Pomba Mundo
 
Trechos de Uma Obra Profética
Descrevem a Humanidade Futura
 
 
Eliphas Levi
 
 
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Nota Editorial:
 
É grande a importância teosófica da vida e da obra do pensador Eliphas Levi, cujo nome de batismo era Alphonse Louis Constant.
 
Um dos principais precursores da teosofia de H. P. Blavatsky, Eliphas Levi morreu em 1875, no mesmo ano em que H. P. B. começou seu trabalho público e deu início ao movimento teosófico. Alguns anos mais tarde, os manuscritos inéditos de Eliphas foram confiados à Sra. Blavatsky, que passou a publicá-los em série em sua revista “The Theosophist”.
 
Na abertura da Carta 70-C das “Cartas dos Mahatmas” (Ed. Teosófica), um Mestre de Sabedoria esclarece: exceto pelo fato de usar constantemente os termos “Deus” e “Cristo”, a filosofia de Eliphas Levi não está em nenhum conflito direto com os ensinamentos teosóficos. O mestre acrescenta que, esotericamente, “Deus” é apenas o princípio universal da Bondade ou Equilíbrio; e que a palavra “Cristo” tem o mesmo significado.  
 
Em torno de 1862, Levi participou de vários encontros em Londres com alguns pesquisadores da sabedoria esotérica. Entre eles estava um Mahatma, segundo o próprio Mestre informa na Carta 11 de “Cartas dos Mahatmas” (volume I, pp. 75-76).  
 
A vida e o trabalho de Eliphas Levi tornaram mais fácil o surgimento do movimento teosófico em 1875, e, além disso, sua obra permanece tendo grande valor em si mesma. Um dos pontos fortes dos seus escritos são as indicações que eles dão sobre a religião universal do futuro.
 
A seguir, veremos trechos de um dos livros mais raros de Eliphas, “A Bíblia da Liberdade” (“La Bible de la Liberté”). Graças ao conteúdo do livro, o autor foi condenado a oito meses de prisão. O suposto crime foi contrariar os dogmas do Vaticano.
 
A única edição conhecida da obra é a de 1841, imediatamente proibida pelas autoridades. “La Bible de la Liberté” é hoje extremamente raro como livro em papel, mas está disponível online, em PDF, graças à biblioteca nacional da França.[1] Faltam da obra apenas alguns capítulos, censurados.  
 
Eliphas propõe no livro uma visão utópica e profética do futuro humano que coincide em termos gerais com a visão teosófica. A obra pode ser lida como um poema em prosa. A sua visão crítica do catolicismo romano está à altura da Carta número 88 de “Cartas dos Mahatmas”.[2] O capítulo vinte, por exemplo, é dedicado a mostrar que a Igreja dogmática é o verdadeiro Anticristo, e que a igreja imperial faz, precisamente, o oposto do ensinado pelo Mestre do Novo Testamento.  
 
Traduzimos a seguir os capítulos 35, “O Futuro”, e 36, “O Templo”, que estão às pp. 90 a 94 da edição de 1841. Neles a obra aborda o momento em que a humanidade – já livre da atual ignorância – terá uma religião universal, abrangente, contendo em si o melhor das tradições de sabedoria do Oriente e do Ocidente. Este será o tempo da fraternidade universal, que o movimento teosófico visa preparar.  
 
Parte do futuro visualizado por Eliphas corresponde a períodos ainda distantes, em que a maior parte dos seres humanos estará livre da roda da reencarnação no atual plano físico. O processo é descrito em “A Doutrina Secreta”, de H.P. Blavatsky. 
 
Embora o texto de Eliphas tenha elementos de uma utopia teosófica, ele é na verdade uma visão poética da transição para o tempo futuro em que reinará – conscientemente – a harmonia universal.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
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O Templo do Futuro
 
Eliphas Levi
 
1. O Futuro
 
Os animais continuarão a se devorar mutuamente até o final. Só o homem é imortal.
 
E quando houver na humanidade mais seres humanos que animais, começará a associação dos homens livres.   
 
E Deus bendirá o seu povo e lhe dirá: Cresça e se multiplique.
 
Mas antes desta época, os formigueiros do norte devem renovar a terra uma segunda vez; porque a forma da nossa sociedade já está ultrapassada, e sua alma deve passar a povos novos.
 
Então tudo se constituirá segundo a lei da unidade.
 
Foi dito aos pobres: “Destruam os ricos”. E aos escravos: “Degolem os tiranos, porque os ricos e os tiranos devem perecer”.
 
Mas os que roubam os ricos se tornam ricos por sua vez. Os escravos se tornam tiranos, e encontram a sua punição na sua vitória.
 
O espírito da liberdade salva os homens que têm inteligência e amor ao sacrificá-los, e prepara uma armadilha para os homens egoístas, dedicados à rapina.
 
Ladrões contra ladrões, assassinos contra assassinos; que eles ataquem uns aos outros, que batam, que degolem-se e se destrocem uns aos outros.
 
Os seres humanos do futuro estão no campo de batalha como os soldados de Gideão [3]; eles destroem suas vidas como cântaros de barro, e erguem em suas mãos tochas acesas, e fazem soar as trombetas.
 
Eles não usarão a espada. A sua palavra será suficiente, e os [inimigos] midianitas matarão uns aos outros.
 
Anjos da guerra e da morte, voem sobre os terrenos tomados pelo fogo e anunciem à terra a queda da grande Babilônia!
 
Aqui está a solução do problema dos nomes, e a demonstração eterna da unidade.
 
Um povo, um Deus, uma Lei, um rei.
 
E Deus será o povo, e a Lei será Deus, e o rei será a lei.
 
A justiça e a paz reinarão entre todos; e ambas terão por intérprete, ajudado por um conselho de sábios, um servidor do povo, guardião dos tesouros do Estado.
 
Os tesouros do Estado serão a sabedoria e o amor. O ouro será usado apenas para fazer estátuas em homenagem aos grandes homens.
 
O rei será um homem condenado a sofrer, que se sacrificará por todos. Ele desejará ser libertado deste peso, e não terá outra ambição além do amor dos seres humanos.
 
A palavra do rei será a palavra da lei; e ela será justa como a balança, e cortante como a espada.
 
Porque o rei será o representante do povo, e só povo será o monarca e o supremo pontífice. O homem viverá e reinará imortal; e este será o homem-deus, o povo-Cristo, o Verbo encarnado.
 
E o Cristo, transformado em povo, colocará o mundo nas mãos do seu pai, e sentará à direita de Deus.
 
E o seu reino não terá fim. Amém.
 
2. O Templo
 
Quando o espírito for revelado, toda a trindade se revelará em sua glória.
 
A humanidade terá a graça da infância, o vigor da juventude e a sabedoria da idade madura.
 
Todas as formas que revestiram sucessivamente o pensamento divino renascerão perfeitas e imortais.
 
Todos os esboços produzidos pela arte das nações ao longo do tempo se reunirão e formarão a imagem completa de Deus.
 
Jerusalém reconstruirá o templo de Jeová seguindo o modelo profetizado por Ezequiel; e o Cristo, novo e eterno Salomão, nele cantará – entre paredes de cedro e cipreste – as suas núpcias com a esposa do cântico.
 
Mas Jeová terá deixado a um lado o seu raio, para bendizer com as duas mãos o noivo e a noiva; ele aparecerá sorridente entre os dois esposos, e estará feliz por ser chamado de pai.
 
No entanto a poesia do Oriente, com suas lembranças mágicas, o chamará ainda de Brahma e de Júpiter. A Índia ensinará em nossos climas encantados as fábulas maravilhosas de Vishnu, e nos mostrará, diante do rosto ainda ensanguentado de nosso amado Cristo, a tríplice coroa de pérolas da Trimurti [4] mística. Vênus, purificada, sob o véu de Maria, já não chorará por Adônis; o Esposo ressuscitou para não mais morrer, e o javali infernal [5] encontrou a morte em sua vitória passageira.
 
Reergam-se, templos de Delfos e de Éfeso; o Deus da luz e das artes tornou-se o Deus do mundo, e o Verbo de Deus bem pode ser chamado pelo nome de Apolo! Diana [a lua] já não reinará como viúva nos campos solitários da noite. A sua crescente prateada está agora aos pés do seu esposo.
 
Mas Diana não é vencida por Vênus. Seu Endimião acaba de se despertar, e a virgindade se orgulha porque em breve será mãe.
 
Sai da tua tumba, ó Fídias, e reconcilia-te com a destruição de teu Júpiter [6]; é agora que tu terás, como filho, um Deus.
 
Ó Roma! Que os teus templos se ergam ao lado de tuas basílicas; que sejas ainda a rainha do mundo e o panteão das nações; que Virgílio seja coroado no Capitólio pela mão de São Pedro, e que o Olimpo e o Carmelo unam as suas divindades sob o pincel de Rafael.
 
Transfigurem-se, antigas catedrais de nossos pais; lancem, até as nuvens, suas flechas buriladas e vivas, que a pedra revela em figuras animadas; as sombrias lendas do Norte tornaram-se alegres graças aos apólogos dourados e maravilhosos do Alcorão.
 
Que o Oriente adore Jesus Cristo em suas mesquitas, e que, sob os minaretes de uma nova Santa Sofia, a cruz se eleve em meio à crescente! [7]
 
Que Maomé liberte a mulher, para dar ao verdadeiro crente a mulher ideal com que ele tanto sonha; e que Cristo se liberte de sua longa solidão entre os anjos de Maomé.
 
Toda a terra, revestida dos ornamentos que as diversas artes produziram, será um templo magnífico, do qual o ser humano será o eterno sacerdote.
 
Tudo aquilo que foi verdadeiro, tudo aquilo que foi belo, tudo aquilo que foi agradável, nos séculos anteriores, reviverá gloriosamente nesta transfiguração do mundo. E a forma será inseparável da ideia, assim como o corpo será, um dia, inseparável da alma. Quando a alma tiver desenvolvido todo o seu poder, ela fará um corpo à sua imagem. [8]
 
Este será o reino do céu sobre a terra; e os corpos serão os templos das almas, assim como o universo, regenerado, será o templo de Deus.
 
E os corpos e as almas, e a forma e o pensamento, e o universo inteiro, serão Deus.
 
Amém, amém, amém.
 
NOTAS:
 
[1] Veja o livro “La Bible de la Liberté” no website da biblioteca nacional da França: http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k117377b/f5.image. (CCA)
 
[2] A Carta 88 de “Cartas dos Mahatmas” está publicada em nossos websites associados sob o título “Mestres Ensinam Que Não Há Deus”. Consta como nome de autor “Um Mahatma dos Himalaias”. (CCA)
 
[3] A história de Gideão está contada o Antigo Testamento, em “Juízes”, capítulos 6 a 8. Veja este episódio específico em Juízes, 7: 19-23. (CCA)
 
[4] Trimurti: a Trindade da religião hindu, Brahma, Vishnu e Shiva. (CCA)
 
[5] Na lenda de Vênus e Adônis, um javali selvagem mata o esposo de Vênus, durante uma caçada. (CCA)
 
[6] A estátua de Júpiter feita por Fídias era considerada a mais perfeita realização da escultura grega, segundo afirma Thomas Bulfinch em “O Livro de Ouro da Mitologia”, Edições de Ouro, RJ, 1998, p. 356. (CCA)
 
[7] A crescente é o símbolo do Islamismo. (CCA)
 
[8] A obra “A Doutrina Secreta”, de H. P. Blavatsky, explica que futuras raças-raízes da nossa humanidade já não necessitarão corpos físicos. Assim, pode-se dizer que então os corpos serão feitos “segundo a imagem da alma”. (CCA)
 
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida. 
 
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