A Mídia Reflete a Mentalidade Coletiva
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Chimarrão, bebida popular no sul do Brasil
 
 
 
Às vezes a única coisa verdadeira num jornal é a data”.
 
A frase, amarga como chimarrão, pertence a Luís Fernando Veríssimo. O cronista teve experiências desagradáveis com a direção de uma empresa jornalística em 1990, quando pretendeu fazer uma crítica incisiva a um presidente brasileiro.
 
“Um editor de jornal é alguém que separa o joio do trigo – e depois imprime o joio”, segundo frase atribuída a Adlai Stevenson.
 
“Benditos os que nunca leem um jornal, porque verão a natureza e, através dela, a Deus”, afirma-se que escreveu em algum texto Henry David Thoreau, pioneiro da consciência ambiental. E o naturalista Edwin Teale exclamou: “Quantas lindas árvores deram a vida para que o escândalo de hoje pudesse chegar a um milhão de leitores!”
 
Quando o assunto é a mídia, as opiniões variam. As mais severas vêm quase sempre dos que escrevem, ou escreveram, em jornais.
 
“Levei 15 anos para descobrir que não tinha talento para escrever. Mas aí eu não podia parar. Tinha ficado famoso demais” – afirma o humorista norte-americano Robert Benchley.
 
“Um jornal é um instrumento incapaz de discernir entre uma queda de bicicleta e o colapso de uma civilização”, dizia o inglês George Bernard Shaw. “O jornalista é um homem que errou de profissão”, teria afirmado o estadista Otto von Bismarck, no século 19.
 
Porém, estas declarações de diversos personagens não são cem por cento confiáveis: foram publicadas em uma revista jornalística – sem citar fontes.
 
É fácil perceber que os meios de comunicação dominantes são criticáveis porque refletem a ignorância coletiva. Ao mesmo tempo, eles expressam a liberdade de pensamento. Funcionam como o veículo desta liberdade, maior ou menor.
 
“Se perco o controle da imprensa, não aguentarei três meses no poder”, disse Napoleão Bonaparte – segundo afirma um jornalista. A ideia central da frase continua atual no século em que vivemos.   
 
Os meios de comunicação formam a opinião pública. “Imprensa é oposição: o resto é armazém de secos e molhados”, opinou o humorista brasileiro Millôr Fernandes. Esqueceu-se apenas de acrescentar que a oposição pode ser responsável, ou pode ser irresponsável.
 
Segundo Millôr, “Quando você chega a um país e toda a imprensa comemora unanimemente o Dia da Liberdade, trata-se de uma ditadura. Porém, se a imprensa diz que o clima de restrições à liberdade é insuportável, você está numa democracia.”
 
“O jornalismo é o exercício diário da inteligência e a prática cotidiana do caráter”, escreveu Cláudio Abramo.
 
Rui Barbosa, o jurista, afirmou:
 
“A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que lhe passa perto e longe, enxerga o que lhe fazem de mal, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam ou roubam, percebe onde lhe alvejam ou nodoam, mede o que lhe cerceiam ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça”.
 
A mídia não é boa ou má em si. Ela reflete a mentalidade coletiva da comunidade em que faz circular as informações. Não só a mentalidade coletiva, mas também os seus mecanismos de poder, o seu grau de liberdade de pensamento, e o seu clima emocional e intelectual – mais ou menos elevado.
 
Aos jornalistas deve ser dado mais poder de representar livremente a realidade com a qual eles convivem, de modo que o compromisso ético natural que eles sentem seja posto em prática sem restrições. O jornalista precisa ser estimulado a pensar por si próprio, e a pensar no bem da comunidade para a qual escreve.
 
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O texto “O Jornalismo e a Verdade” está disponível nos websites associados desde o dia 16 de julho de 2021. Uma versão inicial dele foi publicada no jornal “Vale do Sinos”, de São Leopoldo, RS, Brasil, em 16 de outubro de 1990. Título original: “Jornal de Verdade”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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