De Como as Lágrimas Purificam as Almas
Múcio Teixeira
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Nota Editorial de 2015:
O poema a seguir se refere ao
indispensável sacrifício do eu inferior
durante o nascimento de uma visão maior
da vida. Só assim um indivíduo evita ser
colhido de surpresa, cedo ou tarde,
pela tristeza e pela decepção.
O poema aponta também para a necessidade
de viver o momento presente. A meta central
da vida é importante, e ela deve ser definida
como algo que transcende os limites de uma
encarnação. Por outro lado, nenhum esforço
se perde, e cada passo dado na direção certa
possui um valor sagrado em si mesmo.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Ao meu filho Álvaro
“Só no termo desta viagem é que
podemos ouvir a Voz do Silêncio. A escada
por onde subimos para o Além é formada
por degraus de sofrimento e dor: só as lágrimas
purificam as almas contaminadas pelo invólucro
material. Ai do que se esquece de deixar
atrás de si todos os seus vícios!”
(Paracelso)
Parte um navio em busca de outras plagas,
Cortando ufano as ondas murmurantes;
E na esteira que deixa à flor das vagas
Fervem fosforescências cambiantes.
Toma do leme um argonauta louco,
Pelo seu louco sonho arrebatado:
A terra, que se esvai a pouco e pouco,
Perdeu-se para sempre: – é o Passado.
Como os cinquenta príncipes da Grécia
Em procura do velo ou tosão de ouro,
Alenta o mísero a esperança néscia
De ser feliz em novo ancoradouro.
E nem percebe que o fatal navio,
Exposto sempre ao temporal fremente,
Tem na flâmula um dístico sombrio
Que quer dizer: – agora, hoje… o Presente!
Insensato! o país que ele demanda
Foge ao raio visual do palinuro: [1]
Sopra o tufão, a bússola desanda…
É o naufrágio nas costas do Futuro!…
NOTA:
[1] Palinuro: piloto, guia, ou também instrumento náutico. (CCA)
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O poema “A Viagem da Vida” é reproduzido do volume “Terra Incógnita”, de Múcio Teixeira, Casa Duprat Editora, São Paulo, 1916, 407 pp., ver pp. 137-138. O poeta Múcio Teixeira nasceu em 13 de setembro de 1857 e viveu até agosto de 1926.
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