A Cada dia, Reforçarei a Presença do
Eterno, da Bondade e da Sinceridade
Joana Maria Ferreira de Pinho
A aproximação à filosofia esotérica ocorre para cada estudante de forma única. Enquanto os caminhos que levam alguém a querer beneficiar a humanidade são inúmeros no plano da forma, na sua essência a trilha é a mesma para todos os peregrinos.
Lemos no texto “Ideias ao Longo do Caminho – 19”, de Carlos:
“O caminho místico é um só, internamente, e com razão a sabedoria oriental afirma: ‘Não há outro caminho a percorrer’. Externamente, no entanto, as estradas são tantas quantos os grãos de areia no fundo de um oceano.” [1]
Não temos condições de julgar o caminho de cada um limitando o olhar à aparência, assim como não é possível determinar a idade espiritual de alguém pelo discurso ou por qualquer outra ação externa.
Ser espiritual não depende de usar trajes específicos, recitar escrituras sagradas ou viajar até Índia, Israel ou qualquer outro país com fortes tradições filosóficas e religiosas. A espiritualidade das pessoas, e do mundo em geral, pode ser verificada pelo benefício interior, de longo prazo, que suas ações trazem para a humanidade.
Ao ler as Cartas dos Mahatmas vemos quão duras podem ser as palavras de um sábio, e como podem parecer frias – às almas mais infantis – as ações daqueles que, apesar de terem alcançado o reino divino na sua plenitude, se recusam a abandonar a humanidade e a apoiam em seu desenvolvimento espiritual. Um indivíduo espiritualmente maduro coloca a verdade acima da cortesia e o bem da humanidade à frente de qualquer ganho próprio.
A civilização ocidental é majoritariamente infantil. Assim como as crianças muitas vezes consideram autoritários aqueles que lhes impõem limites, as almas infantis olham para rigor, disciplina, justiça, dever, responsabilidade, como práticas “nocivas”, mas elas são necessárias ao descobrimento do eu interno e da autoexpressão.
No caso da educação das crianças vemos – nas gerações atuais – que muitas vezes o amor se confunde com uma permissividade cega por parte dos educadores. Também na esfera da espiritualidade se espera que líderes e companheiros de caminhada digam sempre coisas amáveis e tenham ações agradáveis no plano das personalidades.
É possível constatar na realidade diária que nem sempre aquele que aos olhos dos outros é espiritualizado o é de fato. E muitas vezes aquele que leva uma vida amplamente espiritual é visto como ignorante e até idiota pelos outros.
A jornada dos verdadeiros mestres do altruísmo é retratada de forma simbólica em diversas religiões. No plano dos eus inferiores, das personalidades, sabemos que a vida desses indivíduos é tudo menos fácil. Nos escritos de filosofia clássica temos descrições realistas do caminho que leva à plenitude interior. O caminho é estreito e íngreme. O “Y pitagórico”, sobre o qual o filósofo Maximinus escreveu, dá uma imagem perfeita das duas direções opostas que o peregrino tem diante de si:
“A letra pitagórica se abre em dois caminhos, mostrando as duas sendas a que a vida do homem é levada. O caminho da direita conduz à virtude sagrada, e termina em paz, embora íngreme e difícil no início; o outro caminho é amplo e suave, mas, do seu ponto mais alto, o viajante é lançado para baixo, caindo sobre rochas. Quem aspira à Virtude com duros esforços adquire valor e renome superando as dores; mas morre desonrado aquele que busca a preguiça e a luxúria e foge do trabalho das grandes obras.” [2]
Robert Crosbie afirmou:
“O momento da escolha existe o tempo todo para cada indivíduo.” [3]
Talvez a possibilidade de escolha seja para alguns apenas uma fantasia. Mas a realidade é que temos esse poder – o de escolha – e por vezes o ignoramos.
Parece mais fácil abdicar da escolha, pois ao escolher uma determinada coisa entre várias opções, a responsabilidade passa a ser claramente nossa. Com isso já não podemos “projetar” psicologicamente o peso da decisão para a vida, para as circunstâncias, ou para os ombros de familiares, de amigos ou mesmo de desconhecidos.
Porém a responsabilidade é sempre nossa, quer tenhamos ou não tenhamos consciência desse fato. Somos elementos ativos em tudo aquilo que vivemos. Somos resultados das nossas escolhas, motivações e metas.
Levando este fato em conta, encerro com um trecho de “Oração Diante do Futuro”:
“Agirei de modo justo e equilibrado. A insignificância externa abre o caminho do significado profundo. A derrota no mundo prepara a vitória do espírito. Não será buscada por mim a felicidade como fato isolado. Adotar esta meta provocaria o declínio do meu sentido ético. Prefiro construir as causas da felicidade incondicional. Cumprir o dever é minha proteção. O inegoísmo constitui a base do contentamento. Serei honesto com minha alma. Escutarei aquele nível de silêncio que produz comunhão com independência. A agulha da minha bússola aponta para aquilo que é moralmente bom, belo e verdadeiro. Viverei como um hóspede anônimo do planeta: o nome dado a mim por meus pais é um pseudônimo válido para a presente encarnação. No anonimato essencial, encontro a verdade sem palavras. Nela moro de fato. A cada dia, reforçarei a presença do eterno, da bondade e da sinceridade.”[4]
Om, shanti. Namascar.
NOTAS:
[1] Do artigo “Ideias ao Longo do Caminho – 19”.
[2] Ver o texto “O Caminho do Aprendizado – Parte I”, de Carlos Cardoso Aveline.
[3] Palavras de Crosbie citadas no texto “Indo Além da Anestesia”, de Carlos.
[4] De “Oração Diante do Futuro”.
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O texto acima foi publicado nos websites associados dia 8 de julho de 2019.
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