Respeitando a Mente
Como um Espaço Sagrado
Joana Maria Ferreira de Pinho
O autoconhecimento permite descobrir o centro do ser – o seu ponto estável e harmônico, fonte da consciência universal.
A teosofia nos ensina a manter posição no centro e a agir a partir dele. Há uma série de ideias erradas sobre nós mesmos, sobre a vida e o ser. A descoberta da arte de bem viver traz a percepção de que somos seres divinos adormecidos.
Acordar para a unidade do Todo faz surgir o sentido de responsabilidade e passamos a nos esforçar para agir positivamente na vida. Mas por vezes perdemos o foco e a mente segue ao sabor do vento, conduzida pela força dos velhos hábitos e das energias exteriores.
A ação mental é o grande poder que permite criar, preservar e renovar a vida. Através do pensamento fazemos fatos acontecerem e damos forma à realidade. O controle da mente depende do reconhecimento de que somos senhores dela.
Tudo é Mente, e a ciência da Alma nos ensina a expressar a consciência elevada exercendo o domínio sobre nossos pensamentos. A teosofia mostra como purificar a mente, conservá-la clara e sã, e dominá-la nos vários planos com sabedoria e eficácia. Através da sua prática, passamos a respeitar e a usar o espaço mental como um espaço sagrado.
Nesta arte são necessários vários instrumentos e todo um saber que nos capacite de seu uso correto. A atenção é uma das coisas mais importantes para a prática de Raja Ioga. Através da atenção é possível tirar o máximo de benefício das nossas faculdades e viver de forma equilibrada. Em conjunto com ela andam a renúncia e a vontade.
A atenção forma a base do poder da vontade e fortalece seu exercício. A vontade nos faz dirigir a mente em um sentido exigindo que renunciemos a todos os outros. E quando a atenção não é focada com habilidade somos impedidos de usar corretamente a vontade. O estudante deve, pois, esforçar-se para cultivar a atenção e colocá-la a serviço da sabedoria.
A concentração é fundamental no estudo teosófico. Ela é um instrumento que permite operar e dirigir a mente, alcançar a paz interior e agir de forma correta sobre a matéria. Evitando o desperdício de energia e estabelecendo harmonia entre a atenção concentrada e a vontade, é possível manter posição no ponto ótimo e elevar a consciência.
A palavra atenção é derivada das palavras latinas “ad” e “tendere”, e significa “a ação de estender em certa direção”. Através dela a mente pode ser dirigida a um determinado objeto, focar nele toda a energia e analisar todo o detalhe, proporcionando a percepção correta.
Ramacháraka esclarece:
“A atenção foi definida como focalização da consciência (…). Podemos compará-la à ação da lente, por meio da qual os raios solares são concentrados em um objeto, do qual resulta que o calor se acumula num pequeno ponto dado, e este calor pode aumentar a sua intensidade por muitos graus, até que venha a acender um pedaço de lenha, ou fazer a água ferver e evaporar-se. Se os raios não tivessem sido focalizados, os mesmos raios e o mesmo calor ter-se-iam estendido por uma grande superfície, e o efeito e o poder seriam diminuídos. E assim se dá com a mente. Se lhe permite estender-se por todo o campo de um objeto, poderá exercer somente pouco poder, e os resultados serão fracos.”
E acrescenta:
“Se, porém, passa pela lente da atenção e se focaliza primeiro a uma parte da matéria, depois a outra, e assim por diante, dominará toda a matéria minuciosamente e obterá um resultado que parecerá quase maravilhoso a quem não conhece o segredo.” [1]
Além de proporcionar conhecimento, a atenção potencializa nossas habilidades em todos os planos. Quanto maior a capacidade de focar a consciência, maior é o grau de desenvolvimento de nossos sentidos inferiores e superiores. A pessoa dotada de grande atenção tem seus sentidos desenvolvidos.
Em nossos estudos reconhecemos que os estudantes enfrentam vários desafios. O aprendiz percebe, cria e desenvolve toda uma nova estrutura, mas os velhos padrões lutam para sobreviver.
Como obter os melhores resultados?
Ramacháraka dá a seguinte indicação:
“Para obtermos os melhores resultados, devemos fazer o nosso trabalho, concentrando-nos nele e excluindo, quanto for possível, toda outra ideia ou outro pensamento. Em tais casos deveríamos até nos esquecer a nós mesmos – a personalidade – porque nada é tão nocivo e destrutivo à boa marcha do pensamento como uma intrusão pouco saudável da consciência pessoal.” [2]
A atenção correta abre caminho para a sabedoria. Dirigida ao ser interno, ela auxilia no cultivo da consciência cósmica e nos aproxima da bem-aventurança.
NOTAS:
[1] “Raja Yoga”, de Yogue Ramacháraka, Coleção Yogue, Editora Pensamento, 1977, São Paulo, 211 pp., Lição 5, p. 79.
[2] “Raja Yoga”, de Yogue Ramacháraka, Editora Pensamento, p. 88.
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O texto acima foi publicado pela primeira vez na edição de março de 2014 de “O Teosofista”. Joana Maria Pinho é associada da Loja Independente de Teosofistas.
Sobre o poder da atenção, leia também os textos “Meditação pelo Despertar Planetário”, “Meditando Pelo Despertar de Portugal”, “Meditando Pelo Despertar do Brasil”, e “O Centro do Círculo de Pascal”. Eles estão disponíveis em nossos websites associados.
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A respeito da missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de 2013 por “The Aquarian Theosophist”. O volume pode ser comprado através de Amazon Books.
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