Afonso Lopes Vieira
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Nota Editorial:
Nos versos a seguir, a agulha que aponta
para o Norte corresponde a antahkarana, a ponte
entre eu superior e eu inferior, sempre voltada para o
Norte que é a evolução a caminho do mundo divino.
A estrela corresponde a Atma. Mas cabe perguntar-se
sempre a esse respeito, porque a verdadeira resposta, o
conhecimento direto, ocorre além do pensamento. O
ensinamento transmitido através de palavras pode apenas
apontar para a sabedoria, como a bússola aponta para o
Norte. O perguntar-se abre o caminho para a percepção.
(Carlos Cardoso Aveline)
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O Norte, que é? Acaso sabê-lo-á
a agulha que se vira para lá?
Que simpático rumo é o rumo dela?
Por que ama, assim constante, aquela estrela?
E para além da estrela, para além…,
quantas ainda a nortearão também?
Não o sabe, decerto, a agulha: e indica
uma coisa que sente, e que lá fica…
Assim em nós, recôndita, a indicar,
é a alma uma agulha de marear.
Não sabe, como a outra, o rumo incerto
que, todavia, marca, largo e aberto.
E, como a ela, a simpatia funda
para além nos conduz e nos afunda.
A agulha diz que lá – onde?, – brilha
um ponto, uma atração de maravilha.
A alma, como a agulha a nortear-se,
de si mesma se aparta e em si se ajunta,
para fixar-se, para perguntar-se…
A nossa vida toda, é uma pergunta.
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O poema acima foi reproduzido da obra “Ar Livre”, de Afonso Lopes Vieira, Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso, Lisboa, Portugal, 1906, 211 pp., pp. 151-152. A ortografia foi atualizada. O poeta Afonso Lopes Vieira viveu de 1878 a 1946 e esteve ligado ao movimento cultural Renascença Portuguesa, na cidade do Porto, no início do século 20.
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