Simplicidade Voluntária é
Indispensável na Caminhada
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Cachorros transmitem lições de teosofia sem necessidade de palavras
 
 
 
Estudante A:
 
Alguns “líderes espirituais” parecem considerar a si mesmos como incapazes de errar. O que diz a teosofia a respeito?
 
Estudante B:
 
A marca de uma pessoa desinformada é a esperança de ser infalível. O orgulho que decorre desta esperança é sintoma que não há um bom contato com a alma imortal. 
 
Os seres humanos são todos aprendizes, quando são sábios. O importante é aprender a aprender, e H. P. Blavatsky escreveu:
 
“Por que deveria qualquer um de nós – sim, e até mesmo o maior conhecedor da sabedoria oculta entre os teosofistas – adotar a pose da infalibilidade? É melhor admitirmos humildemente como Sócrates que ‘só sabemos que nada sabemos’; pelo menos, em comparação com o que ainda temos que aprender.” [1]
 
A luz da aprendizagem interior ilumina melhor aquele que corrige seus erros com gratidão e simplicidade, enquanto avança pelo caminho estreito e íngreme que vai morro acima em direção à visão do Todo. 
 
Estudante A:
 
Compreendo. Mas neste ponto surge outra dúvida. 
 
Estudante B:
 
Diga. Franqueza é fundamental.
 
Estudante A:
 
A humildade é indispensável. Certo.  E isso significa que, para sermos humildes, devemos renunciar à audácia? Será necessário deixar de lado, por exemplo, a esperança de mudar o mundo? É nossa obrigação abandonar o desejo de fazer coisas significativas para melhorar definitivamente a situação humana? Talvez seja uma arrogância ter a pretensão de mudar o mundo e abrir espaço para uma civilização baseada na ética e na sabedoria.
 
Estudante B:
 
Não é arrogância.  
 
A coragem e a simplicidade – assim como a audácia e a autocrítica – são igualmente importantes. Saber perder é uma condição indispensável para obter o verdadeiro êxito. Abrir espaço para a civilização da fraternidade é uma tarefa prática que requer uma visão de longo prazo. Devemos viver a renúncia e, ao mesmo tempo, agir com uma profunda vocação de vitória. Robert Crosbie escreveu sobre a necessidade de combinar humildade e coragem.
 
Ele disse:
 
“Nós assumimos uma alta missão e uma tarefa pesada – não porque pensemos que estamos notavelmente à altura dela, mas porque vemos que ela deve ser feita e que não há mais ninguém para fazê-la; e também porque sabemos que não estaremos sós no esforço.” [2]
 
Lições de filosofia esotérica podem ser encontradas em toda parte. Basta ter olhos para ver. Os animais, por exemplo, ensinam sabedoria sem necessidade de palavras. Podemos aprender com os cachorros a ser simultaneamente mais leais, mais humildes, mais confiantes – e mais corajosos.  
 
Estudante A:
 
Percebo que a esperança de ser infalível é uma atitude infantil. Mas o comodismo também é coisa de criança. Só é possível trabalhar com eficiência por uma causa nobre quando sabemos conviver bem com nossos erros e aprender com eles. Deve-se corrigi-los gradualmente e com firmeza.   
 
Estudante B:
 
Exato.
 
Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece. Aquele que sabe aprender observa os seus fracassos desde o ponto de vista do seu potencial sagrado, e evita repeti-los.
 
O desafio do peregrino é agir a cada momento da maneira mais correta possível: mas é preciso fazer isso com realismo, porque as autoexigências exageradas são apenas um modo disfarçado de levar a si mesmo a derrotas desnecessárias. O equilíbrio e a paz-ciência são indispensáveis.
 
Estudante A:
 
Quais são as condições básicas necessárias à vitória?
 
Estudante B:
 
Posso citar quatro delas:
 
1) Buscar uma meta elevada;
2) Usar a clareza e discernimento de que dispomos; 
3) Combinar grande audácia com absoluta humildade;
4) Perseverar sem expectativa de recompensas no plano pessoal.  
 
E ser realista nem sempre é fácil. Não basta erguer o olhar para um ideal nobre: é preciso vigilância para preservar a humildade e o bom senso. O discernimento está na base da perseverança, e a perseverança prepara uma vitória durável.   
 
NOTAS:
 
[1] “Theosophical Articles”, H. P. Blavatsky, Theosophy Co., Los Angeles, edição em 3 volumes, 1981, ver volume 1, p. 22, texto “Esoteric Buddhism and The Secret Doctrine”.
 
[2] “The Friendly Philosopher”, Robert Crosbie, Theosophy Company, Los Angeles, 1945, p. 370.
 
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada de modo anônimo na edição de março de 2009 de “O Teosofista”.
 
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