Unidade e Contraste
Entre Dois Aspectos da Vida
Carlos Cardoso Aveline
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O artigo a seguir foi publicado
inicialmente de modo anônimo na edição
de setembro de 2009 de “O Teosofista”. Título
original: “Optando Entre o Perene e o Perecível”.
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Pergunta:
Até que ponto a teosofia considera o eu pessoal como algo insignificante ou desprezível?
Comentário:
Como instrumento, o pequeno eu é de fundamental importância, e deve ser muito bem tratado. Ele só é realmente insignificante quando pretende ocupar o lugar da Alma Imortal, que constitui ao mesmo tempo a essência, a fonte e o destino final da sua própria existência como “eu” mortal.
Uma causa básica do sofrimento está no hábito de olhar para o transitório como se fosse permanente, e para o permanente como se fosse transitório. A análise da confusão entre o perene e o perecível explica a relação de causa e efeito entre ignorância e dor.
Pensemos por exemplo no processo da reencarnação, com suas várias etapas, desde o minuto em que ocorre a morte física, passando pelo kama-loka e o devachan, até o reencontro – de mil a quatro mil anos depois – com o carma acumulado das existências anteriores. Este reencontro causa o renascimento. E o mero fato de estudar com calma um tema como este liberta o estudante das camadas mais profundas do medo da morte. Ele fica então mais livre para ver sua atual encarnação como Instrumento de algo maior.
Quando o estudante percebe de fato em si mesmo aquilo que é eterno e aquilo que é passageiro, ele passa a tomar providências práticas para colocar sua vida menor – a vida física do eu inferior – a serviço da vida maior, a vida do seu Eu interno. Vejamos outro exemplo do confronto entre o perene e o provisório.
Quando uma pessoa com mais de 40 anos fica surpresa e contrariada diante do “seu envelhecimento” – na verdade, o envelhecimento do seu corpo físico -, ela está ficando surpresa com algo muito óbvio, porque sabe que todos os corpos físicos envelhecem e morrem. Por que há surpresa ou contrariedade diante de algo que é tão bem conhecido? Por que motivo surgem o assombro e a perplexidade, diante da morte do nosso pai, da nossa mãe, do avô ou avó?
A razão é que sentíamos pré-conscientemente que a essência do ser humano – a essência nossa e a essência dos que são próximos a nós – não envelhece e não morre. Há uma vocação natural para a imortalidade, e ela vem do nível imortal do nosso ser. Por isso a morte surpreende. Mas a vocação de imortalidade só se realizará de fato nos planos superiores da vida.
Há, pois, uma grande linha divisória a perceber: a linha divisória entre o perene e o perecível. Esta percepção nos permite optar pelo que é essencial. Não se trata de desprezar o mundo inferior, mas de adaptá-lo, colocando-o a serviço do eu superior.
Libertado das ilusões, vendo o perene como perene e o transitório como transitório, o eu inferior tem prazer de estar serviço de algo maior do que ele próprio. É isso o que fazem os indivíduos que dedicam sua vida a um ideal. Eles têm prazer de trabalhar por uma causa maior.
A vida física é algo absolutamente sagrado em sua transitoriedade, e sua importância pode ser reconhecida quando a vemos como uma experiência indispensável para o avanço da alma espiritual.
A tarefa evolutiva da humanidade de hoje é fazer a ponte entre o espiritual e o físico. Os dois são necessários: a vida é a reunião cíclica do eterno com o transitório.
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Leia também os textos “O Respeito Pelo Eu Inferior” e “A Ponte Entre Céu e Terra”, que estão disponíveis em nossos websites associados.
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