O Que é Verdade em um Aspecto da Vida
Tende a ser Verdade em Outros Aspectos Também
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Donald Trump (foto) reflete pontos incômodos do carma coletivo e
também revela aos cidadãos as potencialidades positivas presentes nas suas almas.
 
 
 
O empresário norte-americano Donald Trump chamou atenção do mundo inteiro em 2015 e 2016 ao captar e projetar sobre o nível “consciente” das mentes dos cidadãos alguns dos sentimentos e pensamentos deles que eram subconscientes.
 
A projeção psicológica foi saudável.
 
Trabalhando gratuitamente como espelho psicanalítico para muitos cidadãos, Donald Trump se tornou objeto de críticas intensas e profundo desprezo vindos tanto da esquerda como da direita, e foi impulsivamente atacado por líderes religiosos de diferentes tradições.
 
Os seus críticos consideravam a si mesmos como pessoas equilibradas e racionais, e acreditavam que tinham bom senso. Rejeitar Trump era uma atitude inteligente. Havia um firme consenso em torno disso entre os especialistas.
 
Enquanto ensinavam às nações que Trump devia ser automaticamente desprezado e rejeitado, os “proprietários da opinião pública” estavam recorrendo à prática do ataque pessoal. Antes disso, eles haviam decidido que era preciso fazer de conta que os aspectos mais profundos da visão de vida de Trump não existiam.
 
Eles projetaram sobre o espelho os seus próprios medos e suas ambições subconscientes. Odiavam o que estava refletido no espelho, e pensavam que todos tinham a obrigação de fazer o mesmo. Uma projeção oferece ao indivíduo uma oportunidade de adorar ou odiar intensamente outro ser, ao invés de conhecer a si mesmo. As projeções cegas causam um alívio de curto prazo que é ilusório. Na verdade, elas levam as pessoas à derrota, ao cancelar o seu bom senso e sua clareza de visão. 
 
Quando em novembro de 2016 Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, ficou dolorosamente claro, para alguns, que os slogans não podem substituir os fatos; a propaganda não cancela a realidade; os ataques pessoais não conseguem definir um indivíduo, e o consenso político artificial com frequência é uma tentativa fracassada de distorcer a dinâmica da História.
 
No entanto, um espelho psicológico funciona em vários níveis de realidade e pode ser observado desde diferentes pontos de vista. Como espelho, Trump reflete aspectos incômodos do carma coletivo e também revela aos cidadãos as potencialidades positivas presentes nas suas almas. Ele faz isso quando se recusa a ser um escravo da opinião pública de curto prazo. O fato de que Trump sente-se confortável quando é criticado dá a ele um grau mais alto de independência diante das formas estabelecidas de manipulação mental e emocional. Ele usa os obstáculos para reunir mais força.
 
O estilo de Trump é transparente, e é muito mais complexo do que a imagem dele que foi fabricada por seus adversários.
 
Ao longo dos anos, ele publicou vários livros sobre o modo como ele age e se movimenta.  Sua visão de vida tem pontos significativos em comum com pensadores bem conhecidos do movimento da Nova Era. [1]
 
Quanto ao ritmo cármico da vida, Trump afirma:
 
“Uma maneira de preservar a sua própria força dinâmica é dar a você mesmo desafios cada vez maiores. Uma vez que você chega ao topo, o que deve fazer? Uma vez que você chegou ao ponto mais alto, é a hora de retribuir. Faça doações a obras de caridade, doe a seus filhos, dê o seu conhecimento a outras pessoas, dê à vida cultural do seu povo. Ganhei uma grande quantidade de dinheiro, e doo uma grande quantidade de dinheiro a projetos altruístas.” [2]
 
A “força dinâmica” é uma onda de acontecimentos. É uma nuvem crescente de possibilidades em movimento. É uma tendência cármica criada pelos nossos esforços e pelas nossas ações, à medida que elas interagem com a vida.  
 
Trump descreve o modo como vê a arte de construir este poder criativo:
 
“Força dinâmica depende da energia e do uso correto do tempo. Quando você começa algo novo, você não tem força dinâmica. Nesta fase as coisas são difíceis. As pessoas não estão procurando por você. E você não parece estar chegando a lugar algum, mas se persistir e continuar trabalhando um dia depois do outro para alcançar suas metas, em pouco tempo você entrará no fluxo das pessoas e dos acontecimentos. (…) Por quê? Porque você tem força dinâmica, mas não pensa que a força dinâmica está necessariamente garantida. Se você perder o ritmo, todo o seu sucesso terminará, e as coisas ficarão muito mais difíceis. Torna-se difícil fazer qualquer coisa quando você perde sua força dinâmica. O ritmo correto da sua ação desaparece, e as pessoas e acontecimentos não estão mais a seu favor. Portanto, cuide para não perder jamais a sua força dinâmica.” [3]
 
Ao adotar uma meta elevada, o indivíduo desafia a rotina, ou “tamas” em sânscrito, e destrói as ilusões estabelecidas.
 
À medida que alguém constrói uma força dinâmica, fica mais fácil derrotar o falso consenso segundo o qual todos devem obedecer às aparências, e piedosamente ignorar todos os níveis mais profundos da realidade. Então compreendemos que ter demasiada pressa de declarar que alguma pessoa ou nação são nossos inimigos não vai além de uma superficialidade mental desastrosa. Nossa sociedade deveria aprender um antigo axioma da filosofia esotérica:
 
“A inteligência é imparcial: ninguém é teu inimigo; ninguém é teu amigo. Todos são teus instrutores. O teu inimigo se torna um mistério que deve ser resolvido, mesmo que para isso sejam necessárias longas eras; porque o ser humano deve ser compreendido. Teu amigo se torna uma parte de ti, uma extensão do teu ser, um enigma difícil de decifrar. Só uma coisa é ainda mais difícil de conhecer: o teu próprio coração.” [4]
 
Conflitos existem, e eles deveriam ser poucos; deveriam ser fenômenos passageiros; e em todos os casos o peregrino deve manter um sentido de justiça em relação aos seus adversários. Equilíbrio, reciprocidade e ética são três dos fatores necessários para que haja paz.
 
Nossa Visão da Verdade Está Sempre em Desenvolvimento
 
Tanto as ideologias políticas como as ideologias religiosas costumam apresentar-se como as proprietárias da “verdade final” em relação aos aspectos da vida que abordam.
 
Elas induzem as pessoas a pensar que a melhor maneira de conhecer a verdade é acreditar cegamente em tudo o que dizem.
 
As igrejas, as seitas e os partidos políticos com frequência punem e condenam ao isolamento os buscadores independentes da verdade. “Não há necessidade”, dizem, “de estudar e pesquisar de maneira independente. É uma perda de tempo”.
 
Na verdade, o falso consenso produzido por estas organizações é um mecanismo de defesa emocional contra o caráter limitado e precário do conhecimento humano. Ao invés de humildemente reconhecer a profundidade da Vida e aceitar as frequentes surpresas que ela provoca, eles negam a complexidade do mundo. Os líderes das organizações ineficientes não querem ver a necessidade de aprender com os seus erros, e adotam uma visão congelada da realidade. 
 
Donald Trump está entre os que não dão grande importância aos consensos organizados. As suas ações podem ser perigosas tanto para as ideologias de esquerda como para as ideologias de direita, porque ele pensa por si mesmo. Para Trump, o conhecimento se expande o tempo todo a partir do momento em que nascemos, e ele pergunta:
 
“Você lembra como era desafiante aprender a andar de bicicleta? Já viu uma criança aprendendo a caminhar, dando os seus primeiros passos? É uma ocasião cheia de força dinâmica. Se pudermos adotar em nossa vida diária esse mesmo tipo de entusiasmo, creio que estaremos no caminho da sabedoria. Albert Einstein disse: ‘A mente que se abre para uma nova ideia nunca volta ao seu tamanho original.’ Eu concordo. Depois que você aprendeu a caminhar, por que você iria voltar a andar arrastando-se para lá e para cá? Não faria sentido. Nós todos temos um propósito na vida, e o propósito é fazer o melhor para viver de acordo com o nosso potencial.” [5]
 
Estas ideias exaltam os aspectos criativos do amor dos seres humanos pela vida. São ideias não-violentas; elas estimulam o poder que todo indivíduo tem de abrir o seu próprio caminho para a bem-aventurança e a prosperidade. São ideias naturalmente perigosas para estruturas de poder político ou religioso que tenham como base a manipulação mental, a obediência cega e a passividade automática. Os indivíduos criativos são os cidadãos do futuro. Eles provocam medo e raiva entre os que se identificam com a ignorância organizada. O enfoque de Trump diante da vida parece convidar as pessoas a abraçar e desenvolver as suas potencialidades mais elevadas, e isto significa deixar de lado a preguiça mental.
 
Superando o Medo  do Fracasso
 
O conforto pessoal é considerado um valor de suprema importância nas sociedades consumistas. Os cidadãos dispõem de numerosas alternativas para escolher o que eles compram ou quais são os seus artistas preferidos, mas são mantidos à parte das decisões mais importantes.
 
Os riscos são evitados, e a vida não é reconhecida como uma aventura. Este tipo de experiência asfixiante não tem futuro. A necessidade humana de transcendência é irreprimível. Se as formas criativas de viver são roubadas das pessoas, outras formas de transcender, não-criativas, surgirão.
 
Assim, uma grande porcentagem da população é levada a optar pelo uso de drogas, de álcool, ou a optar pela prática de crimes, de violência e pelo exagero do sexo. Estas são algumas das principais alternativas através das quais as pessoas desinformadas – com frequência jovens – tentam libertar-se do tédio e deixar de lado as formas organizadas de hipocrisia.
 
Entre aqueles que aceitam um modo passivo de viver, muitos sofrem de depressão, ou de irritação. A depressão psicológica é agora um problema de milhões de pessoas em todos os continentes.
 
Num aspecto menos dramático da realidade, o fenômeno da passividade cega e da incapacidade de ver a vida como uma “jornada do herói” está presente no movimento esotérico. Mais de uma organização teosófica procura negar o caráter arriscado, incerto e probatório de uma vida autenticamente filosófica.
 
Nas Cartas dos Mahatmas, um livro sem igual que revela a Pedagogia da filosofia esotérica do Oriente, os leitores encontram com frequência um convite a TENTAR e a fazer um esforço renovado, cada dia, ao longo da jornada espiritual. [6]
 
Donald Trump não parece ser um teosofista. Mais de um “especialista” escreve que a mente dele é “superficial”. Na verdade, Trump escreveu ideias que fazem sentido tanto no nível material como no nível espiritual da vida.
 
“Muitas pessoas têm medo de fracassar”, diz Trump, “e por isso elas não tentam. Elas podem sonhar, falar, e mesmo planejar, mas elas não dão aquele passo decisivo que é colocar o seu dinheiro e o seu esforço em risco. Para ter sucesso nos negócios, você deve arriscar. Mesmo que você fracasse, é assim que se aprende. Jamais houve, e jamais vai haver, um patinador olímpico em gelo que nunca caiu no gelo. Os patinadores desenvolvem a sua habilidade e dominam os seus movimentos tentando e caindo, e não só olhando e falando.” [7]
 
O que é verdade em um aspecto da vida tende a ser verdade em outros aspectos também. O mundo interno e o mundo externo funcionam como espelhos um do outro. Os teosofistas nominais são muitos, mas aqueles que vivem a filosofia esotérica são menos numerosos. Trump escreve:
 
“O conhecimento exige paciência; a ação requer coragem. Reúna a paciência com a coragem e você será um vencedor.”
 
Ele acrescenta:
 
“Encontre desafios para você. Vá além do que é comum e ordinário.”
 
As palavras de Trump convidam as pessoas a trilhar um caminho difícil. O rumo fácil da conveniência de curto prazo é algo passivo, e por sua própria natureza leva as pessoas ao tédio, à frustração, e finalmente à dinâmica do medo e do ódio.
 
A criatividade, por outro lado, renova a vida a cada momento. O mero fato de manter a porta aberta para o processo criativo é algo que ensina solidariedade, confiança, coragem, e estimula a capacidade humana de aprender tanto nas situações fáceis como nas situações difíceis.
 
NOTAS:
 
[1] Veja por exemplo “Think Big”, de Donald J. Trump e Bill Zanker, Harper Collins Publishers, 2007, 368 pp., especialmente pp. 219-221.
 
[2] “Think Big”, de Donald J. Trump e Bill Zanker, Harper Collins Publishers, 2007, p. 218.
 
[3] “Think Big”, by Donald J. Trump and Bill Zanker, Harper Collins Publishers, EUA, 2007, p. 222.
 
[4] “Luz no Caminho”, Um Tratado Clássico Sobre o Despertar da Sabedoria, de M.C., Tradução, Notas e Prólogo de Carlos Cardoso Aveline, The Aquarian Theosophist, Portugal, 2014, 86 páginas, ver p. 35.
 
[5] “Think Like a Champion”, Donald J. Trump com Meredith McIver, Da Capo Press, EUA, 2009, 204 páginas, ver p. 147.
 
[6] “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes.
 
[7] “Trump 101”, Donald J. Trump com Meredith McIver, publicado por John Wiley & Sons Inc., EUA, 2007, 188 páginas, ver p. 39. As próximas duas citações são da mesma página.
 
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O artigo “Donald Trump Como um Espelho” está disponível em português nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde o dia 24 de julho de 2024. A tradução é do próprio autor.
 
O artigo foi publicado pela primeira vez em inglês em dezembro de 2016 pelo nosso blog teosófico em “The Times of Israel”, sob o título de “Donald Trump as a Mirror”. O mesmo texto original pode ser visto nos websites da LIT: “Donald Trump as a Mirror”.
 
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Leia mais:   
 
* A Sala de Espelhos, de CCA. 
 
* Outros artigos de Carlos Cardoso Aveline.
 
 
* Alguns escritos de Jean des Vignes Rouges.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
 
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