novos modos de vida e de pensamento, e o estudo oculto requer tudo isso e muito mais -; orgulho e uma teimosa resistência à Verdade, quando ela abala as suas noções prévias das coisas; tais são as características da sua época, especialmente nas classes inferiores e médias. (I, 38)
[4. Os Sábios Desafiam a Inércia, e Pagam o Preço Por Isso.]
* Vocês, como muitos outros, nos culpam pela nossa grande reserva. Todavia, nós conhecemos algo da natureza humana, porque aprendemos com a experiência acumulada ao longo de séculos – sim, eras. E sabemos que, enquanto a ciência tiver algo a aprender, e enquanto restar uma sombra de dogmatismo religioso no coração das multidões, os preconceitos do mundo têm que ser vencidos passo a passo, sem atropelos. Assim como o passado remoto teve mais de um Sócrates, o vago futuro verá o nascimento de mais de um mártir. A emancipada ciência desprezou a opinião de Copérnico, quando ele renovou as teorias de Aristarco de Samos [1] – que afirmou que “a Terra se move circularmente ao redor do seu próprio centro” – anos antes que a Igreja quisesse sacrificar Galileu como um holocausto à Bíblia. (…..) O enorme conhecimento dos Paracelso [2], dos Agrippa [3] e dos Dee [4] foi sempre contestado. (I, 39)
[5. Deve-se Consolidar Antes de Avançar.]
* …Você, como um homem que conhece estratégia bastante bem, deve ficar satisfeito com a reflexão de que pouco adianta conquistar novas posições até que as que já foram alcançadas estejam seguras, e que os seus inimigos estejam perfeitamente conscientes do seu direito à posse delas. (I, 40)
[6. Usar os Meios Já Disponíveis Antes de Pedir Apoio.]
* TENTE – e trabalhe primeiro com o material que você tem, e então nós seremos os primeiros a auxiliá-lo a obter novas evidências. (I, 41)
[7. A Coragem de Dizer o que Pensa.]
* Aquele que quiser erguer alto a bandeira do misticismo e proclamar que o seu reino está próximo tem que dar o exemplo aos outros. Ele deve ser o primeiro a mudar os seus próprios modos de vida; e, com relação ao fato de que o estudo dos mistérios ocultos é o degrau mais alto da escada do Conhecimento, tem que proclamar isso em voz alta, apesar da ciência exata e da oposição da sociedade. (I, 43)
[8. A Intenção Interior Decide o Rumo da Ação.]
* O primeiro e principal fator que determina nossa decisão de aceitar ou rejeitar sua oferta está na motivação interna que o leva a buscar as nossas instruções e, em certo sentido, a nossa orientação. (I, 44)
[9. A Franqueza é Indispensável.]
* Você tem que me perdoar pelo que possa ver como linguagem agressiva, se o seu desejo realmente é o que você diz – aprender a verdade e obter instrução de nós, que pertencemos a um mundo completamente diferente daquele em que você se movimenta. (I, 44)
[10. Identificar e Abandonar o Egoísmo.]
* ….. Do nosso ponto de vista, as mais elevadas aspirações pelo bem-estar da humanidade ficam manchadas pelo egoísmo se na mente do filantropo ainda houver uma sombra de desejo de autobenefício ou uma tendência para fazer injustiça, mesmo quando ele é inconsciente disso. (I, 44)
[11. O Caminho da Sabedoria Requer Renúncia.]
* É verdade que temos as nossas escolas e instrutores, nossos neófitos e shaberons (adeptos superiores), e a porta é sempre aberta quando o homem certo bate nela. E damos sempre boas-vindas ao recém-chegado; apenas, em vez de nós irmos até ele, ele tem de vir até nós. Mais do que isso: a menos que ele tenha atingido aquele ponto da senda do ocultismo em que é impossível retornar, tendo-se comprometido irreversivelmente com a nossa associação, nós nunca o visitamos nem mesmo cruzamos a sua porta em aparência visível – exceto em casos raríssimos. (I, 45)
[12. Cerimônias e Formalismos São Ilusões.]
* As convenções do mundo vazio, fora dos nossos “ashrams” isolados, sempre têm muito pouca importância para nós; principalmente agora, quando buscamos homens e não mestres de cerimônia, devoção e não a mera observância de regras. Cada vez mais um formalismo morto está ganhando terreno, e eu estou verdadeiramente feliz em encontrar um aliado inesperado (…..) . (I, 53)
[13. É Necessário Avançar Com Realismo.]
* Nós nunca nos queixamos do inevitável, mas tratamos de tirar o melhor proveito do pior. E embora não empurremos nem atraiamos para o misterioso domínio da natureza oculta aqueles que não desejam avançar, nunca deixamos de expressar livre e destemidamente nossa opinião. No entanto, estamos sempre igualmente dispostos a auxiliar os que vêm até nós; até mesmo os agnósticos que assumem a posição negativa de “conhecer apenas os fenômenos, e recusar-se a acreditar em qualquer coisa mais”. É verdade que o homem casado não pode ser um adepto, no entanto, sem esforçar-se para ser um “Raja iogue”, ele pode adquirir certos poderes e fazer o mesmo bem pela humanidade e, frequentemente mais, pelo fato de permanecer dentro dos limites do seu mundo. (I, 59-60)
[14. Não Importa “Quem Chega Primeiro”.]
* Há mais de um modo de adquirir conhecimento oculto. “Muitos são os grãos de incenso destinados ao mesmo altar; um cai no fogo antes, outro depois – a diferença no tempo não tem importância alguma”, disse um grande homem [5] quando lhe foi recusada a admissão e a iniciação suprema nos mistérios. (I, 60)
[15. Fraternidade é a Base da Ética Planetária.]
* A expressão “Fraternidade Universal” não é vazia de significado. (…..) É a única base segura para uma moralidade universal. Se isto é um sonho, pelo menos é um sonho nobre para a humanidade: e é a aspiração do verdadeiro adepto. (I, 60)
[16. Aspirações Egoístas Provocam Paralisia.]
* ….. A S. T. [Sociedade Teosófica] britânica não dá praticamente um só passo adiante. Seus membros pertencem à Fraternidade Universal, mas só de nome, e gravitam no melhor dos casos para o quietismo, uma paralisia completa da alma. São intensamente egoístas em suas aspirações e colherão apenas a recompensa de seu egoísmo. (I, 76)
[17. A Meta e os Métodos Devem ser Examinados.]
* O conceito de moralidade em geral se relaciona em primeiro lugar com a intenção ou motivo, e só depois, com os meios ou modos de ação. Em consequência, se nós não consideramos – e não poderíamos considerar nunca – moral um homem que, seguindo as normas de um famoso empreendedor religioso, usa maus meios para um bom propósito, muito menos consideraríamos como moral o homem que usa meios aparentemente bons e nobres para atingir um objetivo decididamente mau ou desprezível. (I, 78)
[18. O Futuro é uma Reedição Melhorada do Passado.]
* …Nem nos sentimos, de modo algum, preocupados com o ressurgimento de nossas antigas artes e elevada civilização, porque elas certamente ressurgirão no momento certo, e de forma ainda mais elevada, assim como os plesiossauros e megatérios [6] em seu próprio tempo. Temos tendência a crer em ciclos que voltam sempre periodicamente e esperamos poder acelerar a ressurreição do que já passou e se foi. Nós não poderíamos impedi-lo ainda que o quiséssemos. A “nova civilização” será apenas filha da antiga, e nos basta deixar que a lei eterna siga o seu próprio curso para que os nossos mortos saiam dos seus sepulcros; mas estamos certamente ansiosos por acelerar o desejado acontecimento. Não tenha medo; embora “nos aferremos supersticiosamente aos restos do passado”, o nosso conhecimento não desaparecerá do alcance humano. Ele é um “presente dos deuses”, e a mais preciosa de todas as relíquias. Os guardiões da Luz sagrada não atravessaram vitoriosamente tantos séculos para naufragarem batendo nas rochas do ceticismo moderno. Nossos pilotos são marinheiros demasiado hábeis para que tenhamos medo de tal desastre. (I, 81-82)
[19. A Compreensão da Filosofia é Gradual.]
* Só o progresso que uma pessoa faça no estudo do conhecimento Arcano a partir dos elementos rudimentares a leva a compreender gradualmente o nosso propósito. Somente assim, e não de outra forma, ela o faz fortalecendo e refinando aqueles misteriosos laços de simpatia que unem os seres inteligentes – fragmentos temporariamente isolados da Alma universal e da própria Alma cósmica – trazendo-os a uma completa harmonia. Uma vez estabelecido isso, só então essas simpatias despertadas servirão, na verdade, para conectar o ser humano com aquilo que, na falta de um termo científico europeu mais adequado para expressar a ideia, sou novamente compelido a descrever como aquela cadeia energética que une o Cosmo material e Imaterial – Passado, Presente e Futuro – acelerando as suas percepções de modo que ele capte claramente não apenas todas as coisas materiais, mas também as espirituais. (I, 96-97)
[20. É Preciso Ampliar os Horizontes Mentais.]
* Sinto-me até irritado ao ter que usar essas três palavras desajeitadas, passado, presente e futuro! Como conceitos miseravelmente estreitos de fases objetivas do Todo Subjetivo, elas são tão inadequadas nesse sentido quanto seria usar um machado para fazer um trabalho delicado de escultura. Ah, meu pobre amigo decepcionado, gostaria que você já estivesse tão avançado no CAMINHO que essa simples transmissão de ideias não fosse obstaculizada por condições materiais, e a união da sua mente com a nossa não fosse impedida pela sua incapacidade induzida! Essa é, infelizmente, a limitação herdada e autoadquirida da mente ocidental. Mesmo as frases que expressam o pensamento moderno foram desenvolvidas até tal ponto na linha do materialismo prático, que atualmente é quase impossível tanto para os ocidentais compreender-nos quanto para nós expressarmos nos seus idiomas algo dessa maquinária delicada e aparentemente ideal do Cosmo Oculto. Em uma pequena medida esta percepção pode ser adquirida pelos europeus através do estudo e da meditação – mas não mais que isso. E esta é a barreira que impediu, até agora, que o conhecimento das verdades teosóficas ganhasse mais terreno nas nações ocidentais, e levou os filósofos ocidentais a deixarem de lado o estudo teosófico como algo inútil e fantástico. (I, 97)
[21. O Idioma da Intuição Não Tem Um Alfabeto.]
* Como poderei ensinar você a ler e escrever ou mesmo a compreender um idioma no qual não há até agora nenhum alfabeto palpável, nem palavras audíveis para você! Como poderiam os fenômenos da nossa ciência elétrica moderna ser explicados, digamos, a um filósofo grego do tempo de Ptolomeu que fosse chamado subitamente à vida, com esse hiatus intransponível entre as descobertas daquela época e as da nossa? Não seriam para ele os próprios termos técnicos um jargão ininteligível, um abracadabra de sons incompreensíveis, e os próprios instrumentos e aparelhos usados apenas monstruosidades “miraculosas”? E suponhamos, por um instante, que eu descrevesse a você os matizes daquelas cores que estão além do chamado “espectro visível” – cores invisíveis para todos exceto alguns poucos mesmo entre nós; ou que eu explicasse como é possível fixar no espaço qualquer uma das chamadas cores acidentais ou subjetivas – e também o complemento (para falar matematicamente) de qualquer outra cor de um corpo dicromático (o que por si só soa como um absurdo); você pensa que poderia compreender o efeito ótico dessas cores, ou mesmo o que quero dizer? E como você não vê estes raios, nem possui qualquer nome para eles até agora na Ciência, se eu lhe dissesse: “Meu bom amigo Sinnett, por favor, sem sair da sua escrivaninha, tente buscar e fazer aparecer diante dos seus olhos o espectro solar completo, decomposto em quatorze cores prismáticas (sete são complementares), pois é só com o auxílio daquela luz oculta que você poderá ver-me à distância assim como eu o vejo” …. qual você pensa que seria a sua resposta? O que você teria a replicar? (I, 97-98)
NOTAS:
[1] Aristarco de Samos, astrônomo grego ativo ao redor de 270 a.C., foi um dos primeiros a defender a tese de que a Terra gira ao redor do Sol. (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[2] Theophrastus Bombastus von Hohenhain (1490-1541), mais conhecido como “Paracelso”, foi um famoso médico, ocultista, filósofo e precursor do movimento teosófico moderno. Há semelhanças significativas entre a vida de Paracelso e a vida de Helena Blavatsky. (CCA)
[3] Heinrich Cornelius Agrippa (1486-1535), médico, soldado, escritor e ocultista alemão. Entre suas principais obras está Da Filosofia Oculta (cerca de 1510). (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[4] John Dee (1527-1608), matemático e astrólogo inglês, favorito da rainha Elizabeth I e contemporâneo de Francis Bacon. (Nota da edição brasileira de “Cartas dos Mahatmas”)
[5] O Mestre citou neste trecho um pensamento de Marco Aurélio, o imperador-filósofo, sem mencionar o seu nome. Veja “Meditações”, Marco Aurélio, Ediouro, RJ, p. 47, Livro IV, parágrafo 15. (CCA)
[6] Plesiossauro – Réptil enorme, da era mesozóica. Megatério – grande mamífero desdentado, fóssil terciário e quaternário na América. (CCA)
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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