Para a Filosofia Esotérica, Não Há
Religião Mais Elevada Que a Verdade
Carlos Cardoso Aveline
A verdadeira Fraternidade é universal, é
incondicional, e não depende de todos pensarem do mesmo modo.
“Tem sido sempre assim. Aqueles que
vêm zelando pela humanidade através dos
séculos, neste ciclo, têm visto os detalhes
desta luta mortal entre a Verdade e o Erro
repetirem-se constantemente. Alguns de vocês,
teosofistas, são atingidos apenas em sua ‘honra’
ou em seus bolsos, mas os que erguiam a fonte
de luz nas gerações anteriores pagavam com suas
vidas pelo seu conhecimento. Coragem, pois, todos
vocês, que querem ser guerreiros da Verdade una e
divina; alimentem sua força moral, não a desperdicem
com futilidades, mas usem-na em grande ocasiões…”
[ Um Mahatma dos Himalaias, em “Cartas dos
Mahatmas”, Ed. Teosófica, Brasília, Carta 130, p. 287. ]
Alguns membros sinceros do movimento teosófico, até hoje mal informados sobre o caminho espiritual, acreditam que a caminhada em busca da verdade pode ser trilhada sem conflito algum. Para alcançar este objetivo, eles começam deixando de lado o lema do movimento filosófico criado por Helena P. Blavatsky em 1875:
“Não Há Religião Mais Elevada Que a Verdade”.
Em seguida, fazem todo o possível para esquecer e ocultar os graves erros de líderes pseudoteosóficos do século 20. Não contentes com isso, em muitos casos acusam de “antifraterno” a quem quer que insista em confiar na Verdade, ou em pensar por si próprio. Em alguns casos, terminam promovendo a perseguição dos “hereges”, fato de que temos vários exemplos históricos documentados no Brasil, pelo menos desde o início dos anos 1970.
A premissa segundo a qual o movimento teosófico pode existir sem conflitos, e deve portanto ocultar a qualquer preço os erros dos seus dirigentes, queimando a Verdade e o Discernimento como incenso no altar da Falsa Harmonia, é apenas uma fantasia e uma ilusão, e não corresponde aos fatos.
O movimento teosófico é um campo de testes, um campo probatório, e não existe provação nem progresso sem conflito entre verdade e ilusão. Anestesiar as pessoas, vender-lhes a ilusão de que “não há um caminho íngreme, estreito e difícil”, ou de que sofrimento e conflitos são alheios à proposta teosófica, é uma das marcas registradas do pseudoesoterismo moderno.
A credulidade é perigosa e deve ser eliminada pelo debate franco. Por isso, e prevendo o surgimento da pseudoteosofia, um Mestre escreveu na Carta de 1900:
“Credulidade gera credulidade e termina em hipocrisia.”
Na verdade, uma harmonia que depende de todos pensarem igual e ocultarem medrosamente os erros absurdos do período de 1894 a 1934 – cujos resultados estão de pé até hoje – não pode ser verdadeira harmonia.
Desde que surgiu, em torno de 1900, a estrutura papal de poder da ST de Adyar é disfuncional. É uma estrutura anacrônica e não corresponde à proposta original. A proposta autêntica do movimento nada tem a ver com ritualismos nem com igreja cristã messiânica, como na experiência infeliz com Jiddu Krishnamurti, apresentado ao mundo em torno de 1910 como alguém que deveria fazer o papel de Messias, enquanto era pressionado e manipulado por falsos bispos “católicos” e “teosóficos”. Basta ler, a respeito, os livros de Mary Lutyens.
A sra. Lutyens foi amiga pessoal durante toda sua vida não só de J. Krishnamurti, mas também da ex-presidente internacional da Sociedade Teosófica de Adyar, sra. Radha Burnier (1923-2013).
O livro de Mary Lutyens intitulado “Vida e Morte de Krishnamurti” (Ed. Teosófica, Brasília, 1996) revela fatos diante dos quais só se pode concluir que a Sociedade Teosófica de Adyar perdeu o contato não só com os Mestres, mas com o bom senso e o equilíbrio mais básicos. Um desses fatos, narrado às pp. 85-88 da edição brasileira de “Vida e Morte de Krishnamurti”, é o anúncio feito por Annie Besant de que ela própria, C. W. Leadbeater, C. Jinarajadasa e outros quatro teosofistas haviam alcançado nada menos que o Nirvana e o Adeptado, e eram, portanto, Mahatmas. Esse era o momento solene em que Jiddu Krishnamurti deveria transformar-se em “Jesus Cristo”. Até hoje, nenhum dirigente da ST de Adyar fez uma autocrítica pelas mentiras e absurdos promovidos publicamente e aceitos pelos seus seguidores, todos iludidos em sua boa-fé.
Por outro lado, a proposta autêntica de movimento teosófico gira em torno da ética, da filosofia e do respeito pela verdade, com bom senso.
Nesta primeira parte do século 21, os setores do movimento que permanecem leais aos Mestres e à Causa são uma antecipação prática e luminosa da sociedade humana da era de Aquário, cujos cidadãos combinarão Solidariedade com Independência, e Responsabilidade Individual com Devoção a um Ideal; mas que não se deixarão arrastar a crenças cegas ou dogmas e rituais autoritários.
A Harmonia autêntica não se separa da Verdade.
Ela não se apega à Uniformidade de Pensamento. Ela não suprime o contraste nem a diversidade em nome de alguma “Fraternidade” imposta de cima para baixo.
A autêntica Fraternidade é universal, é incondicional, e não depende de todos pensarem do mesmo modo. Ela cresce com a “biodiversidade cultural” e a “biodiversidade espiritual”, e sabe aprender com seus erros.
Por isso, é de se esperar que, em vários países, um número cada vez maior de teosofistas sinceros, tendo acesso a uma visão mais realista do movimento, passem a pensar por si próprios, comparando os fatos com os discursos e optando pela verdade.
A História mostra que o caminho inicialmente largo e cômodo da crença cega leva apenas à ilusão e à decepção -; mas há um caminho estreito e difícil que leva à Verdade e à paz interior.
Aqueles que têm boa vontade encontram o Caminho autêntico mais cedo ou mais tarde.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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