No Século 21, o País Precisa de Dirigentes Éticos
Carlos Cardoso Aveline
Quando as pessoas discutem sobre a necessidade de ética na política e na administração pública do Brasil, é normal que alguém diga:
“Mas os políticos são corruptos porque o povo não presta.”
Esta é uma boa frase de efeito, mas a questão merece ser examinada com calma. Cabe, então, discutir:
“Será que o povo brasileiro é honesto?”
A resposta a esta pergunta deve ser bem pensada porque talvez ela revele o estado de alma de quem responde. Como sabemos, tudo começa no indivíduo.
Na medida em que eu estiver em contato real e dinâmico com minha própria alma imortal, saberei que sou fundamentalmente bom, embora, secundariamente, cometa erros e deva aprender e evoluir através da compreensão destes erros.
Compreendendo a mim mesmo como alguém que é essencialmente bom e secundariamente imperfeito, perceberei que essa generalização a que chamamos de “povo brasileiro”, ou “humanidade em geral” é algo que funciona como um espelho psicológico de cada indivíduo.
E verei que o povo brasileiro e a humanidade são, como eu, fundamentalmente bons, embora, secundariamente, devam evoluir pelo método da tentativa e do erro. O ser humano é, como ensinam Paulo Freire e a filosofia esotérica, “inacabado”. Está “em construção”. A construção é o aprendizado interior.
Assim, quem ouve bem a voz da sua própria consciência se verá como alguém que é simultaneamente honesto e imperfeito.
Mas, para quem tem ainda um contato precário e escasso com sua alma imortal, sempre haverá a tentação de dizer que “o povo não presta”, “a ocasião faz o ladrão”, “não adianta ser muito idealista”, etc.
Estas pessoas, então, podem pensar que o povo MERECE ser governado por ladrões e criminosos, que mentem descaradamente enquanto sorriem para as câmaras com ar bondoso e sincero, e gestos fraternos.
A verdade essencial inclui o fato de que o “o povo” – ou melhor, a ideia que temos dele – é apenas um espelho que reflete o estado da nossa alma.
Pensar que “o povo não presta” é uma boa desculpa para deixarmos de lado a voz da nossa consciência (Antahkarana) e mentir, roubar e matar – por ação ou por omissão.
Em última instância, tudo, na vida e na ética, depende de Antahkarana, um nome sânscrito que significa a Ponte entre o eu superior (a alma imortal) e o eu inferior (a alma mortal).
Ou nós percebemos a Luz em nós e projetamos essa luz da nossa alma em direção ao mundo, ou então, mesmo sem saber o que fazemos, projetamos a nossa ignorância em direção ao mundo.
As pessoas de bem que têm discernimento fazem “Namastê” o tempo todo, consciente e inconscientemente. É como se elas dissessem:
“O ser honesto e divino em mim saúda, entra em contato e reforça o ser honesto e divino no povo brasileiro, e em cada um dos seus indivíduos, e na humanidade toda.”
Esse olhar implica um certo rigor crítico, porque a vida é complexa e, para ser ético, é necessário usar o discernimento e a coragem e tratar o joio como joio e o trigo como trigo.
Os que ainda não descobriram a luz em seu interior, porém, projetam sua dor e sua ignorância sobre “o outro”, “o povo” – o espelho – na vã tentativa de se verem livres do sofrimento. Mas isso não é eficaz.
A verdade é que o povo brasileiro está ganhando experiência com todos e cada um dos obstáculos que enfrenta. Uma das maiores cargas tributárias do mundo e, em troca, as estradas abandonadas, os hospitais cheios de gente morrendo nos corredores e sem atendimento, os aeroportos desorganizados, o meio ambiente abandonado, a violência urbana descontrolada. Enquanto isso, o povo registra as lições, abre os olhos e compreende o processo histórico de afirmação gradual da democracia e da ética.
Este é o povo de Antônio Vieira, Tiradentes, José Bonifácio, Paulo Freire, Chico Mendes e tantos milhões de heróis anônimos que trabalham silenciosamente, todos os dias, buscando o que é bom através do método da ajuda mútua e da honestidade.
Com apenas 500 anos, é um povo que ama a paz e já faz por merecer dirigentes honestos.
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