Os Teosofistas Alcançam às Vezes a
Plenitude da Amizade e do Respeito Mútuo
Ailton Santoro
Sória Lima dos Santos (1930-2018)
O que torna uma pessoa marcante na vida de alguém?
A resposta é a medida da influência positiva que ela exerce sobre o caráter do outro, de tal forma que possa mudar para melhor a sua ação no mundo.
Conheci Sória Lima dos Santos em 1988, quando visitei pela primeira vez a Loja Rio de Janeiro. No grande salão da antiga sede da Sociedade Teosófica no Rio de Janeiro, eu a ouvi discorrer sobre “O Culto da Árvore, da Serpente e do Crocodilo”, conforme abordado em “A Doutrina Secreta”. A voz pausada e firme daquela pequena mulher, com o sotaque nordestino já enfraquecido pelos anos vividos no Rio de Janeiro, levava até mim, pela primeira vez nesta encarnação, os ensinamentos de H.P. Blavatsky.
Levado pela timidez a me sentar em uma das últimas fileiras de poltronas do auditório, eu sabia que algo importante acabara de acontecer: tinha tomado contato com ideias que transmitiam uma filosofia profunda, essencial, embora tivesse entendido muito pouco do que fora dito. Eu tinha sido tocado pelo Eu Superior. Tinha então 26 anos. Naquele mesmo ano me tornei membro.
Havia na Loja, naquela época, um grupo de jovens, e sob a condução de Sória tornamo-nos todos grandes amigos. Esta era a sua diretriz de trabalho: a amizade no trabalho teosófico é fator fundamental, e deve ser estimulada sempre. Cada visitante da Loja, cada membro deve se transformar em um amigo. E os membros da Loja deveriam tratar-se como se fossem uma família, onde o respeito mútuo e a sinceridade prevaleceriam.
Rigorosa e detalhista, exigia o máximo de nós em cada trabalho a ser realizado, quer fosse uma ata de reuniões ou um evento de estudos. Embora de temperamento alegre e brincalhona, tudo se transformava se o assunto fosse a teosofia; nesses momentos, sua seriedade era total, e a dedicação, completa. Sua devoção a H.P.B. e aos Mahatmas era impressionante.
Dona de uma intuição e sensibilidade poderosas, sabia extrair dos textos os significados mais profundos. Estudiosa da tradição maçônica, orientou inúmeros aprendizes a penetrar o significado mais profundo da sua simbologia.
A mesa redonda com tampo de vidro de sua sala foi testemunha silenciosa de inúmeras tardes e noites de estudos, trocas e aprendizados que marcaram minha vida. Forjou-se ali a alma de mais de um estudante teosófico.
Juntos, fomos percebendo a inconsistência dos ensinamentos dos instrutores teosóficos da segunda geração, e, abandonando-os completamente, mergulhamos no estudo da teosofia autêntica de H.P.B. e dos Mahatmas. Foi nesta época e por sua iniciativa que a Loja Rio de Janeiro, utilizando o espaço da Loja Augusto Bracet, convidou o irmão Carlos Cardoso Aveline a expor o conteúdo dos dois volumes das Cartas dos Mahatmas para A.P. Sinnett em língua portuguesa, num encontro marcante em 2002.
Sória era uma pessoa especial, e corajosamente fez da teosofia a nota-chave de sua vida. Seu temperamento forte não era incompatível com a delicadeza e a dedicação ao próximo que encantavam quem a conhecesse. Ninguém que fosse à sua casa pela primeira vez saía de lá sem que recebesse um presente, por mais simples que fosse. Ninguém que demonstrasse alguma necessidade deixava de ser auxiliado, na medida de suas poucas posses. Seu ombro sempre estava disponível para acolher as lágrimas de tristeza de quem nele buscasse consolo, ou seu abraço para saudar e comemorar as alegrias.
Sória nasceu em Parnaíba, no Piauí, no dia 3 de fevereiro de 1930.
Completou sua encarnação em 2018. Abandonou o plano físico em 15 de setembro, e avançou em paz para os níveis superiores da vida.
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O artigo acima foi publicado em nossos websites associados em 19 de outubro de 2018. Ailton Santoro é membro da Sociedade Teosófica de Adyar no Brasil desde 1988 e atualmente preside a Loja Rio de Janeiro.
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