Um dos Cofundadores do Movimento
Teosófico em Sete de Setembro de 1875
Carlos Cardoso Aveline
William Q. Judge (1851-1896)
Ao lado de Helena Blavatsky e Henry Olcott, William Quan Judge foi um dos três principais fundadores do movimento teosófico moderno.
Judge nasceu em Dublin, na Irlanda, a 13 de abril de 1851. Quando tinha 13 anos de idade, sua família emigrou para os Estados Unidos. Ele se naturalizou norte-americano aos 21 anos e graduou-se como bacharel em direito, especializando-se, como advogado, em direito comercial.
Em sete de setembro de 1875, Judge tinha pouco mais de 20 anos de idade quando ajudou a fundar o movimento teosófico em Nova Iorque. No dia seguinte, oito de setembro, ele redigiu a ata da segunda reunião do movimento, formalizando a decisão de criar uma Sociedade voltada para o estudo de ocultismo, da cabala e das tradições esotéricas. Em 17 de novembro do mesmo ano foi feita apenas a primeira reunião de natureza ampla e pública.
Alguns anos mais tarde, H.P. Blavatsky e Henry Olcott foram para a Índia, e o movimento nos Estados Unidos teve durante certo tempo uma escassa atividade. Judge não desistiu. A partir de 1886, reuniu condições de liderança e o movimento norte-americano passou a ganhar grande força.
Durante alguns anos Judge foi um dos colaboradores mais próximos de Helena Blavatsky. Fundou e dirigiu a revista “Path”, escrevendo grande quantidade de artigos teosóficos. Entre suas obras está “Aforismos de Ioga, de Patañjali”, uma versão simplificada dos Ioga Sutras para o público ocidental. Escreveu o livro “O Oceano da Teosofia” (que tem várias falhas de conteúdo, além de não citar as suas fontes) e produziu uma versão da obra indiana “Bhagavad Gita”. Judge mantinha contato por carta com inúmeros estudantes. Uma coleção de suas Cartas, girando em torno do tema do discipulado, foi publicada sob o título “Letters That Have Helped Me” (“Cartas Que Têm Me Ajudado”).
Quando H.P. Blavatsky morreu, em 1891, William Judge era o vice-presidente mundial da Sociedade Teosófica. Dois ou três anos depois, Annie Besant e Henry Olcott deram os primeiros passos ostensivos no sentido de fazer com que o movimento abandonasse o rumo original traçado pelos Mahatmas. Coube a Judge defender a principal fundadora do movimento teosófico e a teosofia autêntica. Infelizmente, fez isso de maneira imperfeita, enquanto ele mesmo já perdia o foco.
Em 1894, Annie Besant acusou Judge de forjar cartas dos Mestres de Sabedoria. As acusações provocaram a primeira divisão formal do movimento, em 1895. O que estava acontecendo era uma luta pelo poder. Os dois lados imaginavam, erradamente, estar em contato verbal e ostensivo com os Mestres, coisa que na verdade havia cessado com o afastamento de Blavatsky. Os próprios Mestres haviam anunciado nas suas Cartas que Blavatsky era e continuaria sendo sempre o único elo de contato verbal e externo. No enfrentamento político após a morte de Blavatsky, Annie Besant se afastava mais do ensinamento original, e William Judge permanecia mais junto do ensinamento autêntico.
Ocorrida a separação, a maior parte da seção norte-americana apoiou William Judge, mas a situação do movimento iria piorar mais. Devido a uma doença crônica e a outros fatores, Judge morreu pouco depois da divisão do movimento. Sua morte, a 21 de março de 1896, fortaleceu ainda mais a estratégia política de Annie Besant. Além disso, após a morte de Judge, seguiram-se conflitos e disputas de poder entre os seus seguidores.
As falhas de discernimento de Judge, que talvez tenham contribuído para a sua morte prematura, fizeram com que após o seu falecimento os seus seguidores se dividissem e perdessem ainda mais a noção do rumo correto. Criou-se então em algumas mentes a impressão de que Judge era um grande iniciado, quando na verdade ele foi apenas um discípulo de Blavatsky que cometeu erros básicos e públicos durante a vida dela e erros ainda mais lamentáveis depois que Blavatsky saiu de cena. Veja por exemplo “Blavatsky Corrects W.Q. Judge”. Leia também o artigo “Anotações Sobre o Carma”, inclusive a nota editorial final, que menciona a maneira errada com que Judge encara a Lei do Carma.
Os erros deste teosofista não invalidam o fato de que ele foi um colaborador importante do movimento esotérico, mas servem para ilustrar a realidade prática. Devemos encarar os teosofistas como seres humanos e saber que o erro faz parte da aprendizagem. Para examinar melhor por que motivo precisamos de uma linhagem teosófica que priorize claramente o ensinamento dos Mestres e de HPB, vendo com realismo os fracassos lamentáveis de Besant e Judge, leia o texto “Estudos Sobre a Pré-História da LIT”.
A Loja Unida e a Loja Independente
O bom senso e a sensatez começaram a ser resgatados até onde isso era possível em 18 de fevereiro de 1909, quando um pequeno número de estudantes fundou em Los Angeles a Loja Unida de Teosofistas, LUT. O seu principal líder era Robert Crosbie, um dos colaboradores mais próximos de Judge. A LUT surgiu tendo como prioridade a preservação do bom senso. As metas eram o estudo e a vivência dos ensinamentos de H.P. Blavatsky e William Judge.
Em língua portuguesa, os escritos de William Q. Judge passaram a ser mais conhecidos a partir de 2009, com o surgimento da LUT no Brasil e em Portugal. Sete anos depois, em setembro de 2016, a loja luso-brasileira da LUT anunciou o seu respeitoso afastamento da LUT e decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas.
Priorizando um compromisso com o futuro humano à luz do ensinamento de Helena P. Blavatsky e das Cartas dos Mahatmas, os teosofistas da Loja Independente têm admiração pela vida e pelo trabalho de William Judge, a quem consideram um discípulo de HPB. Eles são gratos à LUT pelos serviços decisivos que prestou ao movimento esotérico desde 1909.
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de abril de 2010 de “O Teosofista”. Foi atualizado pelo autor em 15 de abril de 2024.
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Leia mais:
* A Construção Invisível (de António Ramos Rosa).
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