O Sentimento de Respeito pelos Sábios e
Por Aqueles que Caminharam Antes de Nós
Carlos Cardoso Aveline
Helena P. Blavatsky (1831-1891)
É natural ter um sentimento de admiração pelas pessoas que enfrentam todo tipo de dificuldade pessoal enquanto abrem caminho para o progresso espiritual da humanidade.
Mas nem todos aceitam este sentimento.
Alguns desanimados, cujas almas caíram no materialismo, podem sentir-se pessoalmente ofendidos ao ver o poder criador da bondade em ação, quando ela brilha com força em alguma outra pessoa, associada à necessária coragem e à determinação.
O invejoso, infeliz, procura descrever a atitude de respeito pelos heróis como se fosse um mero culto à personalidade. Em alguns casos, para aquele que desistiu do caminho da ética, a simples presença de uma forte sinceridade perto de si pode ser desagradável e irritante, porque o faz lembrar, talvez, da sua própria derrota interior.
No entanto, aprender com o bom exemplo é fundamental em teosofia.
No mundo antigo, assim como no mundo moderno, há uma correspondência clara entre o herói e o semideus. As duas ideias referem-se direta ou indiretamente ao ser humano semidivino, o iniciado, o discípulo avançado, aquele que está já desenvolvendo ativamente a potencialidade sagrada presente em seu interior.
Um exemplo disso é a narrativa dos doze trabalhos de Hércules.
É verdade que em certas ocasiões líderes políticos e religiosos sem escrúpulos se fazem adorar por seus seguidores ingênuos como se fossem “heróis” ou “mitos”. São então tratados como deuses ou messias. Aproveitam-se da ingenuidade dos povos e da necessidade humana de viver com devoção por algum ideal nobre. O mesmo fazem os artistas ou “iogues” que abusam das técnicas de propaganda e cuja religião, na verdade, é o amor ao dinheiro.
Um dos remédios mais eficazes para a ignorância é a prática do bom senso e do discernimento.
Dois extremos devem ser evitados, conforme Helena Blavatsky escreveu, citando Fielding:
“Se a superstição faz do ser humano um tolo, O CETICISMO TORNA-O DOIDO”. [1]
Não falta quem acuse os povos antigos de tolice e ignorância por praticarem um culto aos heróis. Blavatsky esclarece:
“Até hoje os Antigos são acusados de blasfêmia e fetichismo pela prática da ‘adoração de heróis’. Mas será que os historiadores modernos têm alguma ideia sobre a causa desta ‘adoração’? Acreditamos que não. Caso contrário seriam os primeiros a saber que aquilo que era ‘adorado’, ou melhor, aquilo a que homenagens eram feitas, não era nem o homem de barro, nem a personalidade – o Herói ou Santo fulano-de-tal, que ainda prevalece na igreja de Roma, uma igreja que beatifica o corpo ao invés da alma; – mas o Espírito divino aprisionado, o ‘deus’ exilado dentro da personalidade.” [2]
Ao manifestar admiração por alguém que luta para ajudar a humanidade, o peregrino bem informado não homenageia a casca externa ou personalidade inferior do herói.
O ser humano sensato admira e agradece ao “prisioneiro divino”, ao eu superior que, mesmo crucificado no mundo material, ainda assim é capaz de fazer o bem através do autossacrifício.
Segundo a fundadora do movimento teosófico, a filosofia esotérica aconselha:
“Observem em qualquer manifestação da genialidade que estiver combinada à virtude interior, no poeta, no grande pintor, no artista, no estadista ou pesquisador da ciência que se ergue acima das cabeças do rebanho médio, e vejam a presença inegável do exilado celeste, do divino Eu Superior do qual vocês, oh, homens materiais, são os carcereiros!”
E Blavatsky complementa:
“Assim, aquilo que nós chamamos deificação aplicava-se ao Deus interior imortal, não às paredes sem vida do tabernáculo humano que o continha. E isso era feito com o reconhecimento tácito e silencioso dos esforços realizados pelo divino prisioneiro que, sob as condições extremamente adversas da encarnação, conseguia manifestar-se apesar de tudo.”[3]
Olhado em profundidade, cada ser humano é semi-imortal, porque uma parte essencial da sua alma não morre, mas segue mais viva do que nunca quando morre o seu corpo físico.
A jornada sempre precária desde o nascimento até a morte é a jornada do herói, realizada por todos os humanos. Mas há heróis que estão mais despertos e mais avançados, e eles abrem caminho para os outros, e merecem admiração.
O respeito ativo pelos sábios, pelos instrutores e pelos que caminharam antes de nós faz parte do ensino e da aprendizagem da verdadeira filosofia. Naturalmente, porém, esta atitude requer um pouco de humildade, e exige a vontade firme e a decisão estável de melhorar a si mesmo.
NOTAS:
[1] Veja o artigo “Genius” (Gênio) em “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, EUA, volume XII. Esta frase está na página 22.
[2] “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, EUA, volume XII, p. 16.
[3] “Collected Writings”, H. P. Blavatsky, TPH, EUA, volume XII, p. 17.
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O artigo “O Culto aos Heróis” está publicado nos websites associados desde o dia 09 de setembro de 2020.
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