A Edição Original de 1875 do
Drama Histórico em Quatro Atos
José de Alencar
Página de abertura de “O Jesuíta”, edição de 1875, e a
estátua de José de Alencar na cidade do Rio de Janeiro
Nota Editorial de 2021
Reproduzimos a seguir a edição de 1875 da peça de teatro em quatro atos “O Jesuíta”, de José de Alencar (1829-1877).
O PDF é da Biblioteca Digital do Senado Federal do Brasil.
A ação da peça passa-se no Rio de Janeiro em 1759. O completo e surpreendente fracasso de público na estreia desta obra extraordinária em 1875 foi um forte golpe pessoal para Alencar, que já era o principal escritor do país e estava acostumado ao sucesso. O fato seguramente reduziu a vitalidade de José de Alencar quando o “patrono da literatura brasileira” já estava gravemente doente. O desprezo ou boicote à peça, no entanto, constitui a ponta do iceberg do mistério que cerca “O Jesuíta”.
É verdade que, segundo estudiosos do teatro, a estrutura da peça apresenta falhas técnicas no uso do tempo dramático.[1] Permanece o fato de que, como narrativa, o drama é fascinante. José Veríssimo, o grande historiador da literatura brasileira, escreveu:
“Na obra dramática de Alencar [‘O Jesuíta’] não é a melhor, mas é porventura a mais forte, a mais trabalhada, aquela em que o autor deu mais de si, em que é mais evidente o seu esforço de fazer uma grande obra de teatro. O que vale como tal, confesso, não sei dizer. A minha impressão, porém, é de que lhe faltam qualidades teatrais e que somente atores de grandes capacidades lhe poderiam dar o relevo, a vida, o movimento que as condições especiais do teatro exigem. (…) Sua força, que a tem, é, por assim dizer, toda literária”. [2]
Em outras palavras, para José Veríssimo o texto é valioso sobretudo quando lido. Para o teatro, exige atores de grande talento. Um ator mediano não poderá expressar a força da narrativa.
E parece haver outros motivos para que uma obra polêmica do maior escritor do país tenha sido tão esmagadoramente rejeitada.
* Ao final da peça, a partir da página 187, o leitor encontrará um ensaio de Luiz Leitão discutindo o valor da obra.
* Na página 203 começa a reflexão do próprio José de Alencar a respeito do misterioso fracasso de público. O contexto maior é a desnecessária decadência do diálogo que o Brasil mantém sobre si mesmo. Coisa de que, aliás, na primeira metade do século 21, o país ainda não se libertou.
E uma das chaves perdidas para a liberdade – nos planos individual, familiar e social – pode estar precisamente na obra shakespeareana “O Jesuíta”, que desafia o tempo e propõe uma abertura de portas para o futuro.
(Carlos Cardoso Aveline)
NOTAS:
[1] “José de Alencar – Teatro Completo”, edição em dois volumes, Ministério da Educação e Cultura, 1977, ver volume 1, 278 pp., p. 26; e todo o ensaio “O Jesuíta de Alencar: Projeto e Execução”, de Marlene de Castro Correia, pp. 25 a 33.
[2] Palavras de José Veríssimo citadas no livro “José de Alencar e sua Época”, de R. Magalhães Júnior, LISA – Livros Irradiantes S.A., São Paulo, Brasil, 1971, 358 pp., ver p. 324
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O Jesuíta
José de Alencar
Acto Primeiro
Um pequeno campo coberto de arvoredo nas faldas do morro do Castello, e defronte do convento da Ajuda, ainda não acabado.
SCENA PRIMEIRA
CONDE DE BOBADELLA E MIGUEL CORREIA
CONDE.
– Então?
CORREIA.
– Sahio.
CONDE.
– Com quem fallastes?
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Sobre o significado e a importância de “O Jesuíta”, veja o artigo “José de Alencar, os Jesuítas e as Ilusões”.
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A publicação da peça “O Jesuíta” nos websites associados ocorreu no dia 17 de fevereiro de 2021.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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