Nada Está Destituído de Vida ou Inteligência
Carlos Cardoso Aveline
A psicologia “moderna” mantém uma triste ilusão antropocêntrica: a ilusão segundo a qual o ser humano é dono exclusivo da consciência.
Assim como outras áreas de conhecimento científico, a psicologia convencional parte da premissa de que o universo é inconsciente. Ela pensa que o reino vegetal também não tem consciência. Ela vai além e considera que o mundo animal é inconsciente, e que o próprio ser humano é, amplamente, governado por algo que ela insiste em chamar de “inconsciente”.
O que vemos nesta situação é uma forma estreita de consciência imaginando que só ela própria é consciência, e que tudo o mais no universo é destituído de inteligência. A arrogância coletiva – neste caso como em outras situações – é diretamente proporcional à ignorância.
Em “A Doutrina Secreta”, Helena P. Blavatsky escreveu:
“Há uma só Onisciência e Inteligência indivisível e absoluta no Universo, e ela vibra por todos os átomos e em cada ponto infinitesimal de todo o Cosmos…”.
Poucas linhas mais abaixo ela acrescentou:
“A ordem inteira da natureza mostra uma marcha progressiva na direção de uma vida mais elevada. Há um desígnio na ação das forças aparentemente mais cegas. Todo o processo da evolução, com suas intermináveis adaptações, é uma prova disso. As leis imutáveis que eliminam as espécies fracas e débeis, abrindo espaço para as fortes, e que asseguram ‘a sobrevivência dos mais adaptados’, embora sejam tão cruéis na sua ação imediata – estão todas trabalhando para a grande meta. O mero fato de que as adaptações ocorrem, de que os mais adaptados sobrevivem na luta pela existência, mostra que aquilo que se chama de ‘Natureza inconsciente’ é na realidade um agregado de forças manipuladas por seres semi-inteligentes (Elementais) guiadas por Espíritos Planetários Elevados (Dhyan Chohans), cujo agregado coletivo forma o verbum manifestado do LOGOS imanifestado, e constitui ao mesmo tempo a MENTE do Universo e a sua imutável LEI.” [1]
E H.P. Blavatsky acrescenta, na edição original da obra, a seguinte nota de rodapé:
“A Natureza tomada em seu sentido abstrato não pode ser ‘inconsciente’, porque é a emanação, e portanto um aspecto (no plano manifestado) da consciência ABSOLUTA. Onde está o indivíduo suficientemente audaz para pretender negar à vegetação e mesmo aos minerais uma consciência própria deles? Tudo o que ele pode dizer é que esta consciência está além da sua compreensão.”
Segundo a teosofia, portanto, não há matéria morta no universo, e a consciência cósmica permeia tudo o que existe. Em seu livro “A Lei do Triunfo”, Napoleon Hill escreveu sobre a inteligência presente em cada célula orgânica:
“As células de toda vegetação, bem como as da vida animal, são dotadas de um elevado grau de inteligência.”
Em seguida, Hill menciona o impacto positivo ou negativo da nossa alimentação sobre a inteligência celular do nosso corpo:
“Pelo fato de que muitas formas animais (inclusive o homem) vivem de devorar os animais menores e mais fracos, a ‘inteligência celular’ desses animais que entram no homem e se tornam parte dele traz consigo o medo nascido da experiência de ter sido comida viva.” [2]
Da mesma forma, a literatura teosófica ensina que comer carne – isto é, devorar cadáveres de animais – é algo que embrutece o ser humano; e este embrutecimento começa pelo nível da inteligência celular.
Napoleon Hill aborda a interação entre as emoções e os órgãos digestivos do ser humano:
“Sabe-se que os aborrecimentos, as emoções ou os temores interferem com o processo digestivo e, em casos extremos, detêm inteiramente este processo (…..). É claro, pois, que o espírito tem parte importante na química da digestão e da distribuição dos alimentos”.[3]
Napoleon Hill discute a relação entre o estado de espírito do indivíduo e a inteligência celular do seu corpo físico:
“A preguiça não é mais do que o resultado da ação de uma mente pouco ativa sobre as células do corpo. (…..) As células agem de acordo com o estado mental, exatamente da mesma maneira como os habitantes de uma cidade agem de acordo com a psicologia da massa que a domina. Se um grupo de cidadãos eminentes procura fazer com que a cidade adquira a reputação de ‘progressista’, esta ação influencia a todos os que ali vivem. O mesmo princípio se aplica às relações entre a mente e o corpo. Uma mente ativa e dinâmica conserva as células do corpo em constante estado de atividade.” [4]
E ainda:
“Os pensamentos dominantes na nossa mente – ou seja, os mais frequentes e profundos pensamentos que nos vêm – influenciam a ação do nosso corpo. Cada pensamento posto em ação pelo cérebro atinge e influencia todas as células do corpo.” [5]
Não existem, portanto, coisas ou seres inconscientes. Existem apenas seres e objetos cuja consciência nós ainda somos incapazes de perceber. Em algum momento, a psicologia convencional terá que adequar-se à verdade dos fatos e ir além da pretensão segundo a qual a única forma existente de consciência é a consciência verbal do hemisfério cerebral esquerdo do ser humano, aquela consciência que rotula e classifica, e que julga o futuro com base no passado.
Na verdade, toda natureza é consciente, embora nem todos os seres tenham a consciência individualizada, ou percepção autoconsciente. Além disso, é importante saber que a percepção autoconsciente – de acordo com a filosofia esotérica – é também uma forma de ilusão, de maya. Para que se alcance a sabedoria, ela deve ser transcendida, ao mesmo tempo que é preservada como instrumento.
O hemisfério cerebral esquerdo é útil, mas as inteligências das outras áreas cerebrais também devem ser usadas.
NOTAS:
[1] “A Doutrina Secreta”, Helena P. Blavatsky, edição da Loja Independente de Teosofistas, pp. 295-296. Na edição em inglês, volume I, pp. 277-278.
[2] “A Lei do Triunfo”, de Napoleon Hill, José Olympio Editora, RJ, 18ª Edição, 1997, 736 pp., ver p. 132.
[3] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 58.
[4] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 609.
[5] “A Lei do Triunfo”, obra citada, p. 614.
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Publicado pela primeira vez na edição de agosto de 2009 de “O Teosofista”, o texto acima foi atualizado pelo autor em agosto de 2021.
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Sobre a inexistência do chamado “inconsciente”, veja o artigo “Informe Sobre Jung e a Teosofia”.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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