Os Veículos Através dos Quais se Manifesta
a Centelha Divina Latente em Cada um de Nós
Raymundo Pinto Seidl
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Nota Editorial de 2017:
O texto a seguir transcreve o trabalho
lido em 21 de abril de 1913 na loja
teosófica Perseverança, do Rio de Janeiro.
Foi publicado pela primeira vez na edição
de maio de 1913 da revista “O Theosophista”,
pp. 29-30. A ortografia foi atualizada.
(CCA)
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Meus irmãos,
Quando o nosso bom irmão presidente me designou para, juntamente com o caro irmão Permínio, discorrer sobre o assunto escolhido para estudo da sessão de hoje, confesso, o meu primeiro impulso foi o de me eximir, de uma forma qualquer, dessa incumbência. Tanto a dificuldade do tema, como o reconhecimento da minha incapacidade a isso me aconselhavam.
Felizmente, o sentimento do dever venceu a minha hesitação. Lembrei-me do fim que tivemos em vista fundando esta Loja – o de estudar e difundir as consoladoras doutrinas teosóficas – e pareceu-me uma deserção ao dever de membro da Sociedade Teosófica o me escusar da obrigação de contribuir com o meu esforço, embora desautorizado e incompetente, para o estudo dos ensinamentos dos nossos Mestres Venerados.
Outra razão ainda preponderou em meu espírito, para não me furtar a esse imperioso dever: tendo, durante três anos, dirigido mal os trabalhos desta loja, sinto-me obrigado a concorrer com o mais vivo esforço do sentido da melhor orientação dada em boa hora aos nossos estudos.
Que os Mestres Misericordiosos me auxiliem!
As palavras que ides ouvir eu as digo como se estivesse pensando alto. Somos todos partículas do mesmo Todo; os raciocínios que me surgirem à mente, os aspectos com que eu encarar o tema, não serão, por isso, ditos para vos convencer, mas para nos convencer.
As personalidades que nesta existência servem de veículo ao Ego Superior que constitui o nosso verdadeiro Ser, eu as esqueço neste momento, e falo como se só a mim mesmo falasse.
Em primeiro lugar, veremos em que consiste a virtude da Fé intuitiva; e, depois, como se poderá adquirir essa virtude.
A Fé pode ser definida como um impulso que nos leva a crer em uma dada afirmação.
Pode apresentar-se de dois modos: passivamente e ativamente.
A Fé se manifesta passivamente quando sem raciocinar aceitamos uma afirmação qualquer. É própria dos seres ainda no início da evolução no reino humano.
A Fé se manifesta ativamente quando o impulso que nos leva a crer em uma afirmação qualquer atua sobre nós mediante raciocínios decorrentes do conhecimento de fatos análogos aos expostos na afirmação feita. É apanágio dos seres que já conseguiram galgar um degrau relativamente elevado da evolução no reino humano, dos seres que, em verdade merecem o nome de homem, palavra cuja raiz sânscrita significa pensar.
Conforme o seu campo de ação e a natureza dos fenômenos ou princípios, a cuja crença nos impulsiona, pode a Fé ser classificada em Fé científica (matemática, em seus diversos aspectos, física, química, mecânica, astronômica, biológica, sociológica,) graças à qual, somos levados, após a observação de fenômenos de natureza análoga, a crer em afirmações concernentes a fatos que os nossos sentidos físicos e o nosso mental inferior podem observar e deduzir; Fé psíquica, que concerne aos fenômenos e fatos do mundo astral; Fé do intelecto superior, que, de certos princípios abstratos já aceitos, nos leva a deduzir e a aceitar princípios análogos de ordem mais elevada, ainda eivados, porém, do espírito de separatividade. (Comte, e outros grandes pensadores); Fé intuitiva, graças à qual aceitamos princípios de ordem religiosa e moral, meditando profundamente sobre outros princípios de natureza análoga.
A esses diferentes modos de manifestação da Fé, correspondem degraus cada vez mais elevados na evolução dos veículos, através dos quais se manifesta a centelha divina, latente em cada um de nós.
Como se pode adquirir a virtude da Fé intuitiva? Eis aí o segundo aspecto pelo qual devemos encarar o assunto a estudar.
Meditando sobre a lei da Unidade e vivendo a lei da Fraternidade, que daquela decorre como uma consequência lógica e inevitável; purificando os veículos através dos quais a Mônada divina, nosso verdadeiro Eu, se tem de manifestar nos mundos que habitamos; esforçando-nos por ouvir, a voz de Deus latente em nós [1] e, para isso, fazendo calar as nossas paixões e sopitar o sentimento de separatividade; ou, por outras palavras, desenvolvendo os veículos inferiores do nosso Eu – Consciência, a fim de que, em estado de vigília, possamos receber e perceber a luz provinda do plano búdico, através dos resquícios abertos nos nossos corpos inferiores, pelo esforço titânico do finito em busca do Infinito, do homem em busca de Deus; em resumo, avançando no caminho da Evolução e, para isso, procurando iluminar a nossa razão, fortificar a nossa vontade e purificar o nosso coração.
NOTA:
[1] Conforme Seidl mencionou pouco mais acima, cada ser humano tem em sua alma, latente, uma centelha ou fagulha sagrada das inteligências universais. Em teosofia não há um deus monoteísta, mas uma pluralidade eterna e ilimitada de divindades. (CCA)
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Veja em nossos websites associados, em PDF, o livro “O Duque de Caxias”, de Raymundo Pinto Seidl. Leia também o artigo “General Raymundo Pinto Seidl”, de Aleixo Alves de Souza.
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