Significados Numerológicos da
Independência do País, em Março de 1808
Carlos Cardoso Aveline
O quadro acima representa o desembarque da Família Real portuguesa
no Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808. À direita, aparece o morro Pão de Açúcar.
no Rio de Janeiro em 7 de Março de 1808. À direita, aparece o morro Pão de Açúcar.
“Há uma anamnese das nações,
como há uma anamnese dos indivíduos…”
(Oliveira Vianna em “Evolução do Povo Brasileiro”,
Companhia Editora Nacional, 1933, 327 pp., ver p. 30)
Conhecer o passado liberta o indivíduo para viver melhor o momento presente. Com as lições aprendidas, é possível desenvolver mais plenamente o potencial positivo de qualquer situação. Este é um axioma da arte de compreender a passagem do tempo.
Quando se olha para o processo da independência do Brasil, por exemplo, é possível localizar algumas particularidades significativas para o público interessado em filosofia esotérica, que contribuem para revelar a vocação de longo prazo do país.
É um fato inquestionável que o Brasil deixa de ser colônia – e portanto passa a ter vida de fato independente – no momento em que o príncipe regente português, Dom João VI, chega ao porto do Rio de Janeiro, a capital brasileira, acompanhado da rainha Dona Maria I e de toda a corte de Lisboa.
Isso ocorre no dia sete de março de 1808.
O desembarque, com grande pompa e profunda felicidade da população local, aconteceu somente no dia seguinte. Mas a chegada ao porto pode ser considerada mais importante como evento histórico. É o dia sete que consta nas “Efemérides Brasileiras” organizadas pelo Barão do Rio Branco. E foi no dia sete de março de 1809 que teve lugar, na Capela Real, no Rio de Janeiro, uma Oração de Ação de Graças pelo primeiro aniversário da chegada da família real.[1]
A importância específica da data de sete de março, para a filosofia esotérica, fica clara quando levamos em conta o que Helena P. Blavatsky escreveu a respeito em “A Doutrina Secreta”. O “sétimo dia do terceiro mês”, ou sete de março, é um dos três dias, ao longo ao ano, em que há condições especialmente favoráveis para a influência cósmica benéfica e para os atos de altruísmo superior.[2]
Em sete de março de 1808, portanto, o Brasil deixa de ser colônia e passa a ser a sede do reino Português em um dia marcado pela ação de energias planetárias favoráveis.
O que ocorreu com a chamada “proclamação da independência” às margens do riacho Ipiranga, em sete de setembro de 1822, foi apenas a separação formal e política entre Brasil e Portugal.
A independência cultural do país também ocorreu em 1808, conforme fica claro quando vemos o trabalho de Afrânio Coutinho sobre a história da literatura brasileira. Afrânio Coutinho escreve:
“… A data histórica de 1808 impõe-se como o marco que divide dois momentos bem caracterizados de nossa evolução: o colonial e o autonômico, porque não é possível separar o desenvolvimento histórico, político, econômico, social, do cultural, isto é, do literário.” [3]
Segundo o historiador clássico Oliveira Lima, nossa nação surgiu e foi estabelecida – não sem sabedoria – durante o governo de Dom João VI.
O que começa em sete de março de 1808 culmina, pois, e é completado, em sete de setembro de 1822.
Podemos ver nas duas datas a presença numerológica do sete. A influência oculta que este número exerce nas culturas de todos os povos e em todos os tempos é estudada por Helena Blavatsky no fascinante texto “O Número Sete”.
Ela escreveu, citando um autor do século 19:
“O número sete era considerado sagrado não só em todas as nações com culturas próprias da antiguidade e do Ocidente, mas tem sido visto com a maior reverência também pelas nações mais recentes do Ocidente. A origem astronômica deste número está confirmada além de toda dúvida. O homem, sentindo desde tempos imemoriais que depende de forças celestes, sempre e em todo lugar considerou que a Terra estava sujeita ao céu. Assim, o corpo celeste maior e mais iluminado tornou-se para ele o poder mais importante e mais elevado; e assim eram os planetas que toda a antiguidade contou como sendo sete. Ao longo do tempo, eles se transformaram em sete divindades. Os egípcios tinham sete deuses originais e mais elevados; os fenícios tinham sete kabiris; os persas, sete cavalos sagrados de Mitra; os parsis, sete anjos opostos a sete demônios, e sete moradas celestes em paralelo com sete regiões inferiores. Para representar essa ideia mais claramente em sua forma concreta, os sete deuses eram frequentemente descritos como uma divindade com sete cabeças. Todo o céu estava sujeito aos sete planetas; portanto, em quase todos os sistemas religiosos nós encontramos sete céus.”[4]
Do ponto de vista astrológico, as datas de sete de março e sete de setembro estão em exata oposição.
Uma oposição, em astrologia, implica uma relação simétrica e de complementaridade, em que um extremo completa o outro – se souberem aprender um com o outro. É normalmente considerado um aspecto difícil e que implica separação. A oposição, no entanto, é o mesmo aspecto de 180 graus que existe entre sol e lua durante o fenômeno da Lua Cheia.
Uma oposição também tem, consequentemente, um significado positivo de iluminação, de que “a compreensão é possível”. Quando os dois fatores ou centros em oposição aprendem conscientemente um com o outro, completa-se o círculo maior de 360 graus e a compreensão global é alcançada.
Em sete de março de 1808, pois – sob o signo de Peixes, que é apto para ver o todo e o conjunto – a corte portuguesa e a direção do império passavam a estar no território brasileiro. E em sete de setembro de 1822, sob o signo de Virgo – que é apto para ter espírito crítico e distinguir o joio do trigo -, o Brasil se separava das cortes portuguesas para formar um império próprio.
A simetria presente nos fatos históricos e nos signos zodiacais em que estes dois fatos ocorreram é notável. As datas estão a precisamente seis meses de distância uma da outra, metade do ciclo anual. E isso não é tudo.
Ainda antes da separação virginiana de 1822, é no dia pisciano de sete de março, no ano de 1821, que Dom João VI assina no Rio de Janeiro um decreto anunciando que voltará para Portugal, e que Dom Pedro ficará no Brasil como seu príncipe-regente.
Dom João havia saído do porto de Lisboa para o Brasil em 1807. Agora ele deixa o Rio de Janeiro de volta para Lisboa no ano de 1821, ou seja, precisamente dois ciclos de sete anos (catorze anos) mais tarde.
Podemos perceber também que entre a independência de fato – em sete de março de 1808 – e a independência como separação política – que faz o processo culminar em sete de setembro de 1822 -, transcorrem precisamente dois ciclos de sete anos, ou seja, 14 anos, 1808-1822.
O dia sete de março de 1808 tem, portanto, um significado enorme e central na história do Brasil.
Em março de 2008 se completaram 200 anos da independência político-administrativa do nosso país, e o Brasil ingressou no terceiro século da sua independência real. O número três corresponde à “tríade” pitagórica, à “trindade” cristã e à “trimurti” hindu.
É o número da harmonia interna e do equilíbrio dinâmico.
NOTAS:
[1] “Efemérides Brasileiras”, Barão do Rio Branco, Senado Federal, Brasília, 1999, 734 pp., p. 148. Hélio Vianna, em “História do Brasil”, Edições Melhoramentos, SP, 1972, Segunda Parte, página 13, também assinala a chegada, dia sete, e não o desembarque, ocorrido dia oito. Além disso, no dia 07 de março de 1809 foi feita uma Oração de Ação de Graças na Capela Real, no Rio de Janeiro, porque este era o “dia de aniversário da feliz chegada de sua alteza Real a esta cidade”, segundo documento impresso na Impressão Régia em 1809. A oração foi recitada por frei Francisco de S. Carlos: ver “A Literatura no Brasil”, direção de Afrânio Coutinho, volume dois, segunda edição, “Romantismo”, Editorial Sul Americana S.A., Rio de Janeiro, 1969, 336 pp., ver p. 41, nota de rodapé número 10.
[2] “A Doutrina Secreta”. Ver “The Secret Doctrine”, H. P. Blavatsky, edição fac-similar da edição original de 1888, Theosophy Co., Los Angeles, pp. 178-179, volume II.
[3] Ver “A Literatura no Brasil”, direção de Afrânio Coutinho, volume dois, segunda edição, Romantismo, Editorial Sul Americana S.A., Rio de Janeiro, 1969, 336 pp., ver p. 34, e também, como ampliação do ponto de vista, p. 35.
[4] “O Número Sete”, H. P. Blavatsky, texto disponível em nossos websites associados.
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Para ler mais: “Dom João VI no Brasil”, Oliveira Lima, terceira edição, Topbooks, Rio de Janeiro, 1996, 790 pp.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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