Grupos Teosóficos Devem Abençoar
A Quem Ingressa Neles, e a Quem Sai
Carlos Cardoso Aveline
Algumas associações do movimento esotérico promovem a ilusão de que são perfeitas. Sugerem a seus membros que aderir a elas e obedecer a seus líderes é garantia de êxito espiritual, enquanto afastar-se delas seria um absurdo, um fracasso e uma derrota.
É comum neste caso a prática de uma chantagem sutilmente grosseira, que afirma, nas entrelinhas:
“Enquanto você nos apoiar, você é ótimo. Se deixar de fazê-lo, será visto como alguém que perdeu todo o bom senso.”
Quando ocorre este tipo de chantagem “espiritual”, temos um sinal seguro de que o grupo funciona de modo sectário e impede o crescimento real das pessoas.
Um respeitoso desapego é o enfoque correto em relação às pessoas que entram em uma associação teosófica ou assumem um compromisso com o Caminho e, mais tarde, perdem a motivação.
Um grupo bem informado zelará para que aquele que não percebe estar sendo beneficiado pelo trabalho altruísta repense a sua relação com o esforço comum. Por mais que alguém auxilie o esforço teosófico, deve ter uma noção cabal de que, no plano interno, é o primeiro a ser ajudado. Deve saber que ao ajudar, somos beneficiados.
O indivíduo tem o direito e o dever de fazer críticas fundamentadas e sinceras em relação aos erros que vê na agrupação. O diálogo nestes casos é sempre revelador. Se alguém sente que o trabalho nobre não lhe é benéfico, deve ter a autoestima necessária para afastar-se do empreendimento.
Quem renuncia ao trabalho ao sentir que não tem afinidade merece o agradecimento sincero dos que ficam. Afinal, foi honesto. O compromisso assumido perdeu validade. Não há por que agarrar-se à letra morta. Toda decisão espiritual verdadeira é feita sobretudo com sua própria consciência. Os colegas podem ser testemunhas, podem partilhar pontos de vista, mas devem respeitar aquele que se afasta.
Quando a interação de alguém com a teosofia tem importância limitada em sua vida ou dura pouco tempo, não há nisso fracasso. A interação breve ou pouco intensa terá consequências benéficas, embora talvez invisíveis.
Aquele que se afasta do grupo deve receber no plano do pensamento os bons votos de todos que permanecem. Isso é seu direito. Esse fato deixa livres de um peso desnecessário aqueles para quem a teosofia constitui uma bênção de longo prazo.
É uma ilusão egocêntrica pensar que aquele se afasta fracassou no Caminho. O grupo precisa aceitar suas perdas e vivê-las com um espírito generoso, para que os ganhos futuros sejam merecidos. Um laço de amizade e boa vontade incondicional prossegue indelével, na medida em que o afastamento é feito de boa-fé.
Por outro lado, o afastamento é também algo que tem consequências sérias. Se alguém cria uma relação magnética de afinidade com uma proposta específica do movimento teosófico e depois a rompe, deve saber que o processo não é sempre agradável, e que reconstituí-la não será necessariamente fácil, a menos que dois fatores estejam presentes:
1) Uma compreensão e superação das causas do afastamento; e
2) Uma firmeza realista e durável na decisão de reaproximar-se.
Os teosofistas agradecem a quem se afasta pelo tempo em que interagiu positivamente com o esforço. Cumprimentam-no por seguir sua própria consciência e por ser autorresponsável. Deste modo é protegido o caráter superior, altruísta e impessoal do magnetismo compartilhado pelos colegas de Caminhada.
As portas do movimento esotérico bem orientado permanecem abertas para os amigos que saem e para os amigos que entram. Aquele que ingressa deve saber que terá sempre a liberdade de afastar-se sem ser visto como um fracasso, mas recebendo um agradecimento.
É um dever do movimento oferecer desde o início às pessoas que ingressam a quantidade certa de compromisso, conforme a capacidade que elas têm de absorver teosofia na atual encarnação, e dentro das limitações e talentos da associação teosófica específica.
O movimento voltado para a fraternidade universal é um centro de produção de energia positiva. Cada um tem o privilégio de aprimorar constantemente sua capacidade de compreender, desarticular e transmutar negatividades, emitindo a energia construtiva da confiança na vida.
O entusiasmo no trabalho depende tanto de humildade quanto de autoconfiança. Precisa ser observado com bom senso, enquanto produz uma secreta bem-aventurança interior, incondicional, que um olhar desatento não percebe.
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Veja em nossos websites os artigos “Pledges in Theosophy, Real and Phony” e “Whether Crosbie Broke His Vows”.
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
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