Quando as Linhas Positivas do Carma Convergem
Carlos Cardoso Aveline
Nas cartas dos Mestres de Sabedoria, um Mahatma dos Himalaias menciona as “linhas convergentes do carma” daqueles que partilham o esforço teosófico. [1]
O Carma tem inúmeros níveis ou linhas de acumulação. Elas podem avançar em direções diferentes ou podem convergir, de acordo com a energia dos ciclos individuais e coletivos.
O movimento teosófico tenta ser um núcleo e um ponto de encontro para aqueles que percebem o futuro humano como algo luminoso, e trabalham para tornar mais fácil o nascimento de uma civilização melhor. Este ponto de encontro não é burocrático: a sua substância é feita de uma afinidade superior e de ação altruísta.
Milhares de cidadãos de boa vontade vivendo em diferentes circunstâncias e em países e condições sociais contrastantes podem partilhar a mesma visão de mundo e alimentar a intenção comum de cooperar abrindo caminho para um futuro melhor da humanidade. As linhas individuais do nível superior do carma deles então convergem.
Falando em termos gerais, deste modo é preparado um certo nível do Ponto Ômega. Naquele “instante” especial do tempo, sobre o qual Pierre Teilhard de Chardin escreveu no século vinte, a centelha da fraternidade se transformará na chama da compreensão e a humanidade poderá despertar para a prática da ética universal.
Teilhard de Chardin escreve:
“… Devemos reconhecer a probabilidade rapidamente crescente de que estejamos nos aproximando de um ponto crítico em maturidade, no qual o ser humano, agora voltando-se por completo sobre si mesmo, tanto individual como coletivamente, terá alcançado ao longo do eixo da complexidade (e isso com toda a força do seu impacto espiritual) o limite extremo do mundo. E é então, se quisermos atribuir uma direção significativa à nossa experiência e enxergar até onde ela nos leva, que, segundo tudo indica, seremos obrigados a olhar naquela direção, para finalmente completar o fenômeno, a chegada definitiva do pensamento da Terra ao que chamei de Ponto Ômega.” [2]
Quando diferentes linhas de ação mental e emocional se reúnem no mesmo ponto elevado, a Concentração ocorre. O processo das “linhas convergentes do Carma” é, portanto, igualmente individual e coletivo.
Se alguém passa, digamos, quatro décadas ou quatro encarnações procurando pela sabedoria e sem obter resultados significativos, haverá um momento em que as inúmeras tentativas apontando para a mesma meta sagrada finalmente encontrarão umas às outras, expandindo-se mutuamente e transmutando-se todas em uma espécie de Ponto Ômega da linha de tempo de uma existência individual, ou ponto de esclarecimento da linha cronológica maior, que inclui diversas encarnações.
Este é um “momento eterno”.
O passado e o futuro se encontram em uma percepção transcendente de tudo o que aconteceu e acontecerá. A sabedoria é alcançada, e o peregrino passa por uma transformação substancial. Este é o motivo pelo qual se diz que nenhuma tentativa nobre é perdida jamais ao longo do caminho do conhecimento divino. Todas elas são passos preparatórios e são úteis.
No momento certo as unidades de energia latente de incontáveis tentativas passadas finalmente se reúnem devido à lei das “linhas convergentes do carma”. Elas então produzem Iluminação de acordo com o mérito acumulado pelo eu superior do peregrino. E algo semelhante ocorre nos aspectos coletivos da evolução humana. Cada fracasso é uma lição a ser compreendida em seu devido tempo, cada derrota ajuda a abrir caminho para a alma na direção da grande vitória, e o inverno mais rigoroso é uma porta a ser aberta no momento certo para a próxima primavera.
NOTAS:
[1] “Cartas dos Mestres de Sabedoria”, Ed. Teosófica, Brasília, Carta 4 da primeira série.
[2] “Let Me Explain”, Teilhard de Chardin, textos selecionados e editados por Jean-Pierre Demoulin, um volume publicado por Collins, Londres, Reino Unido, 1970, 192 pp., ver p. 56. Leia também os livros “Em Outras Palavras”, de Teilhard de Chardin, Martins Fontes, SP, 2006, especialmente pp. 38-41, e “The Future of Man”, Teilhard de Chardin, publicado por Collins Sons, New York – London, 1964.
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Uma versão inicial do artigo acima foi publicada na edição de novembro de 2016 de “O Teosofista”, p. 12.
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