Descobrindo o Mundo da Sabedoria Eterna
John Garrigues
Falar da Alma que não tem forma é o mesmo que materializá-la: é dar-lhe uma forma. Falar sobre o silêncio é quebrá-lo. Pensar sobre a Alma que vive no silêncio significa tentar invadi-la, e deste modo é impossível encontrá-la.
Não é só o barulho dos sentidos que transforma este mundo num ambiente cheio de conflito e obstáculos para a meditação. É relativamente fácil fechar a casa da vida e colocar chave nas suas portas, de modo que a confusão de nobres e plebeus lutando pelo domínio seja deixada do lado de fora. Quando isso é feito de modo firme e deliberado, descobrimos que o verdadeiro campo de batalha está dentro de nós e não fora.
É revelado então que a memória, a imaginação, o desejo, o pensamento e o sentimento não são simples ajudantes a serviço da Alma, mas usurpadores instintivos, traidores ferozes, rápidos e dotados de uma vida própria, que crucificam quem está buscando entrar no silêncio daquele “Salão da Sabedoria que está mais além”.[1]
O indivíduo que não consegue dominá-los com as palavras sacramentais “paz, fiquem quietos”, deve experimentar inevitavelmente o gosto amargo da derrota e do desespero; deve cair, de fato, no silêncio conhecido pelo homem comum, o silêncio do sono ou da morte, do qual não há qualquer saída que não seja inconsciente. Seja qual for o significado da palavra Meditação para os perplexos, uma coisa é certa: que Meditação significa entrar conscientemente no silêncio.
Aquele que pode permanecer atento enquanto prossegue a batalha interna e externa da Alma pode ter esperança. No entanto, a Esperança em si mesma apenas leva a Alma ao longo de algum corredor cuja única saída é também situada no local de combate e não no território da Alma.
O silêncio consciente da Meditação é aquele mundo desconhecido povoado apenas pela Alma, e no qual a Alma é um espectador sem espetáculo. No entanto, esta é uma maneira de falar por aproximação daquilo que não pode ser falado, porque o silêncio está além de todo discurso, assim como a Alma está além de toda ação.
Para aqueles cujo coração está colocado na fala e para quem a ação é vida, o Silêncio é vazio. Para aquele cujo coração está colocado na finalidade do mundo, na meta da jornada, o Silêncio é o local em que mora a Alma. Quem entra no silêncio volta ao seu lugar próprio. O Ser Indescritível lá situado sabe que o Tempo, o Espaço e a Causalidade são três nomes do Silêncio, aquele silêncio em que é tecido o fio tríplice dos três mundos. Nesta ausência de sons “a Alma cresce como a flor sagrada sobre a lagoa de águas imóveis”. [2]
NOTAS:
[1] Alusão ao Fragmento I do livro “A Voz do Silêncio”, de HPB. A obra está disponível em nossos websites associados. (CCA)
[2] O florescimento da alma no território da sabedoria é uma das metáforas mais usadas em “A Voz do Silêncio”. (CCA)
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O texto acima foi publicado pela primeira vez como uma nota anônima na edição de dezembro de 1929 da revista “Theosophy”, de Los Angeles, p. 84. Uma análise do seu conteúdo, estilo e contexto histórico indica que seu autor é John Garrigues (1868-1944). Título original: “The Silent Soul”. Em português, o artigo foi publicado também na edição de maio de 2015 de “O Teosofista”.
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Sobre o crescimento interior e a transformação pessoal no século 21, leia a obra “O Poder da Sabedoria”, de Carlos Cardoso Aveline.
O livro foi publicado pela Editora Teosófica, de Brasília, tem 189 páginas divididas por 20 capítulos e inclui uma série de exercícios práticos. Está na terceira edição.
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