A Voz da Paz Pode Ressoar Como um Trovão
Que Arranca os Seres Humanos da Sua Apatia
Que Arranca os Seres Humanos da Sua Apatia
Morihei Ueshiba
Morihei Ueshiba
000000000000000000000000000000000000000000000000
Nota Editorial de 2016:
Reproduzimos a seguir alguns pensamentos do livro
“A Arte da Paz”, de Morihei Ueshiba (1883-1969), o
fundador do Aikidô. O livro foi publicado por Edições
Coisas de Ler, em Lisboa, 2005, e tem 95 páginas. Os números
das páginas estão ao final de cada citação, entre parênteses.
A identidade interna do Aikidô com muitos aspectos da
filosofia esotérica clássica é fácil de perceber quando lemos
estes axiomas. Um Mestre de Sabedoria escreveu: “Esforcem-se
em direção à Luz, todos vocês, bravos guerreiros da Verdade,
mas não deixem que o egoísmo penetre em seu meio”. [1]
As metáforas militares fazem parte da tradição espiritual
de quase todas as nações: o Novo Testamento cristão e o
Bhagavad Gita hindu são dois exemplos entre muitos. O
aforismo 103 de “O Dhammapada” afirma: “Melhor que um
homem que vence em batalhas mil vezes mil homens, é aquele
que vence a si mesmo. Ele é, na realidade, o maior dos guerreiros.”
Morihei Ueshiba ensina o mesmo princípio da sabedoria universal.
(Carlos Cardoso Aveline)
000000000000000000000000000000000000000000000000000000000000
* Acalenta e aperfeiçoa o espírito guerreiro enquanto serves o mundo; Ilumina o Caminho de acordo com a tua luz interior. (p. 42)
* O Caminho da Paz é muito vasto, refletindo o grande desenho dos mundos ocultos e visíveis. Um guerreiro é um santuário vivo do divino que serve esse grandioso desígnio. (p. 43)
* O teu espírito deverá estar em harmonia com o funcionamento do universo; o teu corpo deve estar em consonância com o movimento do universo; corpo e espírito devem ser um só, unidos com a atividade do universo. (p. 43)
* A Arte da Paz é o princípio da não resistência. Por ser não resistente é vitoriosa desde o início. Aqueles com intenções malévolas ou maus pensamentos são vencidos. A Arte da Paz é invencível porque não colide com nada. (p. 53)
* Não há disputas na Arte da Paz. Um verdadeiro guerreiro é invencível porque ele ou ela não disputa nada. Derrotar significa derrotar o espírito do conflito que abrigamos dentro de nós. (p. 53)
* Transcende os limites da vida e da morte, e então conseguirás fazer calmamente o teu caminho através de qualquer crise com que sejas confrontado. (p. 69)
* O teu coração está cheio de sementes férteis à espera de desabrocharem. Tal como uma flor de lótus floresce para desabrochar de forma esplêndida, também a interação faz com que a flor do espírito desabroche e dê frutos. (p. 28)
* Estuda os ensinamentos do pinheiro, do bambu, dos rebentos das ameixeiras. O pinheiro é verde, tem raízes firmes e veneráveis. O bambu é sólido, resistente, inquebrável. Os rebentos das ameixeiras são cheirosos e elegantes. (p. 29)
* Mantém sempre o teu espírito luminoso e claro como o vasto céu, o pico mais elevado e o oceano mais profundo, vazio de quaisquer pensamentos limitadores. (p. 29)
* Quando te começares a preocupar com o “bem” e o “mal” dos teus companheiros, estás a abrir uma porta no teu coração para que a malícia possa entrar. Testar, criticar e competir com os outros enfraquece-te e derrota-te. (p. 31)
* A Arte da Paz não é fácil. É uma luta até ao fim, o desfazer de desejos malévolos e de toda a falsidade. De vez em quando a voz da paz ressoa como um trovão fazendo sair os seres humanos da sua apatia. (p. 33)
* Encara qualquer desafio que esteja à tua frente. Quando um ataque aparece à tua frente, utiliza o princípio da “lua refletida na água”. A lua parece estar realmente presente, mas se tocares a água, não estará lá nada. Também o teu oponente não encontrará nada sólido para atacar. Tal como a luz da lua, envolve o teu oponente física e espiritualmente, até não haver separação entre vós. (p. 69)
* Os ataques podem vir de qualquer direção – de cima, do meio, de baixo; da frente, de trás, da esquerda, da direita. Mantém-te concentrado e serás intocável. (p. 70)
* Sê grato mesmo pelos reveses e pelas dificuldades. Lidar com os obstáculos é uma parte essencial do treino da Arte da Paz. (p. 70)
* A única cura para o materialismo é a limpeza dos seis sentidos (olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e espírito). Se os sentidos estiverem embaçados, a percepção fica afetada. Quanto mais afetada, mais contaminados ficam os sentidos. Isto provoca a desordem no mundo e esse é o pior mal de todos. Purifica o coração, liberta os seis sentidos e deixa-os funcionar sem obstrução, e todo o teu corpo e alma brilharão. (p. 37)
* Há muitos métodos para chegar ao cimo e todos eles nos levam às alturas. Não há necessidade de nos guerrearmos uns com os outros – todos somos irmãos e irmãs que deveriam fazer juntos o Caminho, mão na mão. Mantém-te no teu Caminho e nada mais importará. Quando perderes o desejo por coisas que não têm importância, serás livre. (p. 39)
* Nunca temas quem te desafia, por mais imponente que seja. Nunca desprezes quem te desafia, por mais insignificante que seja. (p. 39)
* Os mais fortes nem sempre derrotam os mais fracos. Os pequenos podem tornar-se grandes se trabalharem constantemente para isso; os fortes podem tornar-se fracos se não o fizerem. (p. 40)
* A lealdade e a devoção conduzem à bravura; a bravura ao espírito de autossacrifício. O espírito de autossacrifício cria a confiança no poder do amor. (p. 40)
* Toda a vida é uma manifestação do espírito, a manifestação do amor. E a Arte da Paz é a forma mais pura desse princípio. A um guerreiro compete pôr termo a toda a discussão e contenda. O amor universal funciona de diversas maneiras; cada manifestação deve ser livre de se expressar. A Arte da Paz é a verdadeira democracia. (p. 38)
NOTA:
[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, editadas por C. Jinarajadasa, Editora Teosófica, Brasília, 1996, 295 pp., ver Carta 20 da primeira série, p. 66.
000
Uma versão inicial do texto acima foi publicada na edição de janeiro de 2016 de “O Teosofista”.
000