Há Algo em Comum Entre os Padres do
Deserto  e os Estudantes de H.P. Blavatsky
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
O Novo Testamento afirma que Jesus retirou-se para o deserto e lá enfrentou o seu demônio. Os padres do deserto, tratando de seguir o exemplo do grande sábio, retiravam-se nos primeiros séculos do cristianismo para as regiões mais áridas do Oriente Médio, e lá lutavam com os seus demônios.
 
Quando vemos nos textos publicados pela Loja Independente de Teosofistas que os padres do deserto tinham muito em comum com os essênios, e que o estudo das Frases e Ditos dos padres do deserto é valioso para o estudante de filosofia esotérica, é natural que perguntemos:
 
O teosofista moderno precisa enfrentar demônios?
 
A resposta depende do significado que atribuímos à palavra. O termo “demônio” causa arrepios às moças mais ingênuas e às senhoras supersticiosas, mas o significado real da palavra é simples. Quer dizer “espírito”. Assim, demônio da gula é o espírito da gula. O demônio da luxúria é o espírito da luxúria. O demônio da inveja é o espírito da inveja. E temos também o espírito da ira, o demônio do medo, o demônio da preguiça, o espírito do pessimismo e assim por diante.
 
Este tipo de espírito corresponde ao conceito teosófico de “elemental”. Cada um deles é a  força de um instinto, somada à força do hábito. Eles são dotados de uma certa inteligência astuciosa, pela qual enganam o nível autoconsciente da pessoa bem-intencionada. Na verdade, a vida e a substância deles pertencem aos setores não-iluminados da alma em que vivem, ou da alma que eles procuram atacar, e na qual buscam alojamento.
 
Este raciocínio muda o significado da pergunta. O enfoque supersticioso das senhoras assustadas fica superado. O próximo passo será enfrentar uma opinião generalizada em certos círculos religiosos e “esotéricos”: a ideia fantasiosa de que não precisamos combater coisa alguma, de que tudo é harmonia no universo, e de que a intenção de “lutar contra alguma coisa” é apenas uma “vibração inferior de seres egoístas e sem iluminação”.
 
Na verdade, a vida é um combate permanente.
 
Em nosso corpo físico, os leucócitos, ou glóbulos brancos, são guerreiros que combatem adversários do bem-estar humano a todo momento, protegendo a nossa saúde. No plano psicológico, combatemos o tempo todo o erro próprio e às vezes somos obrigados a combater o erro alheio. Nas Cartas dos Mahatmas, os Mestres de Sabedoria definem o teosofista como um guerreiro da verdade. Simbolizando a mesma coisa, Jesus expulsou a golpes de relho os mercadores do templo, e disse também que não veio trazer a paz, mas a espada.
 
Sim, cada teosofista deve combater os seus demônios, o espírito do erro, o espírito do medo, o espírito da preguiça, e mais alguns, que ele próprio precisa identificar, observar, compreender, combater preliminarmente para localizar o modo mais eficiente de dar combate, e então, começar a eliminar.
 
Mas será preciso combater no deserto?
 
Toda alma é um vasto território que inclui regiões desertas e retiradas. 
 
Os bons votos e as decisões sagradas do aprendiz de teosofia são como guerreiros que combatem e vencem demônios no deserto da sua própria alma.
 
000
 
O artigo acima foi publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas no dia 04 de junho de 2024.
 
000
 
Leia mais:
 
 
 
 
 
* Começando Pelo Mais Difícil , de O.S. Marden.
 
000
 
 
Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
000