Trabalhar Pela Humanidade Começa
Quando Renunciamos ao Desejo Pessoal
 
 
Joana Maria Ferreira de Pinho
 
 
A ciência das Estrelas
 
 
 
O sucesso de qualquer tarefa depende da energia motivadora e da qualidade da atenção. Quando nos concentramos apenas no desenvolvimento do trabalho nossas energias servem o processo criativo. Não importa quais os resultados do que tentamos empreender. Colocando o melhor de nós na tarefa ela resultará em ensinamento, felicidade e sentido de dever cumprido.
 
A Teosofia é a ciência das estrelas [1] e trabalha com dimensões de tempo e espaço eternas e infinitas. Aquele que trabalha para a causa teosófica  deve manter o foco na tarefa de semear a verdade e o altruísmo, sem esperar por recompensas. Focar a atenção na colheita que ainda não ocorreu não fará com que a semente dê fruto, mas dirigir a energia para o plantio faz toda diferença. A tarefa dos teosofistas é assim grandiosa e humilde.  Sem saberem como o luminoso alimento se irá desenvolver e quando ficará maduro, eles limitam-se a semear em abundância para que todos no futuro o possam colher. Um Mahatma dos Himalaias escreveu:
 
“… O dever do teosofista é como o do agricultor; abrir os sulcos e semear os seus grãos da melhor maneira possível: o resto é com a natureza, e ela é a escrava da Lei.” [2]
 
Há corações cheios de boa vontade que querem transformar o mundo num centro de conhecimento espiritual e de esperança. Mas a natureza humana é complexa e contraditória.  Ao mesmo tempo que há o impulso natural por viver o bem comum, surgem mecanismos construídos  por setores negativos do eu inferior que visam colocar a vida a serviço de desejos individuais.
 
A personalidade deve ser constantemente iluminada pela luz do autoconhecimento. O eu inferior não é o centro do universo e o mundo não gira à sua volta. O indivíduo que queira realmente agir de forma construtiva na natureza deve meditar nas seguintes palavras de “Luz no Caminho”:
 
“…O homem deve ter chegado àquele ponto em que vê a si mesmo apenas como mais um em meio às vastas multidões que vivem; apenas mais um, entre os grãos de areia levados para lá e para cá pelo mar da existência vibratória. Afirma-se que cada grão de areia no leito do oceano é levado a seu tempo até a praia e vive à luz do sol por um momento. O mesmo ocorre com os seres humanos. Eles são levados para lá e para cá por uma grande força; e cada um, no momento certo, sente sobre si os raios solares. Quando um ser humano é capaz de ver a sua própria vida como uma parte do todo, ele deixa de lutar para obter qualquer coisa para si mesmo.” [3]
 
Trabalhar pela humanidade começa quando renunciamos ao desejo pessoal. Os projetos tornam-se altruístas quando há neles o caráter puro e universal. E o caráter de um projeto não se encontra apenas nos planos das intenções e ideias. Ele está em contínua formação através daquilo que cada uma das suas partes cultiva num terreno que, apesar de parecer aos olhos de alguns como “próprio”, é um espaço coletivo.
 
Ninguém deve tentar fazer do trabalho teosófico um palco onde se encena altruísmo e se ganha aplausos. Teosofia não é um espetáculo de entretenimento. Ela é filosofia, ciência e arte transformadas em formas de vida. Qualquer tarefa que sirva a natureza divina é sagrada e o estudante deve-se esforçar por se tornar um ser completo ao cumprir todas elas. 
 
A sabedoria estelar só é dada a aqueles que entram em sintonia com as estrelas. De forma silenciosa e contínua elas dirigem seus raios de luz em todas as direções.  É necessário brilhar como elas brilham. Um Mestre de Sabedoria referiu numa Carta:
 
“ ‘Ousar, querer, agir e manter silêncio’ é o lema nosso e de todo cabalista e ocultista.” [4]
 
Nada é impossível para aquele que age com a energia pura do céu. Um Mahatma escreveu:
 
“Se ele não se cansar de tentar, pode descobrir o mais nobre de todos os fatos, seu verdadeiro EU. Mas terá que atravessar muitos níveis até chegar a Ele.” [5]
 
O autoconhecimento é a via que conduz à consciência universal e à sabedoria divina. Ele é processo alquímico através do qual o estudante resgata a substância primordial. Não há outra forma de avançar no aprendizado teosófico que não seja por esforço próprio e é necessário que o estudante se transforme gradualmente numa força virtuosa. Em todos os tempos a verdade está sempre disponível para aqueles que partem em sua busca tendo o coração puro e a firme intenção de plantar a bondade por todo o mundo.
 
NOTAS:
 
[1] Ideia referida por um Mahatma dos Himalaias na Carta 111 de “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Vol. II, p. 207.
 
[2] Da obra “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Brasília, 2001, Vol. II, 395 pp., Carta 111, pp. 206-207.
 
[3] “Luz no Caminho”, de M. C., The Aquarian Theosophist, Portugal, 2014, 85 pp., pp. 75-76.
 
[4] Reproduzido da obra “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Ed. Teosófica, Brasília, 2010, 295 pp., Carta 65, p. 241.
 
[5] Da obra “Cartas dos Mahatmas Para A.P. Sinnett”, Ed. Teosófica, Vol. II, Carta 111, p. 209.
 
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
 
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Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
 
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