A Sabedoria Costuma Andar
Junto Com o Equilíbrio e o Desapego
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
* Vairagya, desapego, pode parecer algo frio e insensível quando exigimos essa qualidade de nós mesmos, ou quando a vida impõe o seu exercício.
 
* A perda de alguma coisa ou de alguém a quem nos apegamos pode doer muito, quando um laço concreto deixa de existir de repente. Este tipo de sofrimento ocorre com frequência ao longo de uma vida.  
 
* A dor  da separação força o ser humano a crescer. Ela ensina as lições da independência, da solidão e da perda. Coloca diante de cada um os deveres da humildade, da pobreza, da austeridade, da vida simples. 
 
* Cedo ou tarde todos precisam aprender a viver em harmonia com a lei da austeridade, tal como recomendam a teosofia e a filosofia clássicas. O maior milionário enfrentará situações dolorosas em que o dinheiro e a posição social de nada valem. Em tais condições, só a sabedoria tem um valor decisivo.
 
* Ao ensinar a pobreza voluntária, a filosofia teosófica abre as portas do tesouro que está no céu, sendo a ideia de céu um símbolo da alma imortal ou eu superior. A pobreza e o desapego estão na base do conhecimento divino e da compaixão. 
 
* Para aquele que se sente amigo do universo, fica reduzido o sentimento de dependência cega em relação a objetos ou pessoas. No contexto da amizade universal, há uma compreensão ampla de todas as coisas. Disso surge a capacidade de abrir mão de posses pessoais e conforto físico.  
 
* Devoção é desapego, porque devoção é renúncia e altruísmo. O cumprimento do dever é desapego, porque implica deixar de lado perdas de tempo.  Boa vontade é desapego, porque significa identificar, compreender e abandonar sentimentos pouco elevados. Autoconhecimento leva ao desapego, porque revela aquilo que transcende mundos estreitos e avança na direção do bem. 
 
Uma Lição de Realismo
 
* O contato com o chão duro ensina mais do que os sonhos sobre alturas imaginárias. Não vale a pena construir situações artificiais. As vitórias fáceis em geral não são duráveis, e o progresso durável raramente é fácil.
 
* Em um dos seus romances históricos, Alexandre Dumas faz com que o personagem Jean-Jacques Rousseau diga: “…As coisas simples são as que mais comovem os corações profundos e os espíritos inteligentes.” [1]
 
* A sabedoria costuma andar junto com o equilíbrio e o desapego. E cada passo adiante no caminho da verdade é testado pela vida de vários modos diferentes.
 
A Mente Cósmica Infinita
 
Como funciona a inteligência divina? Sendo de fato divina, ela deve ser diferente da inteligência humana. Investigar a natureza da consciência universal constitui, portanto, uma ciência em si. Não é nada fácil. Um sábio dos Himalaias esclareceu que a mente cósmica age através das leis da natureza:
 
* “A faculdade peculiar do poder involuntário da mente infinita – que ninguém jamais poderia pensar em chamar de Deus – é estar eternamente transformando matéria subjetiva em átomos objetivos (você lembrará, por favor, que estes dois adjetivos são usados apenas em sentido relativo), ou matéria cósmica, a ser transformada mais tarde em forma.”
 
* “E é, de modo semelhante, este mesmo poder involuntário e mecânico que nós vemos tão intensamente ativo em todas as leis fixas da natureza – que governa e controla o que é chamado de Universo ou Cosmo.”
 
* Neste ponto ele completou:
 
* “Há alguns filósofos modernos que gostariam de comprovar a existência de um Criador pelo movimento. Nós dizemos e afirmamos que aquele movimento – o movimento universal perpétuo que nunca cessa, nunca diminui nem aumenta sua velocidade, nem mesmo durante os intervalos, os pralayas ou “noites de Brahma”, mas continua como um moinho que se movimenta haja ou não haja algo para moer (porque o pralaya implica a perda temporária de toda forma, mas não, absolutamente, a destruição da matéria cósmica, que é eterna) – dizemos que este movimento perpétuo é a única Divindade perpétua e não-criada que somos capazes de reconhecer.[2]
 
* O movimento do cosmos é eterno: a inteligência também. Mas a inteligência divina é impessoal. Em outras palavras, as individualidades passam, o que é eterno permanece – e permanece em movimento.
 
A Chave da Eficiência
 
* A moderação é o que nos permite raciocinar antes de agir.
 
* Os seres humanos precisam levar em conta seus instintos, mas devem obedecer à voz da sua consciência – e isso depende do lento processo de formação de um bom discernimento. Entre erros e acertos, aprende-se muito.
 
* Uma ação moderada e lúcida é eficiente. Saber parar uma atividade no momento certo é tão importante quanto entrar em ação no tempo adequado.
 
NOTAS:
 
[1] Frase do personagem Jean-Jacques Rousseau, criado com base na vida e na obra do pensador francês. Veja o romance “José Bálsamo”, de Alexandre Dumas, Livraria Lello & Irmão, Editores, Lisboa, 1945, edição em cinco volumes, volume II, 343 páginas, p. 255.
 
[2] Trecho reproduzido de “Cartas dos Mahatmas”, Editora Teosófica, Brasília, 2001, edição em dois volumes, ver volume II, Carta 90, pp. 69-70.
 
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O artigo “Ideias ao Longo do Caminho – 55” foi publicado como item independente em 20 de fevereiro de 2024. Uma versão inicial e anônima dele faz parte da edição de fevereiro de 2020 de “O Teosofista”, pp. 15-16. São incluídas no presente artigo duas notas do mesmo autor, publicadas inicialmente também na edição de fevereiro de 2020 do Teosofista. “A Mente Cósmica e Infinita” está nas páginas 9 e 10; “A Chave da Moderação”, na p. 10.       
 
Embora o título “Ideias ao Longo do Caminho” corresponda ao título em língua inglesa “Thoughts Along the Road”, de Carlos C. Aveline, não há uma identidade exata entre os conteúdos das duas coletâneas de pensamentos do autor. Desde 2018 a série “Thoughts Along the Road” está sendo publicada também em espanhol sob o título de “Ideas a lo Largo del Camino”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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