Um Poeta Ensina Ética e Sabedoria, em Versos
António Corrêa D’Oliveira
Uma rua de Lisboa
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Nota Editorial de 2020:
Os versos a seguir são reproduzidos do livro
“Dizêres do Povo”, do poeta português António
Corrêa D’Oliveira, Livrarias Aillaud & Bertrand,
Paris – Lisboa, Livraria Francisco Alves, RJ, SP, BH,
segunda edição, 146 páginas, sem data (provavelmente
entre 1912 e 1929). A primeira edição é do ano de 1911.
A ortografia dos Dizeres foi atualizada. As páginas
estão indicadas entre parênteses ao final de cada conjunto
de versos. António Corrêa D’Oliveira viveu de 1879 a 1960.
(Carlos Cardoso Aveline)
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– Nem tudo o que luz é ouro. –
Às vezes o riso é mágoa…
Quantos olhos de tristeza
Parecem fogo e são água! (73)
***
– Quem tudo quer, tudo perde, –
Palavras que eu não direi:
Achei-te, quis-te, quiseste-me:
Eu tudo quis, tudo achei. (70)
***
– Muito abarcas, pouco abraças. –
Sem vela que importa um rumo?
Vê que não deixes a chama
E corras atrás do fumo… (74)
***
– Faze o bem e fecha os olhos:
Fecha-os, não olhes a quem. –
Não vejas o mal dos outros,
Vejam os outros teu bem. (76)
***
– Chega-te aos bons e serás
Um dos bons. – Depois de o seres,
Chama a ti os maus: e fá-los
Iguais a ti, se puderes. (77)
***
– Passa a nuvem, fica a chuva. –
Quando se chora por bem,
A dor é nuvem: e as lágrimas
Regam a terra também. (82)
***
– Palavra fora da boca,
É pedra fora da mão. –
Mas as pedras vão, e ficam;
As palavras vêm, e vão. (25)
***
– É como o corpo sem alma
A casa sem ter mulher. –
Não tem luz dentro de si,
Dê-lhe o sol como lhe der. (64)
***
– O sorriso é o sol do Lar. –
Feliz quem no mundo alcança
Acordar à luz de um riso
De mulher ou de criança. (65)
***
– De alto cai quem alto sobe. –
Vai subindo… Se caíres,
Aprende por onde cais
Para de novo subires. (32)
***
– O céu é de quem o ganha. –
Toda a ventura se encerra
Em ganhar na terra o céu,
Transformando em céu a terra. (128)
***
– Água mole em pedra dura
Desgasta-a, de noite e dia. –
Mais pode alegre brandura
Do que dureza sombria. (78)
***
– O que arde cura. – Talvez.
Mas a doçura também:
Se tens bálsamo, não toques
Com ferro em brasa em ninguém. (79)
***
– A Ambição nunca descansa, –
Voa, sobe, noite e dia:
Cansam, correndo atrás dela,
O Bem, a Paz, a Alegria. (87)
***
– Quem se humilha mais se exalta. –
Bendita a água rasteira
Que sobe ao céu, feita em nuvem;
Abre em rosas na roseira. (89)
***
– Mais vale tarde que nunca. –
Medidas que o tempo tem:
Para o mal, é sempre cedo;
Nunca é tarde para o bem. (90)
***
– Quem não olha para diante
Atrás fica, – eis o ditado.
Olha o Futuro: mas lembra-te
Do que foste no Passado. (98)
***
– Homem pobre, com bem pouco
Se alegra, – diz o rifão:
Não há nada como a fome
Para dar sabor ao pão. (109)
***
– Devagar, que tenho pressa. –
Espalha o bem no caminho:
Tanto mais a água rega
Quanto vai devagarinho. (120)
***
– Quem mais perto está do fogo,
Mais se aquece. – Tem cuidado!
Não te chegues tanto ao fogo
Que venhas a ser queimado… (31) [1]
***
– Os ricos têm parentes. –
Os pobres, coitados! não:
Ainda, um dia, os homens todos
Hão de ser de irmão a irmão. (124) [2]
***
– Atrás do tempo, outro tempo. –
Atrás do céu, outro céu;
Atrás da vida, outra vida…
Homens! que sois? que sou eu? (131)
***
– Ouve muito, e fala pouco. –
Aprende com paciência.
Em sabendo que não sabes,
Chegaste à melhor ciência. (22) [3]
***
Não digas, rindo: – Desta água
Não beberei. – Tem cuidado!
Já a vi beber a alguém
Depois de a ter enlodado… (34)
***
– O melhor, é inimigo
Do bom. – Que mais desejar?
O sopro que acende a chama
Também a pode apagar… (33) [4]
NOTAS:
[1] Tudo em sua justa medida. (CCA)
[2] A ideia da fraternidade universal. (CCA)
[3] O axioma socrático segundo o qual a melhor sabedoria consiste em saber que pouco ou nada sabemos. (CCA)
[4] Deve-se ter realismo, moderação e firmeza. (CCA)
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Os versos acima foram publicados nos websites associados dia 29 de janeiro de 2020. Eles fazem parte também de “O Teosofista” em suas edições de setembro de 2017, página seis; outubro de 2017, páginas treze e catorze; e janeiro de 2019, páginas seis a oito.
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