O Fundador da Loja Unida
Examina a Arte de Agir Corretamente
Examina a Arte de Agir Corretamente
Robert Crosbie
Robert Crosbie (1849-1919)
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Nota Editorial
Na primeira metade do século 21, é comum ver
cidadãos protegerem o erro e a falsidade em nome
da compaixão ou da misericórdia, e até acusarem
aqueles que defendem a ética e a justiça de serem
arrogantes, ou autoritários. Ao mesmo tempo,
divulga-se a ilusão de que o ser humano não precisa
aprender com os seus erros: bastaria acreditar cegamente
neste ou naquele deus, mestre ou ritual, para ser salvo.
É possível deixar de lado a Justiça, fazendo
uso apenas da Compaixão? É um dever deixar
de lado a Ética, em nome da fraternidade?
Na segunda década do século 20, um teosofista
inglês levantou esta questão sempre atual. A lei
do Carma – segundo a qual “cada um deve colher o
que plantou” – lhe parecia ser “impiedosa”. A
questão foi submetida a Robert Crosbie, o principal
fundador da Loja Unida de Teosofistas, LUT. O
texto a seguir é a primeira parte da resposta de
Crosbie. Acrescento a ele três notas numeradas.
(Carlos Cardoso Aveline)
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Você pediu que eu comentasse as questões levantadas pelo nosso irmão inglês; mais especialmente, em relação ao “carma ser tão destituído de caridade como o Deus da Bíblia”. Mas ele está levando em conta que a Compaixão não é algo oposto à Justiça, e que a mais completa justiça é a mesma coisa que a mais completa compaixão?
Alguns entendem que o significado da Compaixão é que há uma permissão para escapar dos resultados das más ações; mas isso não seria justiça, e tampouco seria misericordioso em relação a aqueles que foram atingidos pela má ação. Ele deve lembrar a definição de Carma: uma tendência do Universo, que nunca se desvia e não se dispersa, no sentido de restaurar o equilíbrio, e essa tendência opera incessantemente. O Carma é a lei intrínseca, e a sua operação deve, portanto, ser impessoal. Algumas pessoas podem considerar isso “impiedoso”, mas essa atitude significa apenas que elas querem escapar de consequências que são desagradáveis.
Há apenas duas maneiras de olhar para esta questão: ou o Universo é governado pela Lei e está sob a Lei, ou então tudo é um Caos. Em cada aspecto da Natureza, nossa experiência aponta para o fato de que a Lei reina em toda parte. Tudo o que acontece, em qualquer lugar, acontece sob a Lei. O nosso controle dos elementos, o nosso uso dos materiais na Natureza, só é possível porque a mesma coisa pode ser feita quando as mesmas condições estão presentes. Tendo descoberto algumas das leis da eletricidade, por exemplo, podemos dirigir aquele fluido ou força, e usá-lo para muitos propósitos diferentes.
Assim como a Lei reina no mundo material, também podemos ver que ela também governa no mundo mental e no mundo moral. A palavra “Carma” significa simplesmente “ação” e a sua consequente “re-ação”. Não há Carma [individual], a menos que haja um ser para criá-lo e para sentir seus efeitos [1]; efeitos desagradáveis indicam causas que produziram algo desagradável no mundo, afetando outros, e encontrando a restauração do equilíbrio no ponto de perturbação. Portanto, só pode haver uma consideração, e essa consideração é – Justiça. Por que motivo iríamos desejar que fosse feita alguma coisa, exceto Justiça?
A Bíblia diz, “O que um homem planta, isso ele também colherá”, e “Não resista ao mal e ele fugirá de você”. O que é o “mal”, exceto a colheita dos efeitos do erro cometido? Se nós tentamos evitar a restauração do equilíbrio, o mal não fugirá de nós, mas aparecerá outra vez. Mas se nós aceitamos tudo como justo e correto, então o “mal” desaparece. Não devemos aplicar a ideia de Carma apenas ao que chamamos de bem e mal na vida física.
A Terra gira em sua órbita, levada cada vez mais pelo Sol em sua própria órbita maior; ela envelhece ao longo dos ciclos; ela muda de aparência, e entra em estados materiais que sequer sonhamos. Esse é o Carma da Terra. Cedo ou tarde, enquanto ainda gira em sua órbita, o nosso planeta alterará lentamente a posição dos seus polos e levará a faixa fria de gelo para onde agora estão as cenas de verão – esse é o Carma da Terra e dos seus habitantes. Como, então, a ação do Carma será restringida em relação aos detalhes de uma vida, ou como se pode julgar o Carma com base nisso? Devo dizer que o Carma é a própria Compaixão, porque não sei de nada que possa evitar que eu ou qualquer outro ser obtenha o que é seu de acordo com a lei exata e certeira:
Ela não conhece ira nem perdão, é totalmente verdadeira
Ao avaliar as proporções de algo, e ao pesar fatores em sua balança;
O tempo nada significa, ela julgará amanhã,
Ou depois de muitos dias.
Assim é a Lei que move todas as coisas na direção do que é correto,
E da qual ninguém pode afastar-se ou permanecer à parte;
A sua essência é Amor, as suas metas
São a Paz e a mais doce Realização. Obedeça-a! [2]
Ele pergunta se nós mudamos a nossa “religião”. A teosofia não é uma “religião”, porque as religiões podem ser mudadas, mas diante de um conhecimento que cada um pode tornar seu não surge a questão de mudança, de medo, ou dúvida. Sabemos de todas as alegações, dos tipos mais variados, feitos por sociedades e indivíduos. [3] Como pode alguém avaliar o peso de cada um deles, se é que há algum peso?
Da seguinte maneira: se lhe pedem que aceite qualquer coisa só porque alguém disse aquilo, e se não são dados ao mesmo tempo os meios para que você possa ver e conhecer por si mesmo antes de aceitar a afirmação, o caminho seguro é recusar a aceitação. Deste modo você evita abandonar o seu próprio discernimento para seguir de olhos fechados a opinião de outrem.
NOTAS:
[1] Acrescentei a palavra “individual” entre colchetes. O universo inteiro está eternamente em movimento e o seu movimento é regulado pela Lei do Carma. Não há coisa alguma fora da Lei. A Lei do Carma é onipresente tanto durante os Manvântaras (períodos de manifestação do Universo) como nos Pralayas (seus períodos de descanso). No entanto, a existência de carma individual depende da existência de um ser individualizado. (CCA)
[2] Esta é uma citação da obra “The Light of Asia” (“A Luz da Ásia”), de Edwin Arnold, Theosophy Co., Los Angeles, ver pp. 218-219. (CCA)
[3] Alusão à falsa clarividência e às iniciações imaginárias de indivíduos desinformados como Annie Besant, Charles Leadbeater e Geoffrey Hodson, entre tantos outros. A pseudoteosofia transmite a ilusão segundo a qual a crença cega permite escapar à lei do carma. (CCA)
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O texto acima é traduzido do livro “The Friendly Philosopher”, de Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 416 pp., 1945, ver pp. 30-32. Trechos dele foram publicados em português na edição de outubro de 2007 de “O Teosofista”, sob o título de “Entre a Justiça e a Compaixão”.
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Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
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