Quando o Peregrino Tem Um Objetivo
Claro, Suas Diversas Atividades São Coerentes
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
* Silenciando em sintonia com a alma, alcançamos uma paz ilimitada.
 
* Trabalho intenso e autorresponsabilidade levam a uma plenitude pessoal. A preguiça, por sua vez, está associada a uma falta de vigilância e produz perigo. O fato pode ser observado tanto no carma individual como no carma coletivo. Em sociedades governadas pelos princípios do Amor à Preguiça e da Adoração do Conforto surge uma cegueira ética cujo resultado é desastroso.
 
* Há muitos tipos de silêncio. Nosso melhor conselheiro é o silêncio que flui do centro de paz em nossa consciência. Neste lugar não-espacial há um eixo de simetria, e ele nos conecta com a bênção da justiça universal, que é absoluto equilíbrio.
 
* Aquele que tenta ajudar as estrelas a iluminar a noite humana aprende lições valiosas na arte de enxergar a sua própria insignificância pessoal.
 
* O silêncio contém a potencialidade de todos os sons. Uma página em branco pode ser vista como um símbolo do nível não-verbal dos ensinamentos. E quando um peregrino aprende a ser nada, ele nasce para um nível mais silencioso e amplo da realidade.
 
* Dentro dos limites do eu inferior não há espaço para a felicidade. Aquele que pretende sair da prisão estreita do eu “pessoal” deve trilhar o caminho que leva ao horizonte largo do altruísmo. O contentamento incondicional é a primeira indicação de que a nossa Vontade é maior que o desejo. Esse é o bom caminho. A ação impensada provoca dor, enquanto o pensamento correto e a vontade bem orientada nos libertam.
 
* Aqueles que temem olhar verdades desagradáveis, individuais ou coletivas, estão paralisados pelo medo da Vida e da mudança. É confrontando honestamente a derrota que o peregrino pode vencer. Ao ver os erros, ele os corrige. Compreendendo o sofrimento, eliminamos as suas causas. E é quando aceitamos completamente as circunstâncias que nos tornamos capazes de transcendê-las, e de alterá-las para melhor.
 
* Desapego significa um sentido de independência em relação às circunstâncias. A alma experiente não se define por acontecimentos superficiais. A moderação surge do conhecimento de que as coisas importantes na vida transcendem cenários de curto prazo. Assim se fortalece uma capacidade de esperar pelo tempo certo e uma paz incondicional passa a proteger-nos da ansiedade e outras formas de cegueira. O desapego permite ter discernimento e enxergar o rumo correto a seguir.
 
* Esforço e descanso fazem juntos um ciclo completo. A existência altruísta inclui a necessidade de calma. Assim como no ciclo das reencarnações, cada aspecto da vida combina Yin e Yang, contração e expansão, sístole e diástole, ação – e repouso. O esforço correto corresponde à pausa adequada. Se nossa ação é eficiente, temos direito a uma tranquilidade, de acordo com a lei do carma.
 
* Um sentido interno de dever guia o estudante de filosofia esotérica e faz com que ele questione em mais de um aspecto a ignorância socialmente organizada a seu redor. Em resposta ao seu desafio, a vida e o carma irão bondosamente mandar para ele várias ondas de provações. Um grande número de acontecimentos testará a firmeza da sua decisão de fazer o melhor possível. As situações difíceis se alternarão com os momentos de quietude abençoada. Gradualmente ele compreenderá que os desafios têm vida curta e passam, enquanto as bênçãos – embora breves no tempo cronológico – contêm em si a essência da eternidade.
 
* Aquele que obtém um vislumbre de ciclos maiores de tempo não vê problema algum na ideia de estudar teosofia durante cinco décadas, com resultados modestos. Ele sabe em primeira mão que o aprendizado da alma é invisível, e que seria desastroso ficar entusiasmado com o seu próprio progresso. Ele também conhece o fato de que cada minuto conta e todo novo pensamento faz a diferença.
 
* A ideia de uma autodisciplina diária implica a criação e o fortalecimento de hábitos corretos. Ter autodisciplina significa renunciar a ideias espetaculares e seguir noções equilibradas. Ações aparentemente desimportantes são com frequência as mais corretas. Expressões invisíveis de amabilidade costumam ser as mais sinceras. Os heróis anônimos estão entre os maiores: é preciso esquecer o eu inferior, até certo ponto, para poder lembrar da alma espiritual.
 
* A formação de novos e melhores hábitos nos vários aspectos da vida requer um esforço regular que parece ser pouco agradável. No entanto, os resultados deste empreendimento são multidimensionais. Ele produz força moral, capacidade de renunciar, e moderação.
 
* “Simples” não é a mesma coisa que “fácil”. A simplicidade externa envolve complexidade interna. Por esse motivo a ação mais simples é com frequência a mais profunda e a mais eficaz. Raramente é a mais fácil. A Raja Ioga nos dá um exemplo disso. A sistemática substituição de ações erradas por ações corretas, e de pensamentos errados pelos seus opostos[1], pode mudar rapidamente o Carma para melhor na vida de qualquer pessoa.
 
* Pode haver um sentido de organização que corresponda ao mero hábito, à rotina e ao apego à forma. Tais coisas não têm interesse desde um ponto de vista teosófico. É o sentido de unidade de todos os aspectos do mundo que produz, em filosofia esotérica, uma harmonia natural entre diferentes fatores.
 
* O peregrino só pode tomar decisões corretas, na sua pequena caminhada de cada dia, depois de haver definido com firmeza a meta da sua viagem de longo prazo.
 
* É quando o peregrino tem um objetivo claro que suas diversas atividades passam a ser coerentes. Então a ordem se torna parte do método, o progresso fica mais fácil e um ritmo estável é estabelecido. Ao mesmo tempo, o indivíduo está preparado para mudanças súbitas quando elas forem necessárias.
 
NOTA:
 
[1] Ioga Sutras, Livro II, aforismos 33-34.
 
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Ideias ao Longo do Caminho – 24” foi publicado como artigo independente em 05 de junho de 2019. Uma versão inicial e anônima dele faz parte da edição de agosto de 2016 de “O Teosofista”, pp. 15-16.
 
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, do mesmo autor, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos.
 
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