A Consciência Superior do Ser Humano
Robert Crosbie
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Nota Editorial:
O texto a seguir foi traduzido do livro
“The Friendly Philosopher”, de Robert
Crosbie, Theosophy Co., 1945, 416 pp.,
pp. 258-263, e publicado pela primeira vez na
edição de fevereiro de 2008 de “O Teosofista”.
Seu título original é “Sleep and Dreams”.
(CCA)
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Há alguma coisa em nós que entra no estado chamado de sonho, no estado chamado de sono, e no estado chamado de morte. Nenhuma compreensão pode ser obtida dos estados a que passamos, e dos quais emergimos, exceto com base na ideia de que existe um Ego, um pensador, um observador, um conhecedor, um experienciador, que ingressa nos estados e emerge deles, e de que este Ego, o verdadeiro ser humano, preserva a sua integridade em todos eles.
Nós somos mais do que qualquer um dos estados em que ingressamos, por mais admiração que possamos ter por algum destes estados. Mesmo se imaginarmos que já alcançamos, ou que podemos alcançar o estado mais elevado de inteligência e ação – aquele que chamamos de divino – somos nós que ingressamos nele. Assim, uma compreensão dos estados nos quais ingressamos só pode ser obtida quando reconhecermos que existe um Algo em nós que atravessa todos aqueles estados; devemos, portanto, tentar entender o que é este algo, e começar o esforço exatamente onde nós estamos agora. Não podemos começar de qualquer outro lugar ou posição que não seja aquele em que estivermos no momento.
O que descobrimos, então? Que somos uma identidade continuada. Já passamos por muitas mudanças desde o nascimento até agora, mas nossa identidade não mudou, sejam quais foram as mudanças pelas quais ela necessitou passar. Quando temos este fato claramente fixado em nossas mentes, alcançamos o ponto da percepção de que há uma natureza imortal em cada um de nós; de que ela é divina em sua essência, e de que não é sujeita a mudanças, mas imutável.
Entramos no estado de sonho logo que saímos do corpo, antes de passar para o estado de sono sem sonhos; e, antes de acordar, ele é novamente o estado de transição, ao qual nós retornamos antes de reassumir o estado de vigília no corpo. Sabemos que temos todos os sentidos durante os sonhos, embora o corpo esteja quieto, e os órgãos dos sentidos não estejam sendo usados. Podemos ver e sentir; nós escutamos, falamos e agimos, assim como fazemos no estado de vigília, mas sem usar os órgãos físicos associados com estas sensações e ações. Isto mostra que estamos conscientes, vivos, que existimos, embora o corpo não perceba coisa alguma. Sabemos, além disso, que a nossa identidade não é perturbada pelo ingresso no estado de sonho; somos nós mesmos, e mais ninguém, que está vivenciando aquele estado.
Sabe-se que o estado de sonho dura muito pouco, se comparado com o estado de vigília. É sabido que podemos vivenciar no sonho o que parece um período muito longo de tempo, embora a experiência não dure mais do que alguns segundos de acordo com o relógio. Há uma parte do descanso de uma noite, de longe aquela parte que é a maior, que só é conhecida por nós, durante o estado de vigília, como “o sono sem sonhos”. Este é apenas o sono do corpo. O corpo fica então quase como se tivesse sido inteiramente abandonado. No entanto, o ser deve estar em algum lugar, porque ele existe o tempo todo, e é consciente, tendo a mesma identidade. Se isso não fosse verdade, nós não acordaríamos, ou então, ao acordar, haveria outro ser completamente diferente.
Os psicólogos ocidentais não foram além destas ideias, em relação a sono e sonho.[1] Eles não sabem o que já era sabido eras atrás e ainda é conhecido hoje por alguns; que o Ego, o homem, o pensador, está mais completamente ocupado, e está mais em seu verdadeiro ser, durante o sono sem sonhos do corpo, do que em qualquer outro momento. Por isso já se disse que o dia claro do corpo é a noite da alma, e a noite do corpo é o dia claro da alma. Quando o corpo adormece, o verdadeiro homem fica ativo ao máximo, com o grau maior de inteligência, mas pensando e agindo em um plano diferente dos planos que conhecemos durante a existência comum em estado de vigília.
Nada sabemos sobre o sono, embora digamos que passamos por esta experiência. O que sabemos é que estamos ficando sonolentos – isto é, que o corpo está ficando exausto – mas o sono nunca vem a nós. Estamos acordados durante o dia; estamos conscientes; pensamos. Mas, quando acordados, a nossa capacidade de ver e saber se aplica quase exclusivamente a coisas externas de tipo material, de modo que aquilo que chamamos conhecimento – conhecimento do estado de vigília – é, praticamente, uma aplicação de todas as nossas forças à existência física, e só a ela. Quando dormimos, o que ocorre?
Durante aquele intervalo, sabemos que o corpo está absolutamente sem responder a qualquer coisa externa. Não sabemos nem sentimos qualquer coisa que aconteça a nossos amigos. Podem ocorrer as piores calamidades ao nosso redor, mas nada saberemos sobre elas até que retomemos o controle do corpo. No entanto, devemos estar vivos, conscientes, e com a mesma identidade. Isto coloca as nossas mentes diante da questão de por que, ou como, ao acordar, nada sabemos daquela atividade em planos mais elevados e completamente diferentes, durante o sono profundo do corpo.
Temos dentro de nós, em estado suspenso, mas não esquecido nem inacessível, todo este conhecimento. Ele está registrado e inscrito em nossa natureza imperecível tão verdadeiramente quanto qualquer outro registro pode ser feito – qualquer coisa pela qual tenhamos passado, cada aspecto da experiência, do conhecimento que tenhamos alguma vez adquirido. Quando dormimos – isto é, quando o corpo dorme – nós voltamos àquela fonte de conhecimento que está dentro de nós; mas não “despertamos” pela manhã nem um pouco mais sábios. Como pode ocorrer que, possuindo um tal conhecimento, possuindo os poderes que pertencem ao Espírito imortal, à Inteligência divina, nós não possamos usá-los, e não sejamos sequer conscientes da sua presença em nós?
Há uma lei conhecida como Carma, a lei da ação e da reação, que tem sido enunciada da seguinte maneira: “O que se planta, se colhe.” Nós pensamos e atuamos, enquanto estamos no corpo, de um modo a produzir um instrumento que contradiz a nossa verdadeira natureza. Empregamos o poder da nossa inteligência para avaliar e usar coisas materiais – coisas que pertencem a um nível de existência inferior ao nosso próprio – e assim ficamos envolvidos com tais objetos. O cérebro que usamos responde quase inteiramente a estas ideias inferiores, de modo que, quando retornamos a ele, ao acordar, não há nada no cérebro que possa receber a mais leve impressão ou registro daqueles níveis de consciência pelos quais passamos.
Se somos seres que passam por altos níveis de consciência durante o sono, como poderemos, em algum momento, recuperar o conhecimento deste nosso patrimônio? Se nos dizem que somos naturalmente divinos e não terrestres; que temos um passado imenso; que temos planos de consciência mais altos do que este e capacidade de agir naqueles planos – qual é o efeito disso sobre nós? O que isso nos transmite? O que isso desperta em nós? Isso não nos faz olhar a vida de um ponto de vista diferente daquele que estamos, até agora, acostumados a adotar?
Tudo o que fazemos e cada resultado que colhemos é governado por alguma atitude mental que adotamos diante da vida. Se alguém é ateu, digamos, ou materialista, e pensa que a vida começou com este corpo e vai terminar com ele, todos os seus pensamentos e ações estarão sobre esta base. Mas se o indivíduo troca esta ideia pela premissa de que ele é imortal em sua natureza essencial, então este fato começa, por si mesmo, a provocar uma transformação.
O importante não é o que vivemos, mas o que aprendemos com a vida. O que devemos desejar é conhecimento, e não conforto ou posição social. Nós desejamos conhecer porque, ao ter conhecimento, percebemos a coisa certa a fazer e os pensamentos corretos a alimentar. Já que pensamos o tempo todo, estamos tendo sempre pensamentos bons, maus ou indiferentes; e nossas ações são boas, más ou indiferentes – conforme nossos pensamentos. Se começamos a pensar corretamente, damos uma direção àquela Força Espiritual que é a própria essência da nossa natureza. Se um homem pensar corretamente, se pensar e agir sem egoísmo, ele seguramente abrirá circuitos em seu cérebro que levarão a uma percepção e uma compreensão cada vez maiores da sua própria natureza. Quando alcançar determinado ponto, ele será capaz de perceber que, seja qual for o estado da sua consciência – em vigília, sonhando ou em sono sem sonhos, e ainda que o corpo tenha passado para o estado chamado de morte – não há cessação para ele.
Supondo que sejamos capazes de passar do estado de vigília para o sonho; do sonho para o sono; do sono para a morte; e da morte para o renascimento em outro corpo – e que passemos por todos estes estágios e mudanças sem uma só perda de memória, de modo que possamos não só manter uma memória intacta ao ir de estados inferiores para superiores, mas também trazê-la conosco ao vir de estados superiores para inferiores, ao longo de cada plano, e trazendo o conhecimento neste ou em outro corpo – o que seríamos nós? Seríamos, neste caso, exatamente o que somos. Saberíamos a relação que existe entre este plano e todos os outros. Poderíamos ler os corações das pessoas. Poderíamos ajudá-las a adotar um ponto de apoio mais elevado. Não seríamos mais iludidos pelas ideias que motivam a maior parte das pessoas. Não lutaríamos mais por destaque ou posições sociais. Lutaríamos apenas por conhecimento, e por todo tipo de condições que nos permitissem ser mais capazes de ajudar e ensinar aos outros. Quer estivéssemos em um corpo ou fora dele, nós estaríamos junto à Divindade o tempo todo.
É para despertar os seres humanos para uma compreensão da sua própria natureza e para o uso correto dos seus poderes que a Teosofia foi trazida novamente até eles, como foi feito em uma época após a outra, por Aqueles que são maiores do que nós – Aqueles que passaram pelos mesmos estágios em que estamos agora – nossos Irmãos Mais Velhos, os Cristos de todos os tempos, as Encarnações Divinas. São eles que vêm para lembrar-nos das nossas próprias naturezas; e para despertar-nos para a ação, de modo que o que realmente somos possa ser conhecido e expressado por nós aqui, neste plano físico mais inferior, no qual estamos realizando nosso destino – um destino feito por nós mesmos, um destino que só pode ser mudado por nós, pelo próprio poder daquele Espírito que nós somos.
Ninguém pode saber coisa alguma através de outra pessoa. Cada um tem que saber por si mesmo. Cada um deve fazer o seu próprio aprendizado. O objetivo da Teosofia é ensinar e mostrar ao ser humano o que ele é, e apresentar a ele a necessidade de que conheça a si mesmo. Nenhuma salvação vicária, nenhuma transmissão indireta de conhecimento é possível. Mas pode ser indicado o rumo em que se encontra o conhecimento; os passos que nos levarão naquela direção podem ser mostrados; e isso só pode ser feito por quem já trilhou o caminho antes. É exatamente essa tarefa que está sendo feita. Este tem sido o procedimento de todos os salvadores da humanidade. É a doutrina de Krishna, de Buddha, de Jesus, e também a doutrina de H. P. Blavatsky. Os dois ensinamentos que o Ocidente necessita mais urgentemente são os do Carma e da Reencarnação, isto é, as doutrinas da esperança e da responsabilidade. Carma, a doutrina da responsabilidade, significa que tudo o que o homem plantar, colherá. Reencarnação, a doutrina da esperança, significa que, seja o que for que ele esteja colhendo agora, nunca haverá um tempo em que ele não possa plantar as sementes de algo melhor. O próprio fato de sofrer é uma bênção. O Carma e a Reencarnação nos mostram que o sofrimento é provocado por pensamentos e ações errados. Através da dor, podemos chegar a uma compreensão de que estávamos em um rumo equivocado. Aprendemos através do nosso sofrimento.
A vida é uma grande escola que ensina a Ser, e já chegamos a aquele estágio em que é a hora de compreender o propósito da existência; de assumir firmemente o comando do nosso ser. É hora de usar todos os meios que estão à nossa disposição, nas diferentes dimensões – vigília, sonho, sono sem sonhos ou qualquer outro estado – para colocar toda a nossa vida em harmonia, de modo que o nosso instrumento inferior possa estar “alinhado”, e assim seja, cada vez mais, um reflexo da nossa natureza interiormente divina.
NOTA:
[1] Este texto foi escrito por Robert Crosbie entre 1909 e 1919. (CCA)
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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