A Morte Não é Capaz de Separar as Almas
Carlos Cardoso Aveline
Quando morre uma pessoa próxima a um estudante de teosofia – alguém com quem se tem profunda afinidade – qual é a atitude correta?
A dor da perda deve ser vivida de frente, e naturalmente passará por diferentes etapas em seu desenvolvimento, no mundo emocional de quem fica. Por outro lado, toda dramatização emocional desnecessária deve ser evitada. Nenhum dramalhão é bem-vindo numa hora destas.
A pessoa que morreu só morreu na aparência. Quem fica, se conhecer algo do processo da morte e da reencarnação, tem um dever ético a cumprir. Em primeiro lugar, é preciso não aumentar a confusão. Em segundo lugar, toda pessoa sensata deve lançar paz, compreensão e lucidez no espaço psicológico e astral.
A pessoa morreu para o plano das aparências, o plano físico, mas não morreu de fato. Está viva em outro plano da realidade.
O indivíduo já não existe mais como um conglomerado coeso de sete princípios de consciência amarrados entre si pela vida física [1], mas existe como um conglomerado de consciências individuais, sutis, que agora já não tem qualquer conexão imediata com o mundo dos cinco sentidos.
A alma que inaugura o seu processo pós-morte está em contato com quem fica, não através de pensamentos com palavras, mas através de uma unidade substancial, por osmose, incluindo transmissão e comunhão de sentimentos, com aqueles que lhe são espiritual e emocionalmente próximos.
O pós-morte é um reflexo da vida.
Como tudo no Universo é potencialmente recíproco, há casos em que aquele que se vai deixa para trás (ao subir) pedaços da sua alma que cuidam dos que ficam e a quem ele ama. Não há fonte maior de felicidade do que querer ajudar e elevar os outros.
Bom senso é fundamental. Quaisquer “contatos mediúnicos” são um erro dos mais graves que se pode fazer. Eles atropelam, distorcem e desvirtuam o complexo processo alquímico do pós-morte. Livre do corpo, a alma precisa reencontrar-se a si própria operando inteiramente por afinidade (sem pensar, porque já não há pensamento novo). Necessita reencontrar um rumo; o seu próprio rumo; e o rumo aponta para o alto, o Devachan, a consciência celestial, o “local dos deuses”.
Um contato não-verbal ocorre por afinidade – no plano da substância – entre as pessoas que ficam e o ser que se vai. Este diálogo sem palavras não deve ser perturbado por sentimentos do baixo astral. A primeira responsabilidade da pessoa sensata é evitar o masoquismo desnecessário, ao mesmo tempo que se sofre a perda sem procurar por anestesia.
O correto é desejar (sem palavras) e visualizar (naturalmente) uma boa transição da alma agora liberada do plano físico. Cabe vê-la avançar luminosamente na direção do mais alto, do mais nobre, das novas etapas (impessoais, porque espirituais) da vida.
Se ondas de dor ocorrem, que venham. Reprimi-las é ruim. Vivê-las – sabendo que fazem parte do processo maior das encarnações sucessivas ao longo de dezenas e centenas de milhares de anos -, é saudável.
A morte não é capaz de separar as almas.
A compreensão correta da morte física por parte de quem fica ajudará por osmose a pessoa que deixou o plano material. Cabe ler mais a respeito e consolidar pelo estudo uma visão adequada do processo. [2] A leitura de textos legítimos, cuja base firme está nos ensinamentos clássicos de teosofia, ajuda não só a quem vive a perda, mas, por osmose, beneficia a quem mudou sua residência para o plano astral. Ali a alma ficará (na maior parte dos casos) durante semanas ou meses, no máximo alguns poucos anos, até estabelecer-se no céu da consciência espiritual plena para ali passar uma pequena eternidade, antes de renascer. O longo tempo de consciência celeste apaga a memória consciente, preservando a memória profunda.
Só os poucos espíritos que já experimentam o Céu na Terra podem voltar ao mundo físico reencarnando com intervalos curtos entre uma encarnação e outra.
Estes podem renunciar ao Devachan para ajudar a humanidade que sofre.
Deste modo, quando alguém perde um ser querido, ao invés de pensar na sua própria dor, deve pensar no caminho luminoso da alma que abandonou o mundo dos cinco sentidos, e agora avança na direção da bênção transcendente e da paz espiritual estável.
NOTAS:
[1] Veja “Os Sete Princípios da Consciência”.
[2] Clique para examinar uma lista de textos sobre A Reencarnação e a Lei do Carma.
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O texto acima foi publicado nos websites associados dia 19 de maio de 2021.
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Leia “O Processo Entre Duas Vidas” e “Vida, Morte e Iluminação”.
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