A Paz da Beleza Silenciosa, da
Bondade Severa, da Grandeza Humilde
Ivan A. Il’in
Quando vejo montanhas cobertas de neve à distância e apontando na direção das nuvens, o meu coração treme com um contentamento inesperado. Antigas memórias silenciadas despertam dentro de mim como se eu já tivesse contemplado estas imagens em algum tempo passado, e tivesse sempre sentido a falta delas desde então; como se a mais sagrada e extraordinária das promessas estivesse sendo cumprida agora.
Sinto uma espécie de assombro. Fico perplexo. Não sei se devo acreditar nesta visão: este choro diante do céu é tão leve, e tão ousado. São suaves, ilusórias, as linhas limítrofes. E são poderosas as massas de terra ocultas dentro dos contornos. Vejo a terra erguendo-se até o céu. Vejo os céus abraçando-a, vejo como a Terra fica perdida no céu à medida que eles se fundem. Será possível que a própria Terra se torne parte dos céus? Não será um sonho isso? Ou talvez esta visão seja a verdadeira realidade, e a existência externa de todos os dias seja apenas um sonho pesado e denso?
De onde vem este tremor abençoado, este sentimento de chegar à minha terra natal?
É como se este esplendor que brilha de longe, este futuro prometido, tivesse surgido do meu passado mais íntimo, da minha existência antes da criação do tempo. Será a minha alma talvez tão “antiga dos dias” que eu estava de fato presente durante a formação dos mundos? Ou estas montanhas distantes narram outra vez para mim aquilo que fui, aquilo que sou, o que serei – e o esplendor que aguarda por mim no futuro?
Visões amáveis, imagens proféticas, sonhos divinos. Mas agora a vista desapareceu. Os fantasmas aéreos foram encobertos pela névoa terrestre e por nuvens celestes. Só o coração fala para mim, em murmúrios, sobre a possível existência do impossível.
Mais tarde, as montanhas me permitem estar no meio delas. Elas me atraem, deixando calma e serenamente que eu caminhe sobre elas e escale os seus picos íngremes. A calma se transmite delas para mim, e eu subo até uma altitude ainda maior.
Grandeza e Humildade
A beleza silenciosa, a bondade severa, a grandeza humilde; tudo isso combinado é como um hino eterno. Constitui um reino de sinfonias sem som.
O indivíduo ergue-se e escuta este silêncio. E aprende a preservar um casto silêncio nas esferas mais elevadas da vida. Aprende a observar sua própria dignidade, sem fazer qualquer pedido, e compreende que a verdadeira grandeza tem a forma externa da humildade. Nenhum ruído é necessário na batalha para conquistar os céus, na subida até Deus [1]; é suficiente que a vida do indivíduo se torne uma oração silenciosa; e sua existência se elevará em admiração e agradecimento.
NOTA:
[1] Em teosofia, a palavra “Deus” não é um conceito monoteísta, e pode significar o eu superior do ser humano, a lei universal, ou as inteligências divinas coletivas que governam os vários aspectos do cosmos. (CCA)
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O artigo “Um Filósofo Entre as Montanhas” está disponível como item independente nos websites associados desde 04 de janeiro de 2023. Foi traduzido por CCA do livro “The Singing Heart”, de Ivan Ilyin (ou Ivan A. Il’in). O volume foi publicado pela Orthodox Christian Translation Society, OCTS, EUA, 2016, e possui 190 páginas; ver pp. 108-109 e 111, sendo que o fragmento final, “Grandeza e Humildade”, está na p. 111. A maior parte do texto acima faz parte, também, da edição de maio de 2017 de “O Teosofista”, pp. 7-8, e p. 4.
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Leia mais:
* A seção temática A Rússia, a Teosofia e Helena P. Blavatsky.
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.
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