Os Ensinamentos Teosóficos de uma Lenda Antiga
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
A autoilusão é com frequência pessimista, e as pessoas desinformadas podem pensar que “a vida é demasiado dolorosa” e “a lei da impermanência provoca sofrimento”.
 
A mania de vítima é pior que inútil, inclusive em círculos esotéricos.
 
Acusar o “Kali Yuga” pelos erros humanos é especialmente pouco inteligente. Todos os aspectos do Universo se desenvolvem e aprendem graças à lei abençoada da renovação e do renascimento. Ao invés de reclamar das dificuldades, podemos lembrar da filosofia de Epicteto e não perder energia com fatos que estão fora do nosso campo de ação, mas cumprir o nosso dever em relação a aquilo que depende de nós.
 
É a bem-aventurança, e não a dor, que está no centro da vida.
 
Todos podem expandir a sua conexão com este centro. As formas velhas e instrumentos antigos são naturalmente abandonados no tempo certo, de modo que um renascimento possa ocorrer. A cada “final” corresponde um novo “começo”. A decadência prepara a renovação, e toda “noite” do tempo tem uma missão: o seu dever ou dharma consiste em preparar a manhã luminosa do próximo dia.
 
A cegonha é uma variedade popular da fênix. Na mitologia egípcia, a alma reencarnante das pessoas era representada pela cegonha. A cada 1.000 ou 2.000 anos – e às vezes 3.000 anos, segundo as Cartas dos Mahatmas – a cegonha sagrada ou alma espiritual nos traz um novo bebê como veículo para que possamos existir por algum tempo na vida material. As encarnações acontecem conforme as necessidades evolutivas do espírito.
 
Tal como a garça, as cegonhas são símbolos da ciência divina. [1]
 
Levítico, 11: 13-19, afirma que é uma abominação comer a carne de certos pássaros, entre eles a garça, o pelicano e a cegonha. O pelicano é relacionado às vezes com a fênix, e tem sido usado como um símbolo de Cristo, além de estar associado ao sacrifício e à ressurreição (ou reencarnação). [2]
 
O Dharma da Fênix
 
Em um conto sobre a fênix, Hans Christian Andersen escreve:
 
No Jardim do Paraíso, sob a Árvore do Conhecimento, floresceu uma roseira. E ali, na primeira rosa, nasceu um pássaro. O seu voo foi como um raio de luz, a sua plumagem era belíssima, e a sua canção fascinante.”
 
“Mas quando Eva arrancou o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, quando ela e Adão foram expulsos do Paraíso, caiu da espada flamejante do querubim uma faísca no ninho do pássaro, que ardeu em fogo de imediato.”
 
“O pássaro morreu nas chamas; mas do ovo vermelho no ninho voou um novo pássaro – a ave Fênix única e solitária. A fábula conta que ela mora na Arábia e que, a cada cem anos, ela arde em chamas até a morte em seu ninho; mas a cada vez uma nova Fênix, a única em todo o mundo, surge do ovo vermelho.”
 
Andersen continua:
 
“… A Fênix não é uma ave da Arábia apenas. Ela voa no brilho da aurora boreal, nas planícies da Lapônia, e salta entre as flores amarelas no curto verão da Groenlândia. Na forma de uma mariposa empoeirada, ela voa sob as montanhas de cobre de Fablun e nas minas de carvão da Inglaterra, ou sobre o hinário que repousa nos joelhos do mineiro piedoso. Ela flutua numa flor de lótus das águas sagradas do Ganges, e os olhos da donzela hindu brilham quando a veem.” [3]
 
Em outro conto, Andersen aborda as dificuldades enfrentadas pelas cegonhas ao educar seus filhos. Um dos obstáculos está no fato de que as cegonhas, adultas e filhotes, são com frequência mal tratadas pelos seres humanos. A humanidade ainda tem muito o que aprender. [4]
 
A cegonha traz bons presságios. É um símbolo da piedade filial, porque acredita-se que alimenta os seus pais quando eles ficam velhos. Em alguns lugares afirma-se que é suficiente uma cegonha lançar um único olhar sobre uma mulher, para que esta fique grávida. Na China, este extraordinário poder vital é atribuído à garça.
 
A cegonha, a íbis e a garça combatem o mal. [5] Isso talvez explique os obstáculos que desafiam as cegonhas, segundo Andersen. A ave sagrada íbis é extensamente discutida na obra “A Doutrina Secreta”, de Helena P. Blavatsky.
 
Sendo uma doadora de vida assim como a fênix, a cegonha é um dos símbolos mais populares da longevidade. Afirma-se que as cegonhas podem viver muitos séculos. Quando uma cegonha chega à idade de 600 anos, ela deixa de comer e passa a alimentar-se com água apenas. Esta ave é especialmente admirada pelos estudiosos da alquimia taoista. [6]
 
A íbis e a cegonha são símbolos da Sabedoria eterna, sempre renovada, e expressam a força da compaixão universal. Vivendo em sintonia com estes pássaros lendários, o estudante de filosofia esotérica pode aprender a nascer de novo a cada dia no plano espiritual.
 
NOTAS:
 
[1] A ideia está no item “Garça-Real”, na página 460 do “Dicionário de Símbolos”, de Jean Chevalier, Alain Gheerbrant. O volume foi publicado por José Olympio Editora, oitava edição, Rio de Janeiro, 1994, 996 páginas. Título original: “Dictionnaire des Symboles”. Copyright em francês, 1982. Veja também o item “Cegonha” na página 218.
 
[2] “Pelicano”, na página 705 de “Dicionário de Símbolos”, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant. Veja a nota acima. 
 
[3] Clique para ver “The Phoenix Bird”, de Hans Christian Andersen.
 
[4] “The Storks”, em “The Complete Hans Christian Andersen Fairy Tales”, edited by Lily Owens, Avenel Books, New York, 803 páginas, 1981, pp. 27-30.
 
[5] Segundo parágrafo do item “Cegonha”, na página 218 do “Dicionário de Símbolos”, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant.
 
[6] Quarto parágrafo no item “Cegonha”, página 218 do “Dicionário de Símbolos”, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant.
 
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O texto “A Cegonha, a Fênix e a Reencarnação” foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas dia 23 de dezembro de 2022. Trata-se de uma tradução – feita pelo autor – do artigo original em inglês intitulado Storks, the Phoenix, and Rebirth.
 
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Pequenas Ações Concretas
 
* A teosofia deve ser aplicada à vida diária. Reveja o texto acima, escolhendo os pontos mais úteis. Registre em um caderno de anotações aquilo que chama atenção por ajudar você no momento atual. Comente com seus amigos sobre isso.
 
* O propósito de obter conhecimento é colocá-lo em prática.
 
* Aceite, e exerça, o privilégio de pensar com calma. Imprima os textos que estuda dos websites associados. Com frequência a leitura em papel permite uma compreensão mais profunda. Ao estudar um texto impresso, o leitor pode sublinhar e fazer comentários manuscritos nas margens, ligando diretamente o texto à sua realidade concreta.
 
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