Um Exercício Prático de Auto-observação
Carlos Cardoso Aveline
O eu superior do ser humano funciona em grande parte como uma testemunha inspiradora e um conselheiro tão íntimo que não necessita de palavras.
Ele não é um soldado no campo de batalha. Não faz barulho. Não cumpre um papel imediato ou visível na batalha diária entre a ação correta e a ação ilusória.
Em nossas vidas “práticas”, a alma espiritual está longe de ser um fator externo e “objetivo”. Ela nos dá o contexto geral. A luta direta entre o que é correto e o que é ilusório ocorre dentro do eu inferior, ou alma mortal.
Ali encontramos, de um lado do campo de batalha, os setores da vida emocional e mental que são leais ao Eu Superior. Estes hábitos, intuições, impulsos, convicções e percepções estão ligados de modo imediato e silencioso ao que é Elevado através da ponte sagrada de Antahkarana. Prevalece neste território uma percepção da unidade de todos os seres. O lado elevado do eu inferior é o verdadeiro discípulo. O seu Mestre é a alma espiritual.
O aspecto inferior ou terrestre do eu inferior reúne no outro lado do campo de batalha todos os impulsos, sentimentos, percepções, hábitos e pontos de vista que obedecem à natureza animal em nós. Neste território prevalece um sentido de relativa separação entre os seres. No entanto, a lei da natureza ainda é a lei da cooperação. É graças à cooperação e ao amor no casal, por exemplo, que uma criança nasce, é protegida e educada.
O aspecto superior da alma mortal tem uma agenda definida. Ele trabalha na busca da sabedoria. Ele busca a ação correta e é protegido pela adoção de metas nobres em todos os aspectos da vida. Já o lado inferior da alma mortal tem suas prioridades dominadas pela busca da autopreservação e da autodefesa, o que é típico do mundo animal.
A teosofia nada tem a dizer contra o mundo animal, e tem muito a falar em seu favor. A natureza animal em nossa consciência deve ser amada, protegida, compreendida e aceitada. Quando o ser animal em nós sente que é valorizado e percebe que está em segurança, ele passa a cooperar melhor com o lado superior da alma mortal, que constitui verdadeiramente o Discípulo em nós.
A natureza animal do ser humano deve ser treinada e educada com uma amável firmeza, combinando energia e afeto. O dever do estudante é colocar limites às suas ações e alimentar corretamente o centro animal de consciência, assim como os pais fazem com seus filhos.
Para concluir, o lado superior da alma mortal tem uma tarefa dupla. De um lado, ele é o discípulo ou “filho” da alma espiritual. De outro lado, ele deve ser o educador e protetor da natureza infantil e da natureza animal do indivíduo. Quando ele atua com eficiência, o campo de batalha da nossa consciência se transforma num lugar de cooperação consciente entre a consciência divina, que ensina, e a consciência material, que aprende.
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O texto acima é reproduzido da edição de setembro de 2014 de “O Teosofista” (pp. 2-3).
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Veja aqui um vídeo de três minutos, produzido pelos nossos websites associados:
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