Compreendendo as Etapas da Evolução Humana
Carlos Cardoso Aveline
O psicólogo norte-americano Lawrence Kohlberg afirma que o desenvolvimento moral do ser humano tem seis estágios, mas atualmente são poucos os que alcançam o patamar mais elevado.
Tendo como ponto de partida o trabalho de Jean Piaget, Kohlberg definiu as etapas da ética como parte do desenvolvimento psicológico das crianças. Na verdade, os seis estágios são válidos para pessoas de todas as idades, para os mais diferentes povos, e para os diversos tipos de grupo social, em qualquer nação.
Os seis estágios também coexistem entre si. A vida é contraditória. Cada pessoa possui vários níveis de motivos para agir corretamente, e diversos tipos de definição do que é correto.
Em cada indivíduo ou grupo social, há alguns níveis de consciência ética que predominam sobre os outros. Os patamares inferiores são transcendidos quando há um horizonte amplo e uma experiência acumulada suficiente. As almas ainda infantis costumam ignorar os estágios superiores de ética. Desde um ponto de vista teosófico, o estágio em que cada um se situa depende da experiência e do bom senso da alma individual.
Vejamos quais são os estágios de ética e moral propostos por Kohlberg.
1) No primeiro – o estágio mais básico e inferior – “a ação certa é a ação que não é punida”. A prioridade é não ser punido, e por isso há uma obediência. A ação errada é aquela que recebe castigo. Se não houver castigo, não haverá consciência de que algo errado foi feito.
2) No segundo estágio, a ação correta é definida como “aquela que serve os interesses de cada um”. O objetivo é obter uma recompensa. Ocorre aqui o “toma-lá-dá-cá”. Vale a negociação caso a caso, a troca de favores, o apoio mútuo em ações de curto prazo.
Os dois estágios iniciais da moralidade são chamados de “pré-convencionais”, porque neles não há um código de conduta. As ações são vistas de modo mais ou menos isolado. Predomina o casuísmo.
3) No terceiro estágio, a criança (ou o adulto) demonstra ter bom caráter. É a etapa do “bom garoto”. A meta é a aprovação social, ou o apoio sincero dos mais velhos e dos mais poderosos. Aqui vale a frase “faça aos outros o que gostaria que eles lhe fizessem”. A pessoa desenvolve um sentido de justiça e reciprocidade. A compaixão é compreendida e até certo ponto vivenciada. Também pode ocorrer um conformismo: mas existe um sentido de compromisso ético verdadeiro.
4) O quarto estágio é o da Lei e da Ordem. Neste ponto o respeito ao líder, ao chefe, ao professor, é algo central. O importante é cumprir o dever. Cabe respeitar as normas e obedecer às autoridades – sem questioná-las.
As etapas três e quatro são chamadas de “convencionais”, porque nelas o indivíduo é sinceramente leal às normas e às orientações coletivas.
Em seguida temos os dois estágios finais. Agora as crianças ou adultos respeitam as normas, leis e convenções. Mas ao mesmo tempo enxergam além delas e procuram aprimorá-las. Sigmund Freud escreveu:
“…Não é necessário ser um anarquista para ver que as leis e as normas não podem ser consideradas como algo sagrado ou inquestionável, ou para compreender que elas são com frequência formuladas de modo inadequado e ferem o nosso sentido de justiça, ou virão a ser injustas dentro de algum tempo, e que, considerando a lentidão das autoridades, muitas vezes o único meio de corrigir estas leis tolas é tendo a coragem de violá-las. Além disso, se desejamos manter o respeito pelas leis e normas, é aconselhável só promulgá-las quando se pode vigiar e saber se são obedecidas.” [1]
5) Na quinta etapa, portanto, de desenvolvimento ético, o indivíduo percebe que as leis e os costumes estabelecidos podem ser injustos.
Quando necessário, ele busca uma mudança para melhor. Faz isso através de meios legítimos, democráticos, moralmente aceitáveis, eticamente responsáveis.
Exemplos deste nível de moral (assim como do sexto nível) são Mahatma Gandhi, na Índia, Martin Luther King, nos Estados Unidos, e, no Brasil, Chico Mendes, o defensor da floresta amazônica. Os três líderes sociais deram um exemplo de altruísmo, e foram assassinados precisamente por defenderem ideais nobres e uma ética superior, contrariando as estruturas da ignorância organizada. Na quinta etapa, busca-se um contrato social eficiente e justo para todos.
6) Na sexta etapa de desenvolvimento moral, o indivíduo – ou o povo – vive os princípios universais da consciência ética.
Hoje são pouco numerosos os seres humanos firmemente estabelecidos neste estágio. São os precursores. Preparam o futuro. Abrem o caminho.
Melhorar o mundo – ou “Tikun Olam”, nos termos da tradição judaica – é a meta. Valem aqui a boa vontade, a compaixão e a solidariedade por todos os seres. O sentimento de fraternidade planetária é vivido como algo central. Lao-tzu, Buddha, Jesus, Krishna, entre outros, personificam este nível de percepção e intenção.
A utilidade prática do esquema piramidal de níveis de ética feito por Kohlberg é grande.
Cada cidadão pode examinar a si mesmo à luz destes seis níveis de moral e ver onde está situado. Que nível de ética cada um segue, nos vários tipos de situações e aspectos da vida?
No processo social e político do país e da cidade em que moramos, que estágios de desenvolvimento ético predominam? Quais são as lideranças que têm como meta a boa formação moral das crianças, e a boa formação moral, também, dos adultos?
Os livros de Lawrence Kohlberg ultrapassam o mundo da psicologia. Eles têm grande valor filosófico. A importância teosófica deles pode ser decisiva no século 21.
Kohlberg ajuda a esclarecer a grande tarefa que é plantar bom carma, colocando em ação da melhor maneira possível as causas da felicidade humana.
NOTA:
[1] Sigmund Freud, no ensaio “The Question of Lay Analysis”. O texto está incluído no volume “The Essentials of Psycho-Analysis”, Sigmund Freud, selected with commentaries by Anna Freud, Vintage Books, London, UK, 2005, 597 pp., ver p. 53.
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Lawrence Kohlberg (1927-1987)
Os seis patamares de percepção moral propostos por Kohlberg possuem uma relação interna com os níveis de consciência ensinados pela teosofia original. Veja por exemplo os artigos “Os Sete Princípios da Consciência” e “A Ponte Entre Céu e Terra”. (CCA)
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Para Ler Mais Sobre os Estágios de Formação Moral:
* “Lawrence Kohlberg, Ética e Educação Moral”, de Ângela Maria Brasil Biaggio, Ed. Moderna, SP, 2002, 144 pp.
* “Promoting Moral Growth”, From Piaget to Kohlberg, by Richard H. Hersh, Diana Pritchard Paolitto and Joseph Reimer. Foreword by Lawrence Kohlberg. Published by Longman, New York and London, 1979, 270 pp.
* “Essays on Moral Development”, Lawrence Kohlberg, volume I, “The Philosophy of Moral Development”, Harper & Row, Publishers, San Francisco, copyright 1981, 441 pp.
* “Essays on Moral Development”, Lawrence Kohlberg, volume II, “The Psychology of Moral Development”, Harper & Row, Publishers, San Francisco, copyright 1984, 729 pp.
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O artigo “Kohlberg e os Estágios da Consciência Ética” foi publicado em nossos websites associados dia 15 de janeiro de 2019.
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